O dia e a vez dos suíços ... não por muito tempo

A meu ver, o melhor piloto suíço de todos os tempos foi Jo Siffert. Acho que se não tivesse tido o acidente fatal na Corrida da Vitória em 1971, Siffert poderia ter ganho mais alguns GPs e quem sabe, salvo a BRM da desgraça, pelo menos durante alguns anos. Jo só tinha se encontrado bem com o carro e com a equipe no final da temporada. Cabe lembrar que a BRM sentiu a morte de seu outro grande piloto, Pedro Rodriguez, numa corrida de Interserie. No final da temporada, Siffert-BRM P160 eram uma rápida combinação. Quem sabe, poderia ter sido um dos maiores oponentes de Emerson em 1972, e impedido Louis Stanley de fazer as loucuras realizadas com a equipe com dinheiro da Marlboro.

Quis o destino, entretanto, que o primeiro - até hoje único - piloto suíço a ter uma grande oportunidade de ganhar o mundial de pilotos tenha sido Clay Regazzoni. Siffert e Regazzoni eram conterrâneos, porém, farinhas de diferentes sacos. Siffert vinha da Suíça francesa, enquanto Rega nascera em Lugano, cidade fronteiriça, com a Itália, na realidade, mais italiana do que Suíça. Siffert era paciente e metódico, Regazzoni um pouco estabanado. Ambos rápidos.

Na final da F1 de 1974, lá estava Clay co-liderando o Mundial de Pilotos, com Emerson Fittipaldi. Clay liderou o campeonato já na segunda prova, ganhara somente um GP mas marcara muitos pontos. Sem dúvida, a Ferrari tinha mais carro, porém, Emerson era melhor piloto. Ainda assim, esperava-se uma grande luta entre os dois rivais, que acabou não ocorrendo. Isto levou a "n" teorias conspiratórias, entre outras, de que a própria Ferrari teria boicotado Clay, porque queriam que o primeiro campeão da Ferrari desde 1964 fosse Niki Lauda, e não Regazzoni. Acho um pouco difícil de engolir essa teoria, porém, Clay realmente não pilotou como se estivesse batalhando por um título mundial e algo estranho ocorreu.

Curiosamente, anos mais tarde um outro brasileiro ganhou um mundial de F1 em condições análogas. Nelson Piquet era melhor piloto, porém, o Williams ainda era o melhor carro, e Carlos Reutemann tinha liderado grande parte do campeonato. Chegando na final, o argentino simplesmente apagou, e o Brasil voltava a ganhar um título na F1.

Voltando a 74, Regazzoni, por bem, por mal, acabou vice-campeão. A Suíça, país onde não se realizavam corridas de circuito ou rua (só subidas de montanha) desde 1955, tinha o vice-campeão do Mundo.

Sempre achei curioso como a vitória, ou mesmo segundo lugar num campeonato de F1, obtido por um piloto de certo país, motiva seus conterrâneos a melhorar seu desempenho no ano seguinte. Com uma pitada de irracionalidade, portas se abrem para os mesmos, nunca dantes abertas, como se talento e desempenho fossem contagiosos.

Na F1, Regazzoni continuou reinando absoluto entre os suíços até 1980. A curiosidade helvética  aconteceu na primeira corrida do Europeu de F2 de 1975, realizada no autódromo do Estoril, em Portugal.   Dois até então obscuros suíços simplesmente tiveram um desempenho excepcional. Loris Kessel liderou grande parte da corrida, terminou abandonando, mas em segundo lugar chegou Jo Vonlanthen. Amboas correndo com fracos esquemas particulares, nada de equipes de fábrica ou coisa parecida. Quem diria, pilotos suíços dominando as manchetes nos dois lados do oceano!

Infelizmente para Kessel e Vonlanthen a corrida do Estoril foi a primeira e última em que pintaram como pilotos de ponta na F2. Os dois acabariam chegando na F1, inclusive Kessel chegou a tentar construir um carro próprio, o Apollon baseado num Williams antigo. Depois de tentar a sorte no GP da Áustria de 1975, Vonlanthen voltou para a F2, com péssimos resultados, eventualmente desapareceu do cenário.

Já Kessel correu seis vezes na F1, notavelmente com um Brabham BT44 da Equipe RAM. Não fez muita coisa. Porém, teve bastante sucesso no mundo dos negócios, sendo proprietário de diversas concessionárias, e continuou a correr depois da sua passagem na F1, voltando inicialmente à F2, e depois pilotando carros esporte e GT, categorias nas quais chegou a obter vitórias, a última delas em 2006. Morreu em 2010.

Infelizmente a pipa dos suíços caiu rapidamente.

Agradecimentos a Sal Chiapetta por sua dica.

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