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Mostrando postagens de abril, 2018

O assassino

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Na história do automobilismo, nem todos carros envolvidos em acidentes fatais foram descartados. De fato, muitos acidentes causavam muito mais danos nos pilotos do que nos carros, principalmente nos antanhos. Mas o Ford V8 de Irineu Correa, de 1935, deve ser um recordista mundial de morbidez. Esse não foi o carro usado por Correa para ganhar a Gávea em 1934. Era um carro novo, e um dos favoritos para ganhar a prova. Irineu, antes de iniciar a prova, declarava que a morte estava em toda parte no Trampolim do Diabo. Mal sabia ele. Logo no início da prova, Irineu derrapou e deu uma trombada numa árvore, caiu num canal. Morreu. O carro foi recuperado, e inscrito na mesma corrida da Gávea, em 1937, por Diogo Palombo. Desta vez o alvo foi um poste, durante treinos, e o resultado, o mesmo. Morte para Palombo. Em 1938, o carro, devidamente restaurado, fez outra vítima - José Bernardo bateu em um barranco e morreu dos ferimentos. Depois desse, acho que ninguém pensou em recupera

Yo no creo en brujas pero que las hay, las hay

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Este é um post daqueles bem esquisitos, que envolve dois personagens, um sueco e o outro italiano, uma pista italiana, uma equipe inglesa com motores alemães. Mas, por que incrível que pareça, tem um ângulo bem brasileiro. Foi publicada uma entrevista do Stefan Johannson na excelente Motor Sport, uma revista que é um prazer ler, principalmente agora, com o Nigel Roebuck às rédeas. No final da entrevista, Stefan conta uma história sobre o Elio di Angelis. Elio disse que tinha comprado uma pulseira "Goddess of Bahia" no Rio de Janeiro, que presumo, era uma fitinha do Bomfim. Em Paul Ricard, França, Stefan perguntou a Elio se o seu desejo tinha se realizado, notando que ainda estava usando a pulseira brasileira. Elio disse que não, que a tal pulseira não funcionava, arrancou e jogou-a fora. Saiu com o carro em seguida, acidentou-se e morreu. Tirem as conclusões que quiserem. Quem narrou a história foi o Johansson, que era um grande amigo do Elio. Disse Ste

O dia dos Kiwis

POST DE 2011 Hoje em dia, não fosse por Scott Dixon da IRL, o automobilismo neozelandês estaria roubado. Houve época, entretanto, que os Kiwis brilhavam. É possível dizer que seu dia mais brilhante se deu no principado de Monaco, em 1967. Naquele dia, os três pilotos neozelandeses presentes na corrida chegaram em primeiro, terceiro e quarto, todos quebrando marcos individuais. O primeiro colocado foi Denny Hulme, que ganhava seu primeiro grande prêmio, decisivo para a conquista do título mundial daquele ano. O terceiro foi Chris Amon, que obtinha seus primeiros pontos na Ferrari e seu primeiro pódium na F1, provando que tinha condições de assumir liderança da equipe, por razões que veremos a seguir. O quarto foi Bruce McLaren que assim obtinha a melhor colocação da sua jovem equipe. Mais importante ainda, nas outras vezes em que pontuou com o McLaren, em 1966, Bruce tinha sobrevivido com o durável, porém impotente motor Serenissima. Naquela corrida de Monaco, Bruce consegu

Corrida é cultura, ou questões fracionárias

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Houve época - nos anos 50 - quando marcar a volta mais rápida em uma corrida dava ao autor do feito um ponto. Acho que a prática deveria voltar. Não somente um ponto para a volta mais rápida, como outro para a pole. No caso das voltas mais rápidas, algumas figuras como Brian Henton teriam obtido pelo menos um ponto na F1. Por outro lado, o Schumi teria acumulado um grande saco de pontos, com as suas múltiplas dúzias de poles e voltas mais rápidas. E esses pontos poderiam ter mudado os resultados de alguns campeonatos, principalmente nas guerras entre Prost e Senna. O problema - se é que podemos chamar isso de problema, num mundo cheio de crimes, tornados e terremotos - é que esse ponto devia ser dividido, se mais do que um piloto igualasse a marca. Os cronômetros dos anos 50 estavam longe de ser tão precisos quanto os de hoje em dia. Também não existiam células foto-elétricas ou transponders. Ainda assim, geralmente só um piloto levava o pontinho para casa. Só que, por

Quem inventou os monomarcas?

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Conheço algumas pessoas que se conhecessem o inventor dos torneios monomarca, certamente daria uns sopapos no pobre coitado. Não sei qual foi a primeira corrida (ou torneio) monomarca realizado intencionalmente até hoje. Digo intencionalmente por que, aqui e ali, pode ter ocorrido alguma corridinha nos anos 20 e 30 só com Bugattis, mas isso não teria sido intencional. Entretanto, a corrida narrada neste post, se não foi a primeira, provavelmente foi uma das primeiras tentativas de realizar um campeonato e corrida monomarca no mundo. O local e a época não poderiam ser mais esdrúxulos. Hoje já estamos nos acostumando com corridas na Indonésia, Malásia, China, e até a Índia entrará no circuito dos GPs. Mas no periodo logo após a Segunda Guerra Mundial, realizar corridas em locais que não fosse o oeste da Europa ou os EUA pareceria loucura. Que tal África? Não que não ocorressem corridas no continente. Um dos mais famosos GPs dos anos 30 foi o de Trípoli, na Líbia, e até mesmo a Á

Inimaginável hoje

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Imagine isso. Um país com dois dos melhores pilotos do mundo na época. Um deles já três vezes campeão mundial, o outro, ex vice-campeão. Os dois, ultra-profissionais, correndo para as duas melhores equipes do mundo na época. Num GP no seu próprio país, quase dá zebra. Um conterrâneo, sem muito pedigrê e ainda por cima, diletante, consegue liderar mais da metade da corrida, seu terceiro GP, até que o câmbio o deixa na mão. Pois aconteceu, mais precisamente na Argentina, em 1956. Os dois feras, ultra-profissionais eram Fangio e Gonzalez, o primeiro estreando na Ferrari (na realidade, uma Lancia adaptada) e o segundo pilotando Maserati. O estreante audaz, Carlos Menditeguy, que durante 38 gloriosas voltas liderou o GP do seu país, com diversos pilotos de valor na pista, Moss, Castelloti, Collins, Musso, Hawthorn, Behra. E Fangio/Gonzalez? Pois bem, Menditeguy não os humilhou tanto assim. Os dois argentinos foram os dois primeiros a abandonar a prova, Fangio na 22a. volta, e Froilan

Verdades, armações, sabe-se lá

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No automobilismo, há cenas peculiares que nunca foram devidamente registradas ou documentadas, outras sim. Algumas hilárias, outras tantas trágicas e tristes. Algumas já são tão antigas que é impossível saber se realmente aconteceram, ou se são foram mera armação de um grande gozador. Dizem que Jules Goux, vencedor de Indianapolis em 1913, parou nos boxes para tomar uma champanhota no meio da corrida. Já Inácio Terrana, que costumava passear por Interlagos com seu Simca fazendo tempos superiores a 5 minutos por volta, em vez de usar os boxes para abastecer seu carro em corridas de longa duração, saía do autódromo, e colocava gasosa num posto próximo, voltava com a maior calma para "correr". Dizem que um dos Opalas que participou da primeira prova de Stockcar em Cascavel era tão standard que tinha até ar condicionado. Resta saber se foi usado pelo piloto durante a corrida. Já um piloto folgado de Brasilia corria em seu DKW curtindo um cigarrinho. Hoje tudo é tão mais pr

Como o mundo é pequeno ou uma inauguração curiosa

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Não sei se já contei sobre meus times de botão. Pois bem, qualquer criança normal - e eu não era, e ainda não sou - batizaria seus times com nomes e escudinhos de times de futebol existentes, como Santos, Corinthians, Palmeiras. Mas não eu. Alguém me deu umas figurinhas adesivas com brasões, cuja procedência ignorava, e eu os achava maravilhosos. Assim, batizei meus times com nomes tirados de quatro brasões, Silkeborg, Lemvig, Zillertal e Torkenstad. Meus times não eram lá grande coisa, perdiam quase sempre, mas o Silkeborg tinha um artilheiro, o Simpático, que na última contagem superava 700 gols. Era um botão daqueles mais humildes e simples, mas por uma razão ou outra, marcava (e perdia) muitos gols. Quem diria que um dia um piloto dinamarquês, o Tom Kristensen, se tornaria o maior vencedor de Le Mans. E um conterrâneo, Jan Magnussen, chegou a ser cogitado como futuro campeão de F1. Mas, segundo seu ex-chefe Jackie Stewart, Jan gostava de um cigarrinho e de uma vodca a mais,

Temporada de 1972, anti-informação - não é de hoje que existe

Tinha uma amiga na faculdade que era metida a saber de tudo. Um dia, descobriu que eu gostava (entendia) de automobilismo, e criou uma enorme celeuma comigo, insistindo que a Lamborghini tinha uma equipe de F-1. Estávamos no começo dos anos 80, os carros da Lamborghini nem eram homologados para corridas, muito menos havia Lamborghinis de F1. Eventualmente, motores Lamborghini equiparam carros d acategoria, houve até um carro chamado Lambo (melhor seria Lambança) e os carros da marca, hoje em mãos da VW, até que se tornaram carros de corrida decentes, além de serem devidamente homologados para as competições. Sei lá, de repente ela era vidente... Fiquei tão assustado com a certeza demonstrada pela Janelle - esse era o nome da minha amiga - que cheguei a duvidar dos meus conhecimentos da história do automobilismo, confesso que na época ainda precários. Escrever sobre a história do automobilismo brasileiro é frequentemente difícil por que a história e as estórias muitas vezes se

Crônicas do além

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A imprensa especializada em automobilismo do Brasil dos anos 60, começo dos anos 70 tinha uma notável característica. Parecia priorizar os não-acontecimentos, em detrimento dos acontecimentos. Assim, uma leitura de revistas e jornais da época nos rende um extenso corolário de estórias, boas (ou más) intenções que nunca sairam do papel, ou quiçás, nunca passaram além de uma conversa de boxes ou oficina, ao passo que corridas que realmente aconteceram caíram no maior ostracismo possível. Já escrevi em detalhes sobre o assunto. Autódromos que nunca foram construídos, participações de brasileiros em Indianapolis e Le Mans, carros que nunca foram importados, e outros que nunca foram construídos, calendários não cumpridos com provas em locais incríveis, sem dizer categorias que nunca foram criadas. São tantas "estórias" que dá para criar um blog especializado, que certamente ganharia um prêmio literário para obras de ficção. Por outro lado, centenas de corridas realizadas