Críticas


Uma vez, durante uma conversa com um ex piloto que esteve na ativa entre as décadas de 60 a 80, este me disse que não se devia criticar nenhum piloto de F1, pois mesmo o pior piloto era melhor que um motorista bom, que dizer dos barbeiros. Acho que no fundo estava querendo dizer que pessoas que nunca pilotaram numa corrida não teriam o direito de criticar nem o pior piloto até hoje, e tinha um pouco de pro bono suo na história, pois não foi um piloto de destaque.
Concordo que até o Gimax e Milka Duno devem pilotar melhor do que eu. Indubitavelmente.

Na minha área de trabalho, ocorre algo similar. Quase toda pessoa que tem domínio de dois idiomas se julga qualificada para traduzir. Imagino que qualquer pessoa que dirige também acha que pode criticar pilotos, meramente por que sabe ligar um carro, e manejá-lo com segurança a 100 km por hora.

Antes que achem que estou me contradizendo, leiam com atenção.

A mesma pessoa que domina dois idiomas pode, de fato, tecer boas críticas sobre um texto traduzido de um idioma para o outro. Isto não significa que tenha a qualificação para fazer a tradução. Certamente, na melhor das hipóteses vai demorar dez vezes mais tempo do que um profissional, e na maioria das vezes, o texto não vai sair tão bom, sequer correto.

Da mesma forma, uma pessoa que nunca pilotou pode, sim, criticar desempenhos de pilotos em corridas. Principalmente na era televisiva, é fácil detectar erros de pilotos. Além disso, a montanha de dados disponíveis também ajuda as mentes mais analíticas a chegar a conclusões corretas.

Posso dizer com segurança que todo piloto que participou de uma corrida no mundo, o fez com muito sacrifício. Primeiramente, financeiro. A maioria dos pilotos financia suas atividades, de uma forma ou outra, principalmente os mais jovens. Depois, tem o sacrifício de tempo. Horas e horas, ás vezes dias e meses, preparando-se para uma corrida - sem ter garantia de que vai passar da primeira volta. Nas provas de longa duração, horas e horas sem dormir. Sacrifício físico e psicológico. Sacrificio político, ter que engolir sapo de donos de equipes, patrocinadores, companheiros, sem contar a imprensa. A grande maioria dos pilotos que participaram de provas até hoje, o fizeram com carros sem condições de ganhar as provas, portanto, já foram sujeitos a um handicap intransponível.

Todos os pilotos merecem nosso respeito por isso.

O que não significa dizer que críticas a pilotagem ou resultados ou carreira não são cabíveis. Não se trata de desrespeito, e sim, história. Até porque, muitas críticas não passam de meros comentários, mas são considerados insultosos, principalmente por egos fracos.

Mesmo os incríveis Fangio, Clark e Nuvolari tiveram seus dias "off". Por exemplo, a meu ver, quem merecia o campeonato de 1956 foi Collins, e quem sabe Moss. O primeiro foi um gentleman, e cedeu seu carro para que o argentino ganhasse o certame e batesse seu conterrâneo. Durante quase a temporada inteira, o grande campeão não foi o mesmo Fangio de 54, 51, 57...

Ninguém gosta de críticas. No caso do piloto, se sente ainda mais injustiçado, e indignado, por causa de todos sacrifícios feitos.

Este é um lado da história. O outro lado é que qualquer coisa que você faz à vista do público, está sujeito a críticas. Qualquer que tenha sido o sacrifício. Quem não quer críticas, que não faça nada público, fique dentro da sua concha.

Um princípio parecido. Se você não está pronto para a resposta, não faça a pergunta.

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