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Mostrando postagens de dezembro, 2014

Teimosos e teimosões

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Estranha a forma como se escreve a história, as magníficas e poéticas analogias, polaridades e similaridades entre eventos. Dá vontade de chorar. Provavelmente o pior carro já fabricado no Brasil foi o Renault Dauphine. Não que o carrinho fosse tão ruim. Simplesmente o veículo construído no Brasil pela Willys-Overland não era suficientemente robusto para as difíceis condições de tráfego da nossa terra. Assim, apesar de ter duas grandes vantagens sobre o Fusca, ser equipado com quatro portas e gastar menos gasolina, o Dauphine perdeu feio na guerra entre os carros pequenos, saindo de linha em 1968 já com nome diferente. O carro simplesmente tinha uma tendência a se desmanchar na Terra Brasilis, mesmo com poucos anos de uso. A Willys até que tentou. Primeiro, elevou um pouquinho a anêmica potência do motor de 850 cc, trocou o nome para Gordini, ex-equipe de Formula 1, e na época um speedshop francês que preparava modelos Renault. Trouxe o Interlagos para o Brasil, na realidade, um A

Adaptações culturais

Morar em Nova York significa, entre outras coisas, comer quantidades industriais de comida chinesa. É mais gostosa lá do que em Hong Kong, não sei no resto da China, por que nunca fui. Em Roosevelt Island, onde morava, havia um restaurante chinês. A comida era gostosa, embora as condições sanitárias fossem potencialmente preocupantes. Por isso mesmo, pedíamos ao telefone, para não ficar com sentimento de culpa. Pedíamos tanto (e quase sempre a mesma coisa) que a moça que atendia já sabia de cor nosso pedido. Frequentemente mudavam os rapazes que entregavam a comida. Um belo dia, me veio um cara fazer a entrega obviamente recém chegado da China. Ele me entregou o pacote com uma mão, e estendeu a outra mão para que eu o cumprimentasse. Achei engraçadinho. Alguém deve ter falado que no ocidente as pessoas dão as mãos para se cumprimentar, e ele adaptou esse dado à entrega de comida chinesa, para entrar na onda e se "aculturar". Que me leva à memória americanos q

Como os tempos mudam

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Não se pode dizer que a temporada europeia de Formula 3 de 1972 foi memorável. Não digo isso por que, pela primeira vez em três anos, não houvera participação de brasileiros. Simplesmente, não foi uma temporada muito interessante. Hoje em dia, de cada temporada de F3, eventualmente 3 ou 4 pilotos chegam a pilotar na F1. Dezenas nunca realizam seu sonho, alguns ficam pela F3 mesmo, onde geralmente acaba o financiamento familiar de carreiras. Outros ainda progridem para a GP2, ou seguem carreira em outras categorias. Entretanto, apesar da temporada fraca, o número de pilotos de F3 que um dia pilotariam (pelo menos tentariam largar num GP) na F1 é imenso. Cabe lembrar que na época, além do campeonato inglês, havia o campeonato italiano, francês, sueco, e alemão. Para começar, os futuros campeões James Hunt, Jody Scheckter e Alan Jones. Três já tinham inclusive tentado a sorte na F1, Ernesto Brambilla, Jean Max e Jean Pierre Jarier.                                        

Críticas

Uma vez, durante uma conversa com um ex piloto que esteve na ativa entre as décadas de 60 a 80, este me disse que não se devia criticar nenhum piloto de F1, pois mesmo o pior piloto era melhor que um motorista bom, que dizer dos barbeiros. Acho que no fundo estava querendo dizer que pessoas que nunca pilotaram numa corrida não teriam o direito de criticar nem o pior piloto até hoje, e tinha um pouco de pro bono suo na história, pois não foi um piloto de destaque. Concordo que até o Gimax e Milka Duno devem pilotar melhor do que eu. Indubitavelmente. Na minha área de trabalho, ocorre algo similar. Quase toda pessoa que tem domínio de dois idiomas se julga qualificada para traduzir. Imagino que qualquer pessoa que dirige também acha que pode criticar pilotos, meramente por que sabe ligar um carro, e manejá-lo com segurança a 100 km por hora. Antes que achem que estou me contradizendo, leiam com atenção. A mesma pessoa que domina dois idiomas pode, de fato, tecer boas críticas s

Os bastidores e as palhaçadas

Um dia desses, assistindo à transmissão da Daytona 500 na Band, o comentarista fez uma curiosa menção sobre informação de bastidores, de informações que nunca chegam aos ouvidos do grande público. Do meio da temporada de F-1 em diante instaura-se a chamada 'Silly Season'. Durante a dita Temporada da Palhaçada, tudo vale. Todo mundo demonstra interesse por todo mundo. A verdade é que quase todo mundo fala com todo mundo. Todos pilotos sem contrato, e muitos COM contrato, falam com todas as equipes, pilotos aspirantes também, até velhos inimigos voltam a se falar, e pilotos aposentados também entram na bagaça. Dentro de muito interesse real, existe muita armação. Pilotos e equipes sâo jogados uns contra os outros. Se Maquiavel estivesse vivo durante as Temporadas da Palhaçada mandava recolher todos exemplares de "O Principe". Dezenas de minutas de contratos são redigidas, propostas são feitas, muitas delas, falsas, apresentadas como meras alavancas para forçar um p

Histórias de Nova York

No começo dos anos 80 trabalhei na Embratur em Nova York. Ossos do ofício, vez por outra aparecia algum figuraço que acabara de descobrir o Brasil, se apaixonara pelo país, e queria fazer uma fundação, escrever um livro, fazer uma festa, programa de TV, uma exposição, enfim, queria divulgar o país a todo custo. Já que estávamos lá para isso, dávamos um cartaz aqui, uns folhetos acolá, emprestávamos uma fitas de videos turísticos caindo aos pedaços e ouvíamos o que os sujeitos tinham a dizer. Apareceu uma vez um empertigado homem com um cartão no qual alegava ser PhD, presidente do Conselho de uma fundação de arte. Tinha um vozeirão daqueles de dar gosto, era todo empombado, metido a besta mesmo. Pois bem, foi lá no escritório algumas vezes, só que nenhum dos seus projetos saía do papel, apesar do timbre que enumerava algumas pessoas importantes no mundo artístico como membros do seu Conselho. Como não era o primeiro nem o último a falar muito e fazer pouco, não fiz muito caso dess

Pioneiro sul-americano

Pergunte a qualquer conhecedor do automobilismo qual foi a nacionalidade do pioneiro sul americano no mundo dos Grandes Prêmios, e provavelmente ouvirá argentino ou brasileiro. Nas minhas pesquisas, surge o nome de um chileno. Pilotos chilenos de grande nível são raros. Em tempos mais recentes, somente Eliseo Salazar conseguiu figurar nas principais categorias do automobilismo. Certamente não é um país com muita tradição automobilística. Assim, é supreendente descobrir que Juan Zanelli, um piloto nascido no Chile em 1906, participou da diversos GPs nos anos 20 e 30. Além disso, Zanelli conseguiu ser campeão europeu de subida da Montanha em 1931, e de fato, ganhou o GP de Penya Rhim de 1933, do qual participaram Nuvolari e Wimile. Continuo a procurar algum outro sul americano nos GPs europeus da época. Verdade que Teffé fez algumas corridas de carros esporte, mas não encontrei nenhuma participação em GPs antes de Zanelli. Zanelli fez parte da Resistência francesa, e morre

A Litherarpia e o conflito de gerações

Ontem escrevi sobre mudanças. Hoje vou continuar um pouco a falar sobre o assunto, de uma forma um pouco diferente. Sob o ângulo do conflito de gerações. Não posso dizer, sem mentir, que o meu pai tinha muita inclinação mecânica. Certamente não tinha, acho até que tinha um pouco de medo de motores. Mas era muito bom com madeira, fazia coisas incríveis com madeira, embora nunca tenha trabalhado nessa área. Vez por outra perturbava-o suficientemente para construir algo para mim. Certamente a Litherarpia foi um desafio para ele. Já devem ter advinhado. Fiz o meu pai construir um kart de madeira, para descer voando a ladeirinha da minha rua. Não duvidem, fez a Litherarpia de madeira. TOTALMENTE de madeira, inclusive os pneus! Sim, havia alguma coisa ou outra de outros materiais, inclusive umas rolimãs dentro do pneu. Definitivamente não queria um carrinho de rolimã queria algo que parecesse com um kart de competição. Não foi o primeiro nem último carro de madeira do mundo.

A última da GTA

Outro dia estava um pouco nostálgico, e entrei num video que achei interessante, do GP da Bélgica de 1970. Logo fiquei triste, por que dos oito pilotos abordados nos momentos iniciais do video, somente Stewart e Amon saíram vivos do esporte. O resto – Rodriguez, Siffert, Rindt, Courage, Peterson, Giunti – morreria em acidentes, e o único do grupo que sobreviveu mais tempo foi Ronnie. Depois acabei achando um video legal sobre a primeira corrida do Campeonato Europeu de Turismo de 1971. As provas de turismo eram bem diferentes na época, com grande diversidade de fabricantes e categorias, além de pilotos conhecidos. A corrida foi um marco divisório nas provas de turismo. Além das Alfas da Autodelta e de particulars com diversas cilindradas, estavam presentes Ford Capri da fábrica, BMWs de diversos tipos (2800, 1600, 2002), as Fiat da Equipe Fillipinetti, liderada por Mike Parkes, um Opel, além de carrões americanos de grande cilindrada, Ford Mustang e Chevrolet Camaro. Os videos d

Nomes

Birabongse Bhanutej Bhanubandh. Mais conhecido como B.Bira, ou Príncipe Bira. Piloto tailândes dos anos 30 a 50, Bira tem o nome mais esquisito e fascinante entre os pilotos de F-1. Também foi o único piloto asiático da F-1 até o Hiroshi Fushida tentar a sorte na categoria com o Maki, em 1975. O assunto deste post é simples. Pilotos com nomes estranhos, extremamente chiques, curiosos, bonitos, ou exóticos. Alguns tiveram muito sucesso, outros não. Vai aqui minha listinha. Sverrir Thorodsson. Piloto islandês de F3 dos anos 60. Alfonso Garcia de Vinuesa. Piloto espanhol de F3000. Spartaco Dini. Piloto italiano de F2, Turismo, Protótipos. Elliot Forbes-Robinson. Piloto americano de Trans-Am, Can-Am, F5000. Ratanakul Prutirat. Outro tailandês, pilotou um Lotus GT nos anos 90. Hakan Dalqvist. Piloto sueco de F-3 dos anos 70. Berco Acherboim. Piloto brasileiro de carros turismo dos anos 60. Aires Bueno Vidal. Piloto brasileiro de carreteras dos anos 60. Wolfgang Von Trips.

Há quarenta anos atrás, o automobilismo brasileiro amadurecia

O conceito de mudança de paradigma é, obviamente, bastante subjetivo. Pode, entretanto, basear-se em fortes evidências. A meu ver, foi em 1972 que o automobilismo brasileiro amadureceu. Alguns podem dizer que nunca amadureceu, outros que o amadurecimento ocorreu em 1971, e outros, que ocorreu mais tarde, mesmo em 1973, ou até décadas depois. Muitos dirão que já apodreceu de vez. É bem verdade que, sob diversas óticas, o nosso automobilismo ainda sofria de diversas deficiências, por exemplo, falta de corridas, falta de autódromos, falta de peças para preparar os carros adequadamente, calendários utópicos, falta de promoção, bagunça, cartolas incompetentes. Que dizer, hoje, com diversos autódromos razoáveis, facilidade de importação de componentes e carros, veículos de categoria internacional, muito patrocínio, e transmissões por TV de muitas categorias, o esporte ainda sofre de muitas deficiências. Portanto, eis as razões pelas quais acho que nosso automobilismo certamente amadu

Rumores e fatos

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O mundo é tão movido por rumores como fatos. Às vezes diria que os rumores contam mais do que os fatos. No meio da temporada de 1975, corria solto na Europa o rumor de que Emerson Fittipaldi se aposentaria da Fórmula 1, na realidade, do automobilismo, no final daquele ano. Provavelmente é a primeira vez que você ouve isso, pois a imprensa brasileira tinha (e alguns dos seus integrantes ainda têm) uma maneira sui generis de cobrir o automobilismo, quase como torcedores em vez de jornalistas objetivos. Concordo, rumores estão longe de ser objetivos, mas o fato é que os rumores existiam, e não se falou desse rumor no Brasil. Emerson era o campeão do mundo reinante em 1975, e ganhou a primeira prova daquela temporada. Na realidade, uma reprise do que ocorreu no biênio 1972-73, com uma diferença. No intervalo de 14 corridas entre o GP da Espanha de 1972, primeira vitória de Emerson na temporada, e o GP da Espanha de 1973, Emerson tinha ganho oito GPs oficiais, sem contar quatro corri

Mais diversidade

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Falando um pouco mais em diversidade, gostaria de lembrar do Europeu de F2 de 1973. Este foi aquele campeonato confuso, com dois níveis de corridas. Na versão original, havia 22 corridas no calendário, mas acabaram sendo realizadas somente 17. Algumas das provas secundárias tiveram pouquíssimos participantes - Kinnekule teve só 9. Se não me falha a memória, nenhum piloto participou de todas as corridas. O grande vencedor foi Jarier, com seu March-BMW 732 de fábrica. Venceu sete corridas e o campeonato com bastante folga. Porém, diversos outros pilotos venceram corridas. Jochen Mass, Vittorio Brambilla, Jacques Coulon, Tim Schenken, Henri Pescarolo, Francois Cevert, Reine Wissel, Roger Williamson. A maioria deles também usou o March BMW, porém, corridas também foram vencidas por Motul-Ford, Surtees-Ford, GRD-Ford, e Elf-Renault. Este foi o último campeonato de F2 com a participação de um grande número de pilotos de F1 ou graduados. Além do próprio Jarier, que era piloto oficia

Falando em diversidade

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O campeonato europeu de Formula 2 de 1977 foi divertido. Depois do amplo domínio da Renault em 1976, com a March-BMW ocupando um espaço secundário e ganhando algumas provas, o campeonato de 1977 teve uma bela diversidade de pilotos, marcas e motores vitoriosos. Entre os pilotos, ganharam provas Rene Arnoux (o eventual campeão), Didier Pironi, Jochen Mass, Eddie Cheever, Lamberto Leoni, Keke Rosberg, Bruno Giacomelli e Brian Henton. Ou seja, oito pilotos de seis nacionalidades diferentes em treze provas. Entre as marcas de chassis, obtiveram vitórias o Martini, o March, Chevron, Ralt e o Boxer, este último um humilde construtor inglês. Motores Renault, Hart, BMW e Ferrari obtiveram vitórias. As duas vitórias da Chevron se deram com motores Hart e Ferrari. O campeão Arnoux pilotava um Martini-Renault, dando continuidade ao ciclo de vitórias de franceses na categoria, iniciado com Jarier em 1973. No ano seguinte, este seria rompido, com Giacomelli, que diga-se de passagem, dominou

Como o mundo é pequeno ou uma inauguração curiosa

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Não sei se já contei sobre meus times de botão. Pois bem, qualquer criança normal - e eu não era, e ainda não sou - batizaria seus times com nomes e escudinhos de times de futebol existentes, como Santos, Corinthians, Palmeiras. Mas não eu. Alguém me deu umas figurinhas adesivas com brasões, cuja procedência ignorava, e eu os achava maravilhosos. Assim, batizei meus times com nomes tirados de quatro brasões, Silkeborg, Lemvig, Zillertal e Torkenstad. Meus times não eram lá grande coisa, perdiam quase sempre, mas o Silkeborg tinha um artilheiro, o Simpático, que na última contagem superava 700 gols. Era um botão daqueles mais humildes e simples, mas por uma razão ou outra, marcava (e perdia) muitos gols. Verdade que eu só chutava com ele quando estava em campo. Quem diria que um dia um piloto dinamarquês, o Tom Kristensen, se tornaria o maior vencedor de Le Mans. E um conterrâneo, Jan Magnussen, chegou a ser cogitado como futuro campeão de F1. Mas, segundo seu ex-chefe Jackie Ste

Indy Cars nos anos 70

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Outro dia escrevi sobre a McLaren nos anos 70, lembrando que a equipe se aventurou com sucesso na Formula Indy naquela época. O primeiro McLaren de Formula Indy tinha uma aparência robusta. Creio que Alain Prost diria que parecia um caminhão, e não estaria de todo errado. Já o M16 tinha linhas mais leves, parecendo-se mais com o futuro M23 de F-1. Eventualmente o McLaren M-16 ficou bastante parecido com o M23. Voltando à aparência dos carros, muitos nem pareciam caminhões e sim tratores! Certas restrições técnicas me impedem de ilustrar este post. Tenho certeza de que acharão muitas fotos dos "tratores" da Indy nos anos 70. Um bom livro sobre o assunto é "Indy Cars of the 1970s" de Karl Ludvigsen. Embora 20 dos 33 carros que largaram em Indy em 1973 fossem Eagles, a diversidade de chassis era estupenda. Hoje temos que aguentar 33 carros da mesma marca no grid, mas naquela década, a variedade era imensa. Entre outras marcas que disputaram provas da Indy nos an

Pagando a língua

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Hoje em dia, há GPs em países que provavelmente nunca terão um piloto de F1. Já nos anos 70, os poucos novos GPs que apareceram no calendário geralmente ocorreram em países com novos ídolos do automobilismo. Fazia muito sentido isso, pois na época a F1 ainda estava longe de ser o fenômeno televisivo que é hoje, e as corridas dependiam muito da plateia local para fazer sentido econômico. O GP da Suécia foi um destes GPs. Joakim Bonnier foi o pioneiro, estreando nos anos 50 e ganhando um GP em 1959. Depois dele, apareceu uma nova geração no final dos anos 60, início dos anos 70, formada no campeonato sueco de F3. Os três que vingaram foram Ronnie Peterson, Reine Wissel e Gunnar Nilsson. Mais tarde Stefan Johansson se firmou na F1. Anders Oloffson, Torsten Palm, Connie Anderson e Eje Elgh, quatro com bastante potencial, nunca tiveram chances adequadas na grande categoria. O GP escandinavo foi realizado de 1973 a 1978. Estava no calendário de 1979, porém foi cancelado. Uma dessas co

Questões financeiras

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Uma coisa é certa. Todos concordam que o automobilismo é um esporte caro, e sempre foi. Hoje é absurdamente caro, a única diferença. O humilde chão de um carro de F-1 custa 25.000 libras esterlinas. Compare isto com 40.000 libras, o custo de uma temporada inteira de F-3 na Inglaterra por volta de 1978 e 5.000 libras, o custo de um motor Cosworth de F1 lá por volta de 1975! É bem verdade que uns quatro, cinco anos depois, uma temporada de F3 britânica se inflacionava, atingindo mais de 120.000 libras, ainda uma barganha comparada com o custo atual. O mundo era bem menos rico, também, não havia tanto dinheiro em circulação. Além de custos menores, havia uma certa informalidade, mesmo no desenvolvido automobilismo europeu, que é de assustar. Na corrida de inauguração de F2 em Paul Ricard, em 1970, os pilotos desconfiaram que iriam levar o chapéu dos organizadores, e fizeram uma pequena greve. Os últimos não titubearam. Mandaram os pilotos passarem no caixa de um banco existente nas d

1972 foi um ano bom...

...não somente para o nosso Emerson Fittipaldi, que ganhou 13 corridas internacionais, além do título mundial de pilotos e 5 Grandes Prêmios. Diversos outros pilotos (e equipes e marcas) tiveram boas temporadas, que marcaram as suas carreiras para sempre. Arturo Merzario, por exemplo, ganhou suas primeiras duas provas do Mundial de Marcas na Ferrari. A primeira prova foi os 1000 km de SPA, em parceria com o grande Brian Redman. Depois veio a consagração na prova seguinte, a Targa Florio, na qual Arturo fez parceria com o piloto de rally Sandro Munari. Nessa corrida, a Ferrari, que dominava o campeonato, inscreveu somente um carro, com junior drivers, contra uma equipe de 4 carros da Alfa-Romeo. O inexperiente (em corridas de velocidade) Munari não fez feio, e a equipe italiana ganhou de novo envergonhando a equipe de Milão. Além disso, Merzario ganhou três provas e o título do Europeu de Protótipos 2 litros, com um Abarth, as Nove Horas de Kyalami, com Clay Reggazoni e os 500 km

Corridas nas Bahamas

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Lembro-me que quando a revista Auto Esporte estava promovendo a implementação da Formula Vê no Brasil, em meados dos anos 60, publicaram uma foto grande de uma prova da categoria nas Bahamas, mais precisamente, em Nassau, pois o país é composto de muitas ilhas. Desde então, cresceu a minha curiosidade em relação às Bahamas e ao automobilismo caribenho. Não me perguntem por que demorei tanto tempo para viajar às Bahamas. Já conheço diversas ilhas do Caribe, mas até dias atrás, nada de Bahamas. Mudei para Miami em 2005, e o arquipélago fica a menos de uma hora de avião. Chamemos de inércia. Enfim, quebrei o gelo, e fiz um cruzeiro de 3 dias com a minha esposa, na Royal Caribbean, muito gostoso por sinal, há uns dois anos atrás. Não deu para fazer nenhuma pesquisa automobilística. Entretanto, perguntei ao guia do nosso curto passeio (ficamos somente algumas horas em Nassau) se sabia alguma coisa sobre as corridas que foram realizadas nas décadas de 50 e 60. Disse que era muito pe

Considerações sobre os vencedores da 2 Litros no Mundial de Marcas, 1972-1976

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Geralmente cumpro minhas promessas. Sei que prometi fazer uma série sobre a temporada de 1981, e nunca fiz. Quem sabe um dia desses ainda sai. Essas coisas dão trabalho. Mas sei que ninguém vai perder o sono por causa disso. Pois bem, sobre os vencedores da categoria 2 litros no MM, entre 1972-1976, algumas curiosidades. O grande vencedor foi John Hine. O inglês ganhou nada menos do que seis provas. Três outros ingleses ganharam 3 corridas, dois outros John (Bridges e Lepp) e Ian Grob. O Chevron ganhou a maioria das provas nos primeiros anos, mas de 1975 em diante perdeu a hegemonia, perdendo corridas para a Alpine-Renault, March e Lola. Em 1976, a Osella foi a grande vencedora, mas um Chevron com motor ROC Simca ganhou em Dijon, com Jean Louis Lafosse e Jean Pierre Jaussaud, e outro em Watkins Glen, com Tony Cicale. A maioria das vitórias nos primeiros anos ficaram nas mãos de carros equipados com motores Ford, mas em 75 e 76 o BMW se tornou o mais frequente vencedor, sem con

Briga de família ou vale a pena lembrar

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É muito fácil dizer que a carreira de Emerson Fittipaldi na Formula Indy deslanchou a partir do seu título de 1989, quando o brasileiro não somente ganhou cinco corridas e o título, mas também a Indy 500, como se antes disso seu impacto na categoria fosse mínimo. É fácil lembrar que no fim das contas, o título de 1985 na CART foi uma briga de família no melhor sentido possível. Na penúltima corrida do ano, os líderes do campeonato eram Al Unser Junior, com 120 pontos, seguido de seu pai Al Unser, com 117. O pai ganhou esta penúltima corrida, embora seu filho tenha chegado em segundo, e assim se inverteram as posições na tabela, Unser pai com 139 pontos, Unser filho com 136. Foi assim que terminou o campeonato após Miami, a corrida derradeira, Unser Pai em primeiro e o Unser Filho em segundo. Não me lembro de cenário parecido no automobilismo mundial. Ocorre que durante grande parte do campeonato, um certo piloto esteve frequentemente na frente dos dois Unser. O piloto, Emerson F

Os dois litros no Mundial de Marcas, 1972 a 1976

Por uma razão inexplicável, a FISA resolveu que a partir de 1972 o Mundial de Marcas seria disputado somente por Protótipos de 3 litros (segundo muitos, por pressão da Ferrari, que tinha um excelente 3 litros, mas cujo 5 litros não conseguiu desbancar o Porsche 917). Quer dizer, na realidade, os Grupo 5, Porsche 917, Ferrari 512 e Lola T70, teriam que achar outras praias para correr. Digo que é inexplicável por que os fabricantes dos Grupo 5 tiveram que fazer pelo menos 25 exemplares desses modelos, ou seja, só de 917, T70 e 512 teoricamente havia uns 75 carros na praça. Por bem, por mal, os 3 litros até que deram bastante trabalho para os Grupo 5 em 1971, portanto, não havia necessidade de implementar a nova "fórmula". Os novos protótipos, na realidade, eram carros de F-1 carenados, com dois postos. A ideia obviamente não deu muito certo, pois nos cinco anos de reinado dos 3 litros, raramente havia mais de 10 carros da categoria nos grids. Sim, alguns dos melhores protó

Vitoriosos na classe GT do Mundial de Marcas, 1972 a 1975

Outro dia escrevi sobre os vitoriosos da classe 2 Litros no MM, de 1972 a 1976. Hoje é a vez de outra classe importante, a classe GT. Os grids do MM foram povoados de inúmeros Porsche 911, e seus derivativos, mas outros carros importantes, como o De Tomaso, Corvette e a Ferrari Daytona também ganharam corridas na categoria. O grande vencedor foi o inglês John Fitzparick com nove vitórias. John continuou ganhando durante a fase do Grupo 5, foi campeão da IMSA e também duas vezes campeão europeu de GT. Muitos Porsche 911 e a Lancia Stratos que chegou em segundo na Targa Florio de 1973 concorreram na classe protótipos. Eis os vencedores 1972 Buenos Aires - não concorreram Daytona - Peter Gregg - Hurley Haywood, Porsche 911 Sebring - David Heinz - Robert Johnson, Chevrolet Corvette Brands Hatch - não concorreram SPA - J. Jacquemin - Yves Duprez, de Tomaso Pantera Monza - Ugo Locatelli - Gianfranco Palazolli - De Tomaso Pantera Targa Florio - Gabrielle Gottifredi - Pino Pica - Por

Um mundo mais solidário

Terremotos já existiam há uns quarenta anos atrás, lógico. E ocorriam nos mesmos lugares em que ainda ocorrem. Atualmente existem ONGs mil, que aparecem na mídia sempre que acontece uma desgraça. Algumas ONGS realmente fazem diferença, outras só elevam o perfil dos seus gestores ou mecenas, em contar que recheiam os bolsos de alguns, ao mesmo tempo que reduzem a carga tributária de outros. Em 1976 não proliferavam ONGs, como hoje. Mas um terrível terremoto assolou a Itália, diga-se de passagem, bastante pior do que a recente onda de terremotos que chega a ameaçar a área de Modena, o berço da Ferrari e Maserati. Era um mundo mais simples, concordo. Sem tantos advogados, contadores, public relations, empresários, todos querendo uma boquinha e criando empecilhos. A revista AutoSprint, em cooperação com a Alfa Romeo, fez algo impossível para os dias de hoje. Criou um evento para arrecadar fundos para as vítimas do terremoto de Friulli no autódromo de Varano, uma pista que até ho

A Formula Super Vê

A Fórmula Super Vê surgiu no Brasil em 1974, e foi responsável pela formação de um dos nossos campeões mundiais, Nelson Piquet. Teve um status tão prestigioso que chegou a ser chamada - com certo exagero - de Fórmula 1 brasileira. A categoria mudou o nome para Fórmula VW 1600 em 1976, e sobreviveu somente até 1980. Marcou o início do compromisso da VW com o automobilismo no Brasil. A categoria surgiu ao mesmo tempo na Alemanha - onde era chamada Formula Super Vau - e nos EUA - chamada de Formula Super Vee. Houve um campeonato Europeu da categoria, além do Alemão e Britânico. Além de Piquet, outro campeão, Keke Rosberg, participou da categoria, ganhando corridas do campeonato Europeu em 1974 e 1975. Uma série de pilotos que eventualmente participu da F1 ganhou corridas no Europeu. Entre outros, Jochen Mass, Harald Ertl, Helmut Koinnig, Jo Gartner, Mikko Kozarowitsky, Bertil Roos. O holandês Arie Luyendyk, que eventualmnente ganharia a Indy 500 duas vezes, foi campeão Europeu da c