Christian Fittipaldi e a má fadada experiência na NASCAR

Quando vim morar nos EUA, em 1976, já conhecia um pouquinho sobre a NASCAR. Lembro-me de ter visto uma corrida na TV, por volta de 1971, e de uma excelente reportagem na revista Grand Prix, sobre a Daytona 500 de 1975. Gostei da categoria, era a grandiosa época de Richard Petty, David Pearson, Cale Yarborough, Buddy Baker, Bobby Allison, Benny Parsons, Darrel Waltrip em início de carreira, além de coadjuvantes como James Hylton, Lennie Pond, Dick Brooks e Coo Coo Marlin. Os pilotos da Indy de vez em quando corriam - Johnny Rutherford, Gordon Johncock e A.J. Foyt. Já naquela época era mais fácil ver uma das 30 corridas da NASCAR na TV do que as poucas corridas da USAC, como era chamada a Formula Indy. Formula 1, nem pensar. Só passavam uns 3 GPs por ano. Portanto, por falta de outras corridas, fiquei fã da NASCAR além das corridas européias.
Para o pessoal mais jovem, é um pouco difícil entender a grandeza do nome Petty na NASCAR. A dinastia se iniciou com Lee Petty, nos anos 50, e Richard logo se tornou o rei da categoria, ganhando mais de 200 provas e sete campeonatos, quase todas vitórias com carros da equipe de família, a Petty Enterprises. O filho Kyle não teve uma carreira tão imponente, mas ainda ainda ssim ganhou algumas provas e o neto Adam, que prometia muito, morreu em uma prova em New Hampshire, no ano 2000. O mítico número 43 usado por Petty, deu início ao forte marketing numérico da NASCAR, ao ponto de se tornar o número de carros que disputam as provas.
Em 76 Richard ainda ganhava provas, mas não as dezenas a que estava acostumado. A NASCAR se divide entre a fase antiga e a moderna. A fase antiga durou até 1971. O campeonato chegava a ter 50 provas por ano, com provas curtas em pistas de terra, misturadas com provas longas nos Speedway tipo Daytona e Talladega, ovais curtos asfaltados, e pistas mistas não ovais como Riverside. Quase nenhum piloto fazia a temporada inteira. Na fase moderna, só permaneceram as pistas mais bem estruturadas, dando vazão a maior profissionalismo na categoria.
Mas nos anos 2000, a Petty Enterprises era uma equipe em franca decadência, que estava tentando voltar à frente do grid ao refazer sua aliança com a Dodge. As vitórias eram poucas, embora Bobby Hamilton, John Andretti e o próprio Kyle tivessem ganho corridas nos anos 90.
Para Christian Fittipaldi, já com 30 anos, era necessária uma mudança de carreira. Correu muitos anos na CART com uma das melhores equipes, a Newman Hass, mas devido a diversos acidentes e o fato de ter Michael Andretti na mesma equipe, Christian sempre ficou relegado ao segundo plano. Quando Michael se foi embora, parecia que finalmente Christian teria sua grande oportunidade. Entretanto seu substituto, o compatriota Cristiano da Matta, acabou ganhando o campeonato e diversas corridas, e os dias de Christian na Newman Hass estavam contados. Assim, resolveu sair da Formula Indy, e tentar ser o primeiro brasileiro na NASCAR.
Christian já havia disputado uma prova da Série Busch em 2001, sem muito sucesso, e em 2002, disputou duas provas do Torneio Busch e uma corrida da Nextel Cup, preparando para uma temporada mais longa em 2003.
Eu mesmo não me canso de mencionar o pioneirismo da família Fittipaldi no automobilismo, e aqui estavam eles inovando, mais uma vez. Alguns poucos estrangeiros haviam corrido na NASCAR. Entre os notáveis, Rolf Stommelen, Claude Ballot-Lena, francês especializado em Porsches que ganhou provas da IMSA com A.J.Foyt, David Hobbs, e até a italiana Lella Lombardi, que fez uma prova em 1977. Mas eram aparições únicas e esporádicas, e salvo pelo canadense Ron Fellows, que participava das provas em pistas mistas, estrangeiros eram raríssimos na NASCAR, ainda mais tentando fazer uma temporada semi-completa como Christian.
A foto diz tudo
Nem mesmo os mais otimistas podem dizer que a temporada de Christian em 2003 foi um grande sucesso. Pilotando o Dodge com o lendário número 43, Christian participou de 15 provas. Concluiu 2746 voltas, liderando uma única volta. Em Daytona pilotou um Chevrolet, mas nas outras provas, pilotou Dodge. Em média, largou na 33,6 posiçâo, e sua posição final média foi 35,4. Largou em sétimo em Michigan, uma das poucas pistas que conhecia, e sua melhor colocção em corrida foi 24o. Típico da NASCAR, ainda assim Christian ganhou a bagatela de 1.265.835 dólares em prêmios, mas não foi o suficiente para se tornar um astro da NASCAR, e seu contrato não foi renovado. Quem sabe, se tivesse corrido em outra equipe, Christian pudesse levar essa nova carreira adiante. Queimado na Formula Indy, queimado na NASCAR, a carreira internacional de Christian se concentra em carros esporte desde então.
Hoje, a NASCAR se apresenta pela primeira vez como categoria internacional, e no ano que vem, terá Jacques Villeneuve, Dario Franchitti, Patrick Carpentier, Marcos Ambrose, diversos pilotos mexicanos além de Juan Pablo Montoya entre seus números. Desta vez os Fittipaldi inovaram cedo demais.
Digam o que disserem, Christian foi o primeiro brasileiro na primeira divisão da NASCAR.

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