Indústria cinematográfica

Minha primeira experiência profissional com a indústria cinematográfica não foi positiva.

Era o ano de 1989.

Tinha dado aulas de português a uma diretora de cinema americana, e um belo dia seu assistente me liga, solicitando serviços de tradução. Conversei com ela. Disse que tinha rodado um documentário no Brasil, e precisava de horas e horas de fitas de entrevistas transcritas e traduzidas. Disse que tinha pouquíssima verba. Pois bem, como já a conhecia, simpatizava com a causa, topei fazer o serviço por somente $1.200 dólares, de graça, basicamente, contanto que desse crédito da minha participação no filme, que supostamente seria exibido na TV americana. Não fiz isso por vaidade, mas para ter currículo.

Quase fiquei louco. Os entrevistados eram seringueiros que falavam algo que parecia português, misturado com silvos e grunhidos, horas e mais horas deste áudio-sofrimento. Ainda estávamos na era analógica, mas como eu tinha um gravador semi-profissional, consegui eliminar ruídos com um equalizador e diminuir a velocidade da fala, pois os caras não só falavam um idioma do outro planeta, como o faziam a uma velocidade de invejar qualquer locutor de futebol.

Logo a diretora e seu algoz (o assistente) começaram a me encher, pedindo a tradução, pois tinham pouco prazo, blá, blá, blá. Passaram-se semanas de muita dificuldade, pois tinha outros clientes a atender. Depois de muito sofrimento, entreguei o produto final.

Quando ficou pronto o documentário, a grande surpresa. Todo mundo levou créditos, menos o otário aqui!!! O narrador do documentário nem brasileiro era, e tinha a língua um pouco presa. Ganhou a mesma coisa que eu, trabalhando um ou dois dias, enquanto sofri semanas.

Logo descobri que locutor é talento, tradutor, não. Até o algozinho aparecia como assistente de produção...

Incidentalmente, o texto das minhas traduções estava quase intacto, fizeram pouca edição.

Com isso aprendi uma dura lição - nesse setor, tudo tem que ser posto no papel. Se não estiver no papel, não existe.

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