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Mostrando postagens de junho, 2015

Ninguém se entende mais

Ainda me lembro de uma época em que a retranca tomou conta do futebol brasileiro. O que tinha de 0 x 0 não estava no gibi. Cabe lembrar que a palavra gol vem do inglês GOAL, que quer dizer meta, objetivo. Ou seja, a meta do futebol, o objetivo, é o gol. Portanto, sem o gol, fica uma coisa meio sem sentido. Nas corridas de monopostos de alto nível, que cada vez mais sentem a perda de audiência e de público local, uns apontam os dedos uns para os outros, visando culpar alguém pelas mazelas do esporte. O público supostamente acha a F1 chata, porque ninguém ultrapassa ninguém, as corridas são procissões, etc. Quando inventam uma tecnologia para auxiliar a ultrapassagem, muitos gritam "é fajuta, falsa, artificial". E o Bernie grita de um lado, o Todt, do outro, a imprensa e o público do outro, os pilotos e donos de equipe também, enfim todo mundo aparentemente está insatisfeito. Como as coisas são fascinantes... Na corrida de Indycar em Fontana deste fim de semana, foi quebr

No fundo, o que incomoda é o profissionalismo

Quando comecei a seguir seriamente o automobilismo, nos anos 70, o patrocínio comercial no esporte ainda era nascente, e o produto estava longe de ser televisivo. Era a hoje chamada era romântica do automobilismo - naquela época, diziam que os anos 20 eram a época romântica, mas deixem pra lá, se não complica o meu raciocínio. Bom, já que é para complicar, pergunto, será que em 2050 vão dizer a mesma coisa de 2015, que esta era a época romântica do automobilismo? Romance ou não, a realidade é que as coisas, mesmo na Europa e nos EUA (que dizer do Brasil) eram meio feitas a toque de caixa, desde a organização, até o projeto de carros, autódromos e pistas de rua, administração de carreiras e equipes. Tudo tinha um toque de diletante. A Brabham, que em 1972 produzia não somente carros de F1, mas também de F2, F3 e Fórmula B, supostamente tinha uns 25 empregados, que fabricavam dezenas de monopostos por ano. Pelo menos a Brabham tinha um projetista com diploma de engenheiro, pois muitos

A gente bem que tenta escapar de coisas relacionadas a Brasil...

Vivo nos EUA há quase quarenta anos, entretanto o Brasil tem sido parte da minha realidade quase o tempo todo. É verdade que tenho muitos clientes brasileiros, muito do que faço se relaciona diretamente com o Brasil, sendo assim, acabo falando, tratando de coisas relacionadas ao país quase o tempo todo. Junte-se a isso a internet, e o fato de viver em Miami, e pronto, vivo mais no Brasil do que aqui. Minha antena está mais para lá do que para cá. Neste fim de semana resolvi me desligar disso, e fiz uma reserva num hotel em Palm Beach, a hora e pouco de Miami. Ali certamente só escutaria inglês, viveria uma realidade diferente. Fiz uma reserva no Brazilian Court Hotel. Você deve estar rindo ou me chamando de louco. Não, o Brazilian Court Hotel não tem absolutamente nada a ver com o Brasil. Muitas ruas na riquissima Palm Beach tem nomes de países (Australian Avenue, Chilean Avenue, BRAZILIAN Avenue), e vem daí o nome de um dos mais tradicionais hoteis da cidade, construído nos anos

Corrida de verdade era antigamente...

Não me canso de ouvir isso, para todo lado. Aliás, não é só corrida. Futebol, música...Eu mesmo digo que pararam de fazer música depois dos anos 80, e meu ipod é um verdadeiro museu. As coisas mudam, e na realidade, não há como se comparar uma época com a outra. Tudo tem o seu charme, seus prós e contras, e o automobilismo não é excessão. No caso de Le Mans há muita gente saudosa da época dos antanhos. Têm uma visão quiçás um tanto poética da coisa. Sempre me lembro da Avenida São João. Quando era pequeno, me parecia uma Avenida majestosa, cheia de cinemas, lojas de boa categoria, etc. Hoje me parece uma rua xinfrim, e não digo isso só por causa da decadência. Pelo tamanho, mesmo. Le Mans 2015 foi completamente dominada por três marcas, Porsche, Audi e Toyota, que alinharam oito carros. Seus carros largaram nas oito primeiras posições, e chegaram nas oito primeiras posições. Alguns veem nisso um sinal de colapso, o fim do mundo, tédio com T maiúsculo. Preferem a mítica  época ant

Neozelandices

Uma das principais novidades das 24 Horas de Le Mans deste ano foi o anúncio da volta da Ford no ano que vem, com um GT que deverá combater a Aston-Martin, Corvette e outros. Sem qualquer chance de ganhar na geral, obviamente. Os mais antenados vão se lembrar que o ano que vem marca o 50o. aniversário da primeira das quatro vitórias seguidas da Ford na grande corrida francesa, Ou seja, obviamente tudo foi programado cuidadosamente, para aumentar o impacto da volta da montadora americana a Le Sarthe. Desde o lançamento do carro de rua até a coincidência com o 50o. aniversário dessa vitória. Tudo tem que ser um evento hoje em dia. É importante notar que a Ford interrompeu uma longa sequência de vitórias da Ferrari naquela corrida de 1966, e que, de fato desde 1965 o Cavallino Rompante não emplaca uma em Le Mans - e não foi por falta de tentativas. isso só fez a vitória da Ford mais doce, para quem conhece a história, que não vou contar aqui. Divagar é preciso, mas não tanto. A primei

Até as coisas boas chegam ao final

Havia uma caixa que me incomadava no meu apartamento. Na maior parte do tempo, a ignorava. Recentemente, me dei conta de que andei acumulando muita coisa desnecessária desde que mudei para a Flórida. Não chego a ser um "hoarder", um voraz e patológico aumulador de pertences inúteis, porém, imagino que a patologia comece branda algum dia e evolua, assim, impliquei com a caixa. Nessa caixa, havia milhares de papéis impressos da Internet, contendo artigos e resultados de corridas, inclusive páginas mal digitalizadas de revistas dos anos 60 para frente, recortes de jornal, e até mesmo um rascunho de um livro que me foi enviado para revisão sobre qual o autor nunca mais falou (já se passam muitos anos e o livro nunca foi editado). Pouco usei o material acumulado, embora planejasse usá-lo para confecção de textos de automobilismo. As impressões foram feitas na época do desespero, como se aquelas fossem a única fonte da informação no mundo. Desde então, a internet expandiu bastant

Como melhorar a Formula 1

Desde pequeno que ouço duas coisas. Primeiro, que o Brasil é o país do futuro. Segundo, que a F-1 precisa melhorar o show, se não, vai para a cucuia. Acho que vou continuar ouvindo essas coisas indefinidamente. Sigo a F-1 há mais de quarenta anos. Lembro que sempre teve quem dissesse que o domínio de fulano ou sicrano ou equipe não é bom para o esporte, que pouco se ultrapassa na F-1, que se as coisas não melhorarem a categoria vai para o chinelo, etc. Lembro-me que em 1975, muitos reclamaram que Niki Lauda e Ferrari simplesmente dominaram o campeonato. Sem dúvida, foram os melhores, porém dizer que houve domínio me pareceu um pouco exagerado, especialmente num campeonato de 14 corridas em que dez outros pilotos - e cinco outras marcas - ganharam corridas. Por outro lado, teve gente que demonstrou desconforto com o campeonato de 1982, ganho por Keke Rosberg, justamente por que o campeão só ganhou uma corrida, e pelo menos três outras equipes - Ferrari, Mclaren e Renault, teriam m

Aparências enganam, micos e etc.

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Os menos avisados seguidores do automobilismo brasileiro do início dos anos 70 podem se enganar redondamente com a qualidade de alguns carros que correram - ou iam correr no Brasil. É verdade que para um país com poucos bólidos, qualquer carro meia-boca, vindo do exterior, pareceria grande coisa, comparado com carros de rua com a capota retirada, chamados curiosamente de protótipos, ou feiosíssimos patos-feios. Um desses carros foi o protótipo Royale. A meu ver, era um protótipo bonito o Royale, que podia ser equipado com motores de até dois litros. Porém,  o Royale passou muito longe de corridas de primeiro escalão. A Europa teve um campeonato para protótipos de 2 litros entre 1970 e 1975, e curiosamente, nenhum Royale participou do campeonato, apesar de um número razoável de marcas representadas. No Mundial de Marcas a representação foi nula, os carrinhos sequer foram inscritos em corridas. Os Royale corriam somente em provas de segunda categoria na Inglaterra, mas chegaram no Bras