Em quem acreditar


Vez por outra escrevo malhando algum livro brasileiro de automobilismo, criticando o grande número de erros publicados. Depois de publicado em papel, o erro se perpetua, e muitas vezes, gera discussões intermináveis. Existe sempre o pressuposto de que se o cara teve um livro publicado, é jornalista especializsado, e o livro é patrocinado e custa mais de 100 paus, é sinal que sabe mais do que você.

Infelizmente, isso não ocorre só com os livros brasileiros do assunto. Não é só na corrupção política que temos monopólio!

Outro dia estava folheando o meu livro "Lola: The Illustrated History 1957-1977: 1957-77 v. 1 (Lola History, 1957-1977)" de John Starkey, que comprei alguns anos atrás. O livro está esgotado, e se quiser uma cópia, terá que gastar umas trezentas libras.

Guarde suas libras.

Geralmente, lia os capítulos sobre os modelos mais desconhecidos da Lola. Para que ler sobre a Lola T370 de F1, de 1974, se já conheço bastante sobre a sua história?
Pois bem, acabei lendo o capítulo sobre a Lola T370 de F1, e fiquei bastante desiludido com o tomo.

Em pouco mais de duas páginas, há tantos erros que fiquei desesperado. com vontade de dar um tapa na orelha do autor.

Este obviamente resolveu escrever o capítulo de memória, e ninguém revisou. E trocou muitos fatos, alguns de suma importância.

Por exemplo, diz que Emerson Fittipaldi ganhou o GP dos Estados Unidos de 1974 (e o campeonato), uma inverdade. Emerson chegou em quarto naquela corrida, embora tenha ganho o GP anterior E o campeonato.

No único GP em que a Lola pontuou naquela temporada de 1974, na Suécia, o autor também dá uma grande gafe. Disse que a corrida foi ganha pela Tyrrell (certo) com seus modelos de seis rodas!!! É verdade que a Tyrrel ganhou o GP da Suécia de 1976 com seus carros de seis rodas (que estrearam naquele ano), mas em 1974 o carro era o mais tradicional 007. Foi a primeira vitória de Scheckter na F1, algo que deveria fixar na mente do "historiador".

Depois, comete uma outra gafe homérica com um dos pilotos da equipe, Rolf Stommelen. Na realidade, o autor inverte as bolas. Disse que a Alfa-Romeo havia cedido um motor de 12 cilindros para a equipe de Graham Hill testar (verdade), e que EM VIRTUDE disso, Rolf Stommelen se tornou um piloto da Alfa-Romeo! Na realidade, Rolf foi piloto da Alfa-Romeo de 1970 a 1974, e de fato, depois de cedido tal motor à equipe de Graham Hill, nunca mais correu com a marca! Rolf não fez parte da equipe que ganhou o mundial em 1975 - diga-se de passagem, uma pena, pois até a chegada de Arturo Merzario sempre foi o piloto mais rápido da Alfa. Entretanto, Stommelen correu com o Brabham-Alfa Romeo uma vez em 1976 (e marcou um ponto).

Depois o autor se atrapalha narrando as corridas de 1975. Primeiro, disse que o GP da Espanha fora tranquilo para a equipe Hill (longe disso), depois em outro parágrafo, diz o que realmente aconteceu. Provavelmente, se referia inicialmente ao GP da África do Sul, pois disse que Rolf terminou esta corrida da Espanha em sétimo! O GP da Espanha daquele ano foi notável para a Lola, pois foi a única corrida liderada por um carro da equipe Hill e por Rolf Stommelen, mas terminou em lambança, com as duas pernas de Rolf quebradas.

Enfim, com tantos erros em fatos conhecidíssimos, como posso acreditar no resto do livro, que trata de casos desconhecidos? E se forem todas viagens na maionese do autor?

Não jogo o livro fora por que as fotos são demais. E de repente, arranjo alguém que me pague 300 libras por ele...

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