A corrida que demorou quase 40 anos para ser realizada

Há pouco mais de quarenta anos, o Brasil entrava na era da F1. Foi realizado o primeiro GP experimental, e o país incluído no calendário oficial da FIA em 1973. Além disso, no mesmo ano foi realizada aquela que foi, durante décadas, a mais importante e internacional corrida de carros esporte no Brasil, os 500 KM de Interlagos de 1972, com vitória de Reinhold Joest. A principal categoria do automobilismo brasileiro, no papel, era a Divisão 6, na qual corria o competitivo Porsche 908-2 da Equipe Hollywood, entre outros.
Ocorre que o país queria muito mais do que a F1. Naquele mesmo ano de 1972, se realizava pela segunda vez em passado recente os 1000 km de Buenos Aires, prova de carros esporte válida para o Mundial de Marcas. Visando rachar custos, e expandir a participação do país no calendário mundial, os próceres do automobilismo brasileiro também queriam uma prova do Mundial de Marcas no Brasil. Nunca deu certo.
Primeiro, a Argentina embarcou numa profunda crise econômica, e os 1000 km de 1973 e 1974 foram cancelados, e a corrida nunca mais programada. Com isso se esvaía mais de 50 % da viabilidade econômica da prova.
Na realidade, a FIA havia marcado no calendário internacional uma data para o autódromo de Goiânia, em 1973. A corrida supostamente seria uma prova de carros esporte, internacional, e também a inauguração do autódromo. A pista não ficou pronta no prazo, não foi realizada a prova, e nunca mais se falou do negócio.
Depois os militares que tomavam conta do automobilismo em 1974 anunciaram planos, com todos os pingos nos I, de transferir o GP de F1 para Brasília, e realizar uma corrida do Mundial de Marcas em Interlagos. Nenhuma das coisas se realizou.
Posteriormente, muitos anos depois, foram realizadas provas do BPR, algumas edições das Mil Milhas com alguns pilotos internacionais, e mais recentemente, uma "faux" Mil Milhas, vencida por um Peugeot diesel. Porém, nunca uma prova do mundial. E nesse ínterim, houve o colapso daquele que um dia foi o glorioso Mundial de Marcas, em 1992.
Parto difícil, mas nasceu.
A meu ver, uma prova do MM em 73, 74 teria sido um desastre. Havia pouquíssimos carros no Brasil em condições de competir numa prova do tipo, e alguns carros da D6 não se enquadaravam no regulamento 3 litros. Nos últimos 1000 km na Argentina, só a Alfa-Romeo trouxe cinco carros, ou seja, um quarto do pequeno grid. Lá por volta de 73, nenhuma das grandes equipes alinhava mais de 2 carros por prova, e só haviam cinco fieis frequentadoras do campeonato, no máximo uns 10 carros. Os D4 Brasileiros, da categoria B, tinham motores de 4 a 5 litros, portanto, não poderiam competir. Os Protótipos argentinos tinham motores de 4 litros, também estavam fora do regulamento. Assim, teria sido uma prova fraquíssima, a não ser que os prêmios fossem suficientemente bons para convencer uma armada de protótipos 2 litros e GTs a cruzar o Atlântico, ou quem sabe, trazer alguns dos EUA. Em suma, teria sido uma queimação de filme, como foi a Copa Brasil de 1972.
Divirtam-se com as 6 horas, a corrida do parto difícil
Carlos de Paula é tradutor e historiador de automobilismo baseado em Miami

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