Como Hollywood vê a mulher brasileira

Se você é brasileira e mora nos EUA, ou viajou para cá, provavelmente já levou algumas inesperadas cantadas na terra do Tio Sam. Digo inesperada porque você provavelmente já ouviu dizer que "o americano é respeitoso", "o americano é frio", "americano não dá cantada" ou até que não é chegado em sexo. Daí, chega aqui e ouve umas cantadas daquelas nada sutis, até grosseiras.

Qual seria a causa disso?

A mídia de entretenimento dos EUA, de modo geral, dá à mulher brasileira uma imagem de sexy. Não só de sexy, mas também de mulher fácil, facílima. Aí que surge o problema.

Vamos a alguns exemplos.

A série de TV a cabo "Shameless" foi povoada, durante algum tempo, por uma personagem brasileira (a atriz também é brasileira, daqui do sul da Flórida). Apesar dos temas fortes da série, inclusive de natureza sexual, a brazuquinha foi, de longe, a mais desinibida de um grande grupo de pessoas de moral questionável. Tirava a roupa na frente de qualquer um, fazia sexo em qualquer lugar, etc. Em suma, era uma verdadeira vagaba. Na série, ela era filha de um traficante brasileiro, e casou-se com um dos protagonistas do seriado para dar o green card para ela e tirá-la do Brasil.

Numa outra série de TV, "Lylihammer", que só é transmitida na Netflix, apesar de a série ser encenada na Noruega, acabou havendo um ângulo brasileiro. Uma brasileira namora um norueguês pela internet, que vai ao Brasil se casar com ela. Ocorre que esta brasileira também tem um certo problema em manter um número baixo de parceiros sexuais,  dá em cima de velhos, jovens, noruegueses, americanos, e o que pintar pela frente. Outra vagaba de marca maior.

OK, ficção é ficção. Agora, como explicar um programa de cunho documentário, como o de Anthony Bourdain, que viaja para diversos lugares do mundo para experimentar um pouco da culinária e cultura local, enfatizar tanto a sensualidade brasileira, algo que não fez em nenhuma outra cidade visitada?! E olhe que eu assisti as aventuras de Bourdain na Índia, Oriente Médio, França, Colômbia, Itália, Tóquio, Peru, Myanmar. Em nenhum lugar sexo foi um tema recorrente ou mesmo relevante. No segmento sobre Salvador da Bahia, Bourdain tocou no tema pelo menos umas dez vezes, dizendo que em Salvador as pessoas pareciam ter acabado de transar ou estar em vias de, que todo mundo tocava todo mundo, que a sensualidade pairava no ar, etc. Não sei se foi o grande volume de caipirinhas bebidas no atacado pelo chef  americano  que fez aflorar sua percepção de sensualidade, porém, de modo geral, as pessoas focalizadas eram bastante feias e não me pareceram nada sensuais. Em vez de parecer que tinham acabado de fazer sexo pareciam estar com fome de alimentos, isso sim.

Estes são três exemplos dos mais recentes. Há diversos outros, que eu me lembre desde a época do "Blame it in Rio", um fraco filme que contou com a participação de Demi Moore em começo de carreira.

De quem seria a culpa?

No inicio da década de 80, trabalhei no escritório da Embratur em Nova York. Entre diversas funções, fui incumbido de acompanhar jornalistas em viagens a diversos locais do Brasil, desde Rio Grande do Sul até a mesma Salvador, para dar cobertura turistica. Nessa época, o tal turismo sexual não existia, e portanto, nem se falava de sensualidade no Brasil. Entretanto, notei que alguns jornalistas se frustravam, pois as programações eram todas ditadas pelos órgãos turísticos locais e pela própria Embratur. Como as viagens eram curtas, não havia muito tempo para explorações, porém, aprendi como funciona a coisa.

Eis como funciona a coisa.

Quando um produtor vai filmar num país estrangeiro, requer uma equipe local, para preservar não somente a segurança, como proporcionar infraestrutura técnica, e consultoria linguística e cultural. Estes últimos consultores, via de regra, afetam sobremaneira a visão do estrangeiro do país. Muitas das coisas que você vê sobre o Brasil e brasileiros na tela de TV ou cinema são reflexos da influência destas pessoas, nascidos, criados e vividos na terra brasilis.

Ora, como sexo vende e como o turismo sexual efetivamente existe no Brasil, a imagem da brasileira periguete é perpetuada em filmes, seriados e mesmo documentários por causa dos próprios brasileiros que trabalham como satélites midiáticos. Como o país fica longe dos centros ricos, há muita violência, e não muita coisa exótica para comprar, a estória de que existem grandes possibilidades de ocorrer um encontro sexual não remunerado com uma fogosa local com corpo escultural e queimada de sol fazem parte deste imaginário predileto de Hollywood. Esta visão é amparada por brasileiros que dão apoio aos midiáticos e não têm o mínimo pejo de fomentar esta imagem no exterior. Assim a brasileira é invariavelmente apresentada como uma galinha insaciável nos filmes, seriados, etc. Até mesmo num documentário gastronômico!

Como moro em Miami Beach há quase dez anos, posso traçar um paralelo com essa cidade, que também vive de uma imagem de sexo em cada esquina. Do jeito que falam, é de se pensar que Miami Beach é um imenso bordel, sem qualquer limite. Podem ficar tranquilos, é possível andar na rua sem ser assediada(o) ou envolver-se em alguma cilada sexual. É 90% folclore, 10% verdade. Porém, o marketing da cidade é feito em cima de tal sensualidade exacerbada.

Sendo assim, podem crer que a culpa não é só dos ingênuos e ao mesmo tempo tarados, produtores, diretores e roteiristas americanos ou europeus. Grande parte da culpa é desses proxenetas light brasileiros. "Blame it on them". Não culpe só Hollywood.

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