Em quem confiar?


Outro dia um amigo publicou no Facebook uma simpática lista tirada da Wikipedia, de pilotos italianos que haviam LARGADO em pelo menos um GP. Numa rápida olhada, constatei que a lista estava furada. Entre outros, dizia que os pilotos Carlo Facetti, Carlo Franchi(Gimax), Gianfranco Brancatelli e Alberto Colombo haviam LARGADO em GPs, quando só participaram de treinos e não se classificaram. Dizia que Ronnie Quintarelli participou de um GP (só foi piloto de testes da Midland) e listava Riccardo Paletti duas vezes. Apontei os erros ao meu amigo, que editou a lista.

A wikipedia, que diga-se de passagem agora deu para pedir grana aos seus usuários - está cheia de erros e exageros. Ninguém vai morrer ou ganhar zero numa prova por causa dos seus erros em verbetes de automobilismo, porém, visto que o google considera o site o máximo em informações (devido à sua popularidade), creio que muita garotada anda levando zero por aí.

Não corrijo a wikipedia. Já fiz algumas vezes, não faço mais. Já tive um artigo de minha autoria completamente copiado, sem minha autorização, e colocado como verbete, e deu algum trabalho para retirá-lo. Certos verbetes mais populares (inclusive no automobilismo) são travados, para impossibilitar o editor de colocar seu próprio site como fonte, e assim ganhar no ranking do google. Entretanto, querem que você escreva milhares de verbetes, que nada farão para o seu ranking, enquanto "abrilhanta" e eleva a relevância da enciclopédia virtual.

Desculpem, ainda não atingi este nível de cidadania cibernética. Hoje a wikipedia não é comercial, mas não dou mais alguns anos para ser vendida, já sabe para quem. E as hordas de otários que contribuiram horas e mais horas, dias e semanas escrevendo verbetes, ganharão o que com isso? Nada, nem a satisfação de ver a autoria do seu artigo, pois os verbetes da wikipedia não são assinados. Enquanto isso, o comprador ganhará milhões com publicidade pay-per-click, com o trabalho não remunerado dos otários. Tou fora.

Não é só a wikipedia que tem erros. Hoje em dia a imprensa corre contra o tempo, entendo. Os jornais na Internet dão notícias em tempo real, e o furo hoje tem uma janela de minutos. Muitas vezes, os jornais dão furos que já são furados.

Na imprensa de outrora, os erros também eram muitos, alguns quase inexplicáveis. Estava lendo uns artigos da Quatro Rodas de 1972 e me deparei com alguns erros que provavelmente causam discussões em rodas de amigos até hoje.

Um artigo sobre a Prova dos Campeões de 1972 diz que Luiz Pereira Bueno havia marcado a pole para a corrida, com o tempo de 2m21.07s!!! Obviamente, deveria ser 2m51.07s, pois nem o Porsche 908-2 da Hollywood conseguiria fazer um tempo baixo assim em Interlagos. Nenhum esporte protótipo conseguiria este tempo! Os F1 rodavam em Interlagos na base de 2m35s na época. Entretanto, com certeza, muitos devem discutir até hoje que Luizinho rodava mais rápido em Interlagos do que os F1 da época!

Já na reportagem sobre o Festival de Roncos, somos brindados com a mítica figura do piloto Arthur Oswaldo, que teria terminado a corrida de D4 em segundo lugar com um Puma 1700. Quem seria o Arthur Oswaldo? Hoje é possível descobrir rapidamente que se trata de Arthur Bragantini, que já era um piloto razoavelmente conhecido com o sobrenome Bragantini na época. Por que foi usado "Oswaldo", não tenho a mínima ideia, pois Bragantini comumente usava seu Puma nas corridas da época, com certo sucesso.

Na realidade o automobilismo era um meio muito fechado, e todos conheciam todos. Por que o jornalista Emilio Camanzi não se deu conta de que o nome era outro? Ninguém checou os dados?

Pelo jeito não, pois na matéria sobre a primeira prova do campeonato brasileiro de Divisão 4, somos brindados com um fato novo! Mauricio Chulam Neto, que viria a dominar a categoria, teria participado da corrida com um Rainer VW de 2 litros! Espera aí - nos resultados e mais adiante no texto, dizem que Mauricio correu com um Heve! Todos sabemos que foi um Heve, porém, alguns mais cabeças duras insistirão que o carro era chamado de Rainer-VW e depois mudou de nome.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami

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