O taxista de São Paulo, e muito disse não disse
Muitos tentam
apontar qual é o momento em que começou a ferina rivalidade entre Nelson Piquet
e Ayrton Senna. Certamente, ao que tudo indica a guerra foi declarada antes
mesmo de Senna estrear na F1.
O palco foi a
pista francesa de Paul Ricard, no final de 1983. Nesse dia, Ayrton Senna e
diversos outros pilotos testaram o Brabham-BMW que havia ganho o campeonato
daquele ano nas mãos do também brasileiro Nelson Piquet.
Presentes estavam
o próprio Piquet, que marcou o tempo base no carro em configuração de corrida
(de 700 hp) e toda a hierarquia da Brabham.
De fato,
recentemente foram entrevistados pela revista F1, para falar sobre este teste,
Bernie Ecclestone, Gordon Murray, Herbie Blash e Charlie Whiting, três destes
ainda atuantes na F1, nos mais altos níveis. Dois destes, Ecclestone, o dono da
equipe, e Blash, o mecânico chefe, dizem que Piquet, conhecido por suas
brincadeiras, teria se referido a Senna como o "taxista de São
Paulo". Com isso, corre por terra qualquer teoria que no início da
carreira contemporânea dos dois tenha havido qualquer amizade ou mesmo
simpatia.
Outro fato é que
todos na Brabham sentiram que Piquet fez um tempo monstro, além do necessário,
com o intuito de mostrar que era o "cara". O Brabham-BMW 52B não era
um carro fácil de pilotar, com muito turbo lag, e na época Piquet era um dos mais
rápidos pilotos da F1. Cabe lembrar que na temporada seguinte Piquet foi o
recordista em número de poles, apesar de poucas vitórias.
O comportamento
de Piquet não ajudou em muita coisa. Senna foi de longe o novato mais rápido no
teste, ficando a somente dois segundos do tempo do campeão (algo como meio
segundo em termos atuais), e ao se referir ao se conterrâneo desta forma nada
sutil, acabou chamando mais atenção ainda para os dotes do brasileiro.
Obviamente Nelson não pensava isso do conterrâneo, que diga-se de passagem,
tinha ganho todos os títulos disputados na sua carreira automobilística na
Europa, algo que nem mesmo ele conseguira. A seriedade e concentração de Senna
impressionaram bastante Murray, acostumado com as brincadeiras de Nelson.
Quanto ao disse
não disse, seguia a estória no Brasil na época que Bernie queria um piloto
italiano ao lado de Piquet, para agradar o patrocinador Parmalat, e que nunca
houve qualquer intenção de a equipe contratar Senna. Ocorre que nesta
entrevista atual, Ecclestone dá uma versão diferente, dizendo que foi Piquet
que contatou a diretoria da Parmalat, e os convenceu de ter somente um
brasileiro na equipe, acompanhado de um italiano. Sendo assim, os irmãos Fabi
foram contratados para 1984.
Uma das duas
versões é verdade. As duas não podem estar certas.
Carlos de Paula é
tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami
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