Os anos 70

Podemos passar horas discutindo por que os anos 70 tiveram uma importância tão grande no automobilismo brasileiro, tanto é que mais se lê sobre corridas e pilotos dessa década do que qualquer outra nos diversos blogs e fórums.

Foi, afinal de contas, a década na qual o automobilismo brasileiro saiu da pré-história para a modernidade. Que não se ofendam os praticantes do esporte nos anos 60 e décadas anteriores, mas o esporte era praticado em condições bem precárias no País antes de 1970. 

Não estou falando de talento - talento havia em quantidades industriais nas nossas pistas - ou melhor, em grande parte ruas e estradas, pois autódromos eram tão poucos naquela época.
Proliferaram os autódromos, surgiram campeonatos organizados para diversas categorias de carros, pela primeira vez cumpria-se a maior parte dos calendários, um número razoável de construtores apareceu, as montadoras voltaram a investir no esporte, realizaram-se torneios internacionais no Brasil, houve a expansão do patrocínio, a presença de bólidos como Porsche 908, Porsche 917, McLaren, Alfa t33, Lola T70, Ford GT40 nas nossas pistas, o GP do Brasil, a transmissão de provas nacionais na TV, as provas de estreantes e novatos, provas com participação de pilotos argentinos. No exterior, nosso Emerson, e depois Pace, Wilsinho, Alex, Ingo e Piquet alcançaram bastante sucesso em diversas categorias. Quem diria, antes mesmo de Alemanha e França, tínhamos um campeão mundial de F1.

Um fato que também contribui bastante para o saudosismo dessa década foi a proliferação de categorias. É bem verdade que muitas não sobreviveram, algumas saíram do papel bem diferentes do planejado, e outras nem saíram do papel. Mas tudo isso mexeu, e ainda mexe, com a imaginação da rapaziada.

Já escrevi sobre a famigerada Fórmula Brasil, uma boa ideia que não deu em nada. A proposta variedade de motores e chassis acabou não acontecendo, e nas poucas corridas realizadas a categoria não passava de uma Fórmula Vê melhorada.

A Divisão 2 nem foi discutida como categoria. Que me conste, nunca houve qualquer movimento para implementar um campeonato de GTs brasileiros, que provavelmente seria dominado por Pumas, com um ou outro Lorena, KG ou SP2 no meio - ou seja, Fuscas disfarçados. Bem, na Europa o campeonato europeu era dominado por Porsches, quase a mesma coisa...Mas na década seguinte teria sido interessante ver os diversos GTs de pequena produção, como o Adamo, batalhando nas pistas. Assim, o Puma desapareceu das corridas a partir de 1973, quando não foi mais aceito na Divisão 4.

A Fórmula 5000 parecia só existir na cabeça do Avallone. Em entrevista para a revista AE, Avallone dizia que o estranho monoposto que acabou usando na corridas de Divisão 4, não era o seu misterioso carro de F5000. Mostrou inclusive um chassis tubular que dizia ser do F5000. Na minha opinião, o D4 de 1974 era sim o proposto F5000. Teria sido uma categoria bastante cara, e não creio que teria dado muito certo. Só os pneus custariam o olho da cara - como custavam para os carros da Categoria C da Divisão 3 e para os carros da Divisão 4 em geral.

A mais curiosa categoria natimorta foi, entretanto, a inicialmente chamada F-2 (ou até Fórmula Super Ford) e eventualmente rebatizada Fórmula Maverick, principalmente por que tinha respaldo de uma montadora. Muito se falou sobre isso no inverno de 1975, mas apesar de uma visita de Greco e do Presidente da Ford Brasil à Europa e escolha do chassis que seria usado na categoria, uma Lola, a Fórmula Maverick nunca saiu do papel. Não teria durado muito, também, como não durou o Maverick no Brasil.

O Lola de Fórmula Atlantic, escolhido como carro da Fórmula Maverick. O furor do inverno de 1975. 

Mas tudo isso, inclusive as categorias de maior sucesso, as guerras Opala x Maverick na D1 e D3, e do Passat e Fusca na D3, classe A, e o fim da estúpida briga entre CBA e ACB, foram fatos que podem ter tumultuado um pouco as coisas, mas certamente, criaram memórias que resistem as décadas.

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