A Melhor de Marinho


Mario Cesar de Camargo Filho foi um daqueles pilotos brasileiros que se tivesse feito carreira nos anos 80 ou 90 certamente teria acabado na Fórmula 1.

Ocorre que nos autos da história do esporte, Marinho não figura com muita frequência entre o rol dos vencedores por uma peculiaridade - quase todas vezes em que esteve numa corrida, Marinho tocou um DKW ou carro com motor DKW. Ou seja, quantitativamente foram poucos os louros de uma vitória na geral.

Via de regra, quando falamos sobre a melhor corrida de um piloto, essa é uma vitória. Neste caso Marinho não venceu na geral, mas ganhou na sua categoria.

A corrida foi o GP Presidente John Kennedy de 1964. Era uma corrida para carros de Mecânica Continental, realizada no anel externo de Interlagos. Entre os concorrentes, estavam Camilo Christofaro, com sua Maserati Corvette número 18. Com o mesmo carro estavam os experientes Roberto Galucci, Zé Peixinho, o novato Bica Votnamis e o desconhecido Alcides Camporezzi. Ubaldo Cesar Lolli e Eduardo Celidôneo tocavam Maseratis 3000, Antonio Carlos Aguiar uma Ferrari Corvette, Luiz Carlos Valente uma Alfa com motor Corvette. Ayres Bueno Vidal pilotou uma Maserati-Simca, Wladimir Fakri, o dono da Brinquedos Mimo, uma Maserati-Lancia 2500. Luciano della Porta tinha uma belíssima Ferrari de 3 litros, Augusto Marcos Lolli uma Ferrari de 2 litros e Marivaldo Fernandes uma Porsche de 2 litros, preparada por Chico Landi.

E Marinho?

Marinho tinha à sua disposição um Bianco-Landi de Fórmula Júnior com motor DKW. De 1 litro. Só ele e Lauro Soares (com F-Jr com motor Gordini) corriam com os Júnior, na classe até 2500 cm3. Ou seja, já estavam em franca desvantagem na sua própria classe, disputando com Porsches, Ferraris e Maseratis, que dizer dos carros com motor Corvette, quase cinco vezes maiores e muito mais potentes?

Nas provas de rua, o torque superior, menor tamanho e tração dianteira favoreciam o DKW, mas este, o anel externo de Interlagos, era o último lugar em que a receita DKW era favorável.

A corrida foi relativamente curta, de 50 voltas, mais ou menos uma hora. Ou seja, esperar quebradeira para subir de posição, como nos 500 km, não era uma estratégia das melhores, embora os Continental frequentemente quebrassem. Marinho ia ter que sentar a bota.

Para ter uma ideia, o melhor tempo na corrida foi de Camilo Christofaro, com 1m11s1. Marinho não se intimidou com a cavalaria à sua frente ou na retaguarda. Chegou a fazer 1m18s, ou seja, meros 7 segundos a menos do que Camilo, que estava voando naquele dia.

No final de uma hora e alguns minutos, Marinho havia completado 47 voltas, e chegou em quinto.
Quase papa Zé Peixinho e sua Maserati-Corvette de 4,5 litros. Só ficou atrás de Galluci (o único a fazer 50 voltas, diga-se de passagem), Ubaldo, Valente e Peixinho. A plateia ficou entusiasmada com o nanico carro em meio de tantos bólidos, e quem lá estava saiu contente por ter visto uma performance superior de um piloto superior.

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