De repente o politicamente correto era inevitável...

Não escondo de ninguém que sou contra qualquer tipo de rótulo. Infelizmente, o seguidor ferrenho da filosofia politicamente correta aceitou um rótulo para si, e pior ainda, provavelmente usa uma boa dose de hipocrisia ao discorrer sobre muitos assuntos, pois fala não o que pensa, mas sim o que é aceitável dentro da filosofia. Ninguém neste mundo ficará sabendo o que realmente se passa nos recônditos mais profundos, nos meandros da alma deste indivíduo rotulado. Porém, suas ações provavelmente nem sempre seguem a filosofia, afinal, ninguém é de ferro.

Entretanto, analisando certos valores que são certamente louváveis na sociedade ocidental, porém nem sempre praticados, vemos que o terreno para a tal filosofia vem sendo preparado há algum tempo. E a notável hipocrisia fica aparente.

Que tal um mundo com justiça, imprensa imparcial, democrático e sem monopólios. Mais ou menos um Imagine do John Lennon (que diga-se de passagem, na vida real, fora das letras de suas músicas, brigava com todo mundo).

Quem não quer justiça? Todo mundo quer. Ocorre que a própria filosofia do direito preconiza a existência de um Direito Natural e de um Direito Positivo. O direito natural, que é considerado utópico, seria o direito como deveria ser, o direito positivo, como ele é. Ou seja, um seria um direito perfeito - a tal justiça - e o outro um direito torto cheio de leis injustas. De fato, fica claro que a primeira coisa que um juiz - o vulgo instrumento de implementação da "justiça" no mundo - aprende é que ele não existe para fazer justiça, mas sim, fazer cumprir a lei, com todas as suas imperfeições! Assim, quando lemos justiça daqui e dali, temos uma ideia de proteção, de um poder benévolo que procura consertar as mazelas do litígio, proteger as criancinhas e velhinhos e equilibrar a atuação dos outros poderes. Daí descobrimos que o juiz não está lá para fazer justiça, no strictu sensu, e sim fazer cumprir a lei, frequentemente injustiça e cheia de becos, bem navegados por advogados espertos. Um juiz mais ousado, principalmente nos EUA com o seu common law  baseado em precedentes jurídicos do que códigos do Direito Romano, pode fazer justiça. Ou pelo menos aqui que julga ser justiça...Porém, nos assuntos em que rola dindim, frequentemente há códigos deveras específicos, e o poder justiceiro dos magistrados se esvai rapidinho...

Que tal uma imprensa imparcial? Primeiramente, cabe notar que a imprensa é uma coisa recente na história da humanidade. É um poder, poder poderosíssimo de fato. E sua imparcialidade de suma importância!!! Ocorre, entretanto, que uma imprensa 100% imparcial é tão utópica quanto o tal Direito Natural, o direito como teria que ser. Como empresas comerciais, que precisam de dinheiro para sobreviver, obviamente a imprensa já tem um grande problema - deve-se evitar falar mal de quem paga suas contas...nem o Maquiavel precisou sacar esta. E tem a política, também, a politicagem. Até o New York Times, frequentemente citado como o melhor jornal do mundo - e supostamente imparcial - tem lá suas óbvias parcialidades. A própria definição de pauta, e edição, são instrumentos de parcialidade, normalmente empregados por editores de todos os tipos de empresas jornalísticas. Como não dá para cobrir tudo, cobre-se aquilo que julga-se mais relevante. Relevante ou conveniente para impulsionar uma certa visão do mundo e favorecer isso ou aquilo? De novo aparece a face horripilante da parcialidade.

A democracia também é algo desejável. Sacumé, todo poder emana do povo, etc, etc...Porém, a democracia verdadeira é praticamente impossível de ser implementada, ou de sobreviver. Vejamos a democracia americana. Já começa o fato de efetivamente só haver dois partidos relevantes no país, o Republicano e o Democrata. Sim, há algumas dezenas de outros partidos, que nunca elegem ninguém. Aceitemos a premissa de que a vontade do povo prevalece neste caso também, a maioria opta pela existência efetiva de somente dois partidos, que se alternam no poder. Então, se o que conta é a opinião da maioria, os anseios da maioria, me expliquem porque o partido Democrata favorece os pobres, e o Republicano, os ricos, duas minorias, e a estúpida maioria composta da classe média (que elege e se digladia em favor desses políticos) está sempre posta de lado, e oprimida, e não é representada nem por um, nem pelo outro? Será que o predomínio destes dois partidos é impulsionado por demanda ou por oferta?  Sim, existe uma beleza de poder escolher os políticos que nos governarão, que obviamente amam a democracia. Será que amam mesmo? Por que o sonho de consumo de quase todo político é se perpetuar (pessoalmente ou através do seu partido) no poder, seja qual for o matiz ideológico do sujeito(a). Pergunte a um democrata se acha boa a alternância de poder e ele provavelmente dirá que os republicanos são o diabo encarnado, e vice-versa, e que o ideal era ter seu partido na perpetuidade.

Monopólio é coisa de egoístas, e o bom cidadão empresarial gosta de concorrência... A MAIOR MENTIRA DA FACE DA TERRA!!!Provavelmente todo empresário quer (e colabora para) a falência dos seus concorrentes diretos, ou de preferência todos, e quer ser monopólio. Por analogia, da mesma forma que o político quer se perpetuar (ou perpetuar seu partido) no poder. É bonito elogiar os concorrentes publicamente, porém, por trás o cara está fazendo de tudo para destruir seu nêmesis econômico.

Ou seja, existe um descompasso muito grande nas teorias, na retórica de justiça, imprensa imparcial, democracia e anti-monopólio,  É muito bonito você dizer que carrega todas essas bandeiras, porém, provavelmente reclamará quando a justiça (não o direito, a justiça) se voltar contra você, o jornal publicar algo que você não gosta, seu partido não ser eleito nem com golpe de estado e seus concorrentes fecharem o cerco e você perder fatias do mercado. Sim, é muito bonito ser um cara cheio de ideiais louváveis utópicos, e dizer a coisa certa, na hora certa. O difícil é agir assim.

Por isso, acho que o trabalho de terraplenagem já começou há um bom tempo.

Não estou com isso dizendo que não devemos pelo menos almejar a democracia, a concorrência, a justiça e a imparcialidade na justiça. Só são tão difíceis de ocorrer na forma mais pura como ganhar na loteria vinte vezes seguidas.

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