A era das celebridades no Brasil

Às vezes é bom começar as coisas pelo meio, para quebrar a rotina. Não se trata de querer ser rebelde ou diferente. Conheço um sujeito que sempre começa seus "causos" no meio, na realidade, com uma incompreensível frase em andamento, e infelizmente o interlocutor geralmente não entende do que se trata depois de uma narrativa de meia hora. Prometo que apesar de começar pelo meio, você vai entender o que quero dizer. Ou não.

Não aceito muito essa ideia de que hoje em dia a violência é a maior da história da humanidade. No início dos anos 70, passeando na Avenida São João quando ela ainda era a cine, e não a craco lândia de São Paulo, um pivete tentou colocar fogo em mim jogando um cigarro acesso na minha japona de nylon, com um mundo de gente ao lado. Tudo isso  na época dos militares, com Rota na rua e o escambau, Nos anos 20, os chineses - tanto nacionalistas como comunistas - eram conhecidos pelos seus meticulosos métodos de tortura - entre outros, enterrar vivos traidores, junto com suas respectivas famílias que nada tinham a ver com o pato de Pequim. Na Guerra do Paraguai, os soldados argentinos não se satisfaziam em simplesmente matar os antagonistas paraguaios  - adoravam arrancar-lhes a cabeça, só por esporte e prazer.  Nos anos 70 os Khmer Rouge mataram quase metade da população cambojana, e antes deles, teve o Stalin, o Mao, que limparam o meio de campo dos seus respectivos domínios. Muitos dos pacíficos índios que povoavam a costa brasileira quando os portugueses chegaram eram canibais de carteirinha, e os galegos eram vistos como suculento gado. Tem também os maias, aquele povo que muitos afagam com honras de povo iluminado, com seus sofisticados calendários e cidades, e num só dia cometeram 20.000 sacrifícios humanos. VINTE MIL. Só alguns pequenos exemplos. Quer mais?

Se você ler a história chegará à conclusão de que a humanidade sempre foi podre, e sempre será. Ora bolas, no país no qual foi criado o comportamento politicamente correto, os EUA, ainda se mata um grande número de prisioneiros anualmente, com uma pena de morte que não faz sentido (inclusive custa mais do que manter os prisioneiros vivos).

Ocorre que hoje existe mídia massiva em tempo real, jornais, blogs, canais de TV às pencas, redes sociais, Youtube, twitter, email, meios que multiplicam sobremaneira a divulgação das mais torpes notícias dando a ideia de que vivemos na pior das épocas da humanidade. A ideia de desenfreada violência é dada pelo volume de informações vindas de todos os cantos. Além da forte divulgação, queiram ou não, nunca houve tanta polícia, promotores, advogados e cadeias no mundo. Por fim, em alguns lugares, como aqui nos EUA, o sistema carcerário é Big Business, e as cadeias devem ser mantidas em "full occupancy", como hoteis e hospitais. Afinal, lucrar é preciso.

Há algo de positivo nisso, paranoias à parte.

Entretanto, a mesma onipresente mídia - que ainda não achou uma maneira de entrar nos nossos sonhos, mas acredito que um dia encontrará um caminho - também expandiu a consciência, e por que não dizer, criou uma necessidade de idolatrar, ou mesmo de odiar, certamente de consumir celebridades 24 horas por dia.

Algumas, como as narigudas e feiosas Kardashian, sem nenhum talento à vista - até a igualmente feiosa Lady Gaga é extremamente mais talentosa do que todas hermanas armenianas juntas -  conseguem ganhar dinheiro com sua imagem. Geralmente, exibindo protuberantes e fartas porções de suas infladas partes pudendas. E conseguem ganhar milhões com isso!!!

Um coreano que não canta, não dança e não compõe bem, e está para longe de ser bonito,  consegue bilhões de page views no Youtube...

O resultado final disso é uma cultura a celebridade não alavancada em mérito intrínseco, algo desastroso.

O jornalista Bryan Williams, âncora da ainda poderosa NBC, pelo jeito não se contenta em simplesmente narrar as notícias, quer fazer parte delas! Cabe aqui um aparte. Conheço muitos jornalistas, e acredito que a maioria é gente ética da mais fina estirpe. Porém, diversos fazem de tudo para ter um furo, inclusive compram informações obtidas por meios questionáveis, mentem, fazendo-se de autoridades ou advogados, traem amizades, e citam "fontes não identificadas", que às vezes nem existem como não existiram os torpedos que atingiram o helicóptero de Williams. Sem contar a a endêmica falta de apuração! A wikipedia é a principal e única fonte de apuração usada por muitos nobres membros da imprensa... Mas tem o prêmio Esso...Aliás, ainda existe o prêmio Esso, nas minhas últimas idas ao Brasil não vi um único posto Esso...

No nosso Brasil, ah nosso querido Brasil, que adora copiar tudo que há de ruim no mundo, e pouco do que há de bom, a mídia também tem suas crias. O deputado "Aero" Willys, por exemplo, elegeu-se deputado, o mais escandaloso de todos, que faz de tudo para estar na mídia, após escandalizar no mais escandoloso dos programas, o BBB. Moçoilas às vezes nem tão bonitas não hesitam em tirar a roupa para "comprar um apartamento para a mãe" (as impecuniárias  mães são sempre as culpadas...) com "ensaios" na Sexy ou Playboy. Inclusive teve uma juíza de futebol, segundo um juiz de direito, um "viril esporte", que usou este subterfúgio para tentar sair das laterais dos campos esportivos. "La Piovani", quando perdeu o viço da juventude, começou a comprar todo tipo de polêmicas via twitter, para se manter "da hora". Tem o Lobão e sua pseudo-direitista retórica, que não convence. E tem até gente que, dizem as más línguas, diz que virou gay só para aparecer, afinal de contas é fashion portar a bandeira LBGT, dá Ibope.

Além dos midiáticos de plantão, que essencialmente vivem da mídia, há aqueles cujas atividades não são inerentemente midiáticas, mas que manipulam a mídia para turbinar seu estamento. Entre estes, políticos e empresários.

O Eike Batista chegou a ser heroi no Brasil. Lembro que aqui no exterior tinha brasileiros que o tratavam com uma reverência igualável a Ayrton Senna e Pelé. Pois além de haver a certeza de que um dia ficaria mais rico do que Carlos Slim e Bill Gates, nosso brazuca ainda era bonitão e está sempre acompanhado de gostosas, recicladas após alguns anos...Que pobreza de espírito... Da mesma forma que foi idolatrado - pelo jeito não só pelo povaréu, mas também pelo mercado de capitais, que agora se diz enganado - agora o Eike é o capeta personificado, e cada sequestro de seus bens é comemorado pela sociedade! Teve também o Edemar do Banco Santos.

Da mesma forma que o povo eleva algumas figuras ao status dos herois, os crucifica, com uma rapidez cruel.

Lembro que muita gente que atualmente critica ferozmente a presidente do país,  a aplaudia como caçadora de corruptos no começo do primeiro mandato, com uma convicção estarrecedora e cheque em branco. Assim como grande parte do povo, apesar do plano confiscatório, achava o jovem presidente Collor do sorriso Colgate e aquilo roxo, o máximo porque andava de Ferrari e aviões de caça, supostamente sem vomitar.

Tem o lado mais light da história. Gente que nunca deu bola para futebol americano  de repente virou fã do esporte - que eu considero tão barbáro  como o boxe - só porque o marido de la Bundchen, uma brasileira, era o principal jogador de um dos times que disputaria  o Super Bowl!!!

Só que esse "overkill" midiático geralmente é passageiro, ainda bem. Infelizmente, tem sempre sangue novo na parada...

Aff..


Viva a terra do carnaval e futebol!  

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