Impasse

O automobilismo seria muito mais agradável, se não fosse pela politicagem. Infelizmente, uma das definições mais sucintas de política é "administração de conflitos", e a atividade implica conflitos de interesses de diversas partes. Assim, a política é inevitável.

Em 1986 os participantes do Campeonato Brasileiro de Marcas que não corriam com produtos VW estavam cansados do domínio da montadora alemã. A fábrica já tinha ganho títulos com o Gol e com o Yoyage, e naquele ano pretendia alinhar uma equipe de fábrica, além de carros semi-oficiais, com o modelo Passat. As outras montadoras, Ford, FIAT e GM, não tinham equipes de fábrica.

Um lobbyzinho daqui, e outro ali, e partes representando as outras montadoras conseguiram que a CBA permitisse o uso de turbos. Entre as partes interessadas estavam Luis Otavio Paternostro e Atilla Sipos, que representavam a Garret, fabricante dos kits de turbo. Como estes seriam instalados por equipes particulares, certamente a VW achou que poderia conter o estrago, com um preparo mais meticuloso.

Assim foi durante parte do ano. Os FIAT e Escort turbo eram rápidos, mas não duravam muito. Geralmente quebravam, e os Passat geralmente ganhavam. Isto no começo da temporada.
No final da temporada, as coisas mudavam de figura. Para dar uma ideia, os Passat faziam 193 km por hora ao passar pelos boxes de Interlagos, e 210 km por hora no final do retão. O Fiat Uno turbo, por outro lado, conseguia fazer 232 km por hora na frente dos boxes, e 260 km por hora no final do retão, e o Escort, 220,8 km por hora na passagem dos boxes e 254 km por hora no final do retão. Opa, uma senhora diferença.

Não era somente um diferencial de velocidade. No final da temporada os Fiat Uno, e principalmente os Ford Escort da equipe Greco começaram a terminar corridas com mais frequência, deixando os Passat a ver navios.

Ainda assim, a VW ganhou o campeonato de 1986, com 187 pontos contra 130 da Ford. Nos pilotos, as duplas da VW Armando Balbi/Alexandre Negrão, e Rogerio dos Santos/Coelho Romano chegaram na frente de Fabio Sotto Mayor, da equipe Greco (Ford). Entretanto, alegando não ter interesse em equipar seus carros de rua ou de corrida com motores turbo, a VW anunciou a saída da sua equipe oficial.

Ninguém gosta de perder.

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