25 Horas de Interlagos de 1974

OS RESULTADOS NESTE ARTIGO NÃO REFLETEM AS DESCLASSIFICAÇÔES POSTERIORES - ESTES RESULTADOS SERÃO PUBLICADOS SEPARADAMENTE

Segundo vimos antes, a primeira “temporada” de Divisão 1 fora um tremendo sucesso, embora não tenha havido campeonato. Com corridas em São Paulo e Tarumã, as disputas atraíram bom público e interesse, em grande parte pela “briga” entre os Ford Maverick e Chevrolet Opala. O Opala há anos desfrutava de grande sucesso no Brasil, pois o único carro que potencialmente podia ameaçá-lo nas pistas daqui era o Dodge Charger/Dart. Este, entretanto, não se adaptou aos autódromos brasileiros, e o novato Maverick acabou dando uma lavada no Opala, ganhando todos os confrontos entre as duas marcas na Divisão 1 de 1973, inclusive a badalada “Mil Milhas”, aberta para carros da Divisão 3 e a primeira edição das 25 Horas.

Essa é a história mais visível. O subtexto era o uso do motor 302 V8 nos Maverick de corrida, de fato, um motor importado dos Estados Unidos, que era oferecido como “opcional” para os compradores do Maverick. Ou seja, além de ter uma vantagem de cilindrada mesmo no motor normal, o modelo da Ford tinha um motor especial, pelo menos sob a ótica do pessoal da GM, mas que fora devidamente homologado pela CBA no ano anterior.

Era a primeira vez, desde os idos de 1966, que fábricas se interessavam em confronto direto nas pistas brasileiras. É certo que a Ford já apoiava a Fórmula Ford, mas esta era de fato uma categoria monomarca. Na Divisão 1 havia disputa, e ferrenha, entre os carros de duas marcas.


Opala 250 S - Triunfo na estréia - depois as coisas complicariam

Na primeira prova de Divisão 1 do ano ficara clara a desvantagem dos Chevrolet. Nos 1000 km de Brasília, o primeiro Opala no grid ficou em 9o. lugar, e apesar da superioridade numérica dos produtos da GM, o Opala melhor classificado chegou em nono: curiosamente, pilotado por um tal Arui de Souza, e um certo Nelson Souto Maior (ou seja, Nelson Piquet, que se revelaria na Supervê naquele ano e se tornaria tri-campeão mundial).

Devido ao insucesso do Opala, algo precisava - e já estava - sendo feito.

A GM resolveu preparar o seu próprio motorzão, que denominou 250-S. A GM tentara inscrever um carro com esse motor já em Brasília, com Jan Balder e Fausto Dabbur, mas a CBA vetou a intenção, alegando que o motor não estava à disposição do público, e, portanto, feria uma parte vital do regulamento da D-1. A GM resolveu adotar uma “equipe semi-oficial de fábrica”, no mesmo molde que a Ford fizera com Grecco e a Mercantil Finasa Ford. A equipe seria a Itacolomy-Safra, que contava, entre outros, com Bob Sharp em seu elenco de pilotos. Como não se conseguira a aprovação do motor na moleza, obteve-se um mandado se segurança, que permitiu a Itacolomy alinhar quatro carros com o motor especial.

Acontece que mesmo com o 250-S, o Opala só desenvolvia 179 HP, contra 195 to 302 V8. E a Ford prometeu mais: o equipamento Quadrijet, com carburador quádruplo, coletor de admissão em liga de magnésio, etc etc., que elevaria a sua cavalaria para 255 HP!!! Coitados dos Opalas! A Ford tentou alinhar Quadrijets nas 25 Horas, mas esta fora a sua vez de ter pedido indeferido pela CBA. Assim, as 25 Horas teriam o 250 S, mas não o Quadrijet.
A Itacolomy também contava com uma forte equipe de pilotos, e no seu carro principal, Wilson Fittipaldi Jr., que voltava a morar no Brasil para construir seu Copersucar F-1, Ingo Hoffmann e o “boss” da Itacolomy, Reinaldo Campello di Lucca. Além disso, também contava nos seus quadros com Edgard Mello Filho, Ney Faustini, Bob Sharp e Amandio Ferreira.


Os Maverick tiveram que se contentar com o 2o. posto: Aloysio Andrade Filho/Laercio dos Santos e Mario Ferraris Neto

O grande concorrente da Itacolomy nas 25 Horas seria a Mercantil Finasa Ford, cujo carro principal era pilotado por Paulo Gomes/Antonio Castro Prado e Paulo Martinelli, além de Bird Clemente e Marivaldo Fernandes em outro carro. Entretanto, embora a sorte tenha sorrido para Grecco demais no ano anterior, nessas 25 horas durou só 4 horas e meia. Assim que o trio formado por Wilsinho/Ingo/Campello ganhou a disputa com certa facilidade, apesar de passar em 11° na primeira volta. De fato, só lideraram, além do trio vencedor, os Opala de Edgar Mello Filho e de Ney Faustini/Amandio Ferreira/Anesio Hernandes, também da Itacolomy, e o Maverick da Manah, com Arthur Bragantini/Tite Catapani e Mário Pati Jr.


Bela estreia da Alfa 2300 com o sugestivo número 33. Infelizmente, a sua categoria seria transformada para abrigar o Dodge 1800, e a Alfa ficou fora das corridas no Brasil

De novidade, além do 250S, a positiva estréia da Alfa Romeo 2300 nas pistas brasileiras, com o alfista Mario Olivetti/Murilo Pilotto e Elton Rohnelt. O trio carioca fez excelente figura, chegando em 6° lugar, na frente de diversos Maverick e um Opala. Ganhou com facilidade a Classe B. A Classe A foi ganha por Jose Julião Neto/Arturo Fernandes e Oswaldo Carajelecow, com uma Brasília, seguida de um Volkswagen TL de Cláudio Cavallini/Ricardo Mansur e Orlando Lowecchi Fo. Esta foi a melhor corrida de um TL no automobilismo brasileiro. Como na primeira edição das 25 Horas, diversas figurinhas carimbadas de outrora participaram da corrida. Destaque para Waldomiro Pieski, corredor de DKW nos anos 60, que correu com um Chevette, e Fritz Jordan, que compartilhou um Maverick com Lian Duarte e Totó Porto.
Apesar de não haver protestos, o trio da Itacolomy só foi declarado vencedor após reunião do Conselho Técnico Desportivo Nacional, que acabou confirmando a vitória do 250 S – e a homologação do Quadrijet! A saga continuaria...

Resultado das 25 Horas de Interlagos de 1974 (ants das desclassificações)
Percurso: 2969,225 km, 373 voltas
Média Horária: 118,769 km/h
Melhor Volta Wilson Fittipaldi Júnior, Opala 250 S, 3m46.2s
Posição/Pilotos/Carro/Classe
Voltas
1. Wilson Fittipaldi Jr/Ingo Hoffmann/Reinaldo Campello – Opala C, 373
2. Aloyisio Andrade Filho/Laercio dos Santos/Mario Ferraris Neto–Maverick C, 370
3. Ney Faustini/Amandio Ferreira/Anesio Hernandes – Opala C. 369
4. Mario Pati Jr/Tite Catapani/Arthur Bragantini – Maverick C. 369
5. Tony Rocha/Peter Schultzwenk/Luis de la Roque – Maverick C. 366
6. Mario Olivetti/Elton Rohnelt/Murilo Pilotto – Alfa Romeo 2300 Vencedor Classe B, 363
7.Carlos Eduardso Andrade/Luis Moura Brito/Bruno Castello – Maverick C, 361
8. Lian Duarte/Totó Porto Fo./Fritz Jordan – Maverick C, 361
9. Luis Estevao Garcia/Paulo Guaraciaba/Jayme Silva – Maverick – C, 359
10. Celso Frare/Edson Graczyk/Oswaldo Carpes – Opala C, 356
11. Cleber Mansur/Antonio Barros/Regis Schuch – Alfa Romeo 2300 B, 352
12. Jose Alverne Argentino/Paulo della Volpe/Nathaniel Townsend – Maverick C, 342
13. Jose Juliao Neto/Arturo Fernandes/Oswaldo Carajelecow – Brasilia Vencedor A, 340
14. Claudio Cavallini/Ricardo Mansur/Orlando Lowecchi Fo. – Volkswagen TL A. 340
15. Joao Borges Aguiar/Luis Antonio Stiapello/Marcos Junqueira – Chevette A, 339

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RESULTADOS DE CORRIDAS BRASILEIRAS REMOVIDOS DO BLOG

O taxista de São Paulo, e muito disse não disse

DO CÉU AO INFERNO EM DUAS SEMANAS - A STOCK-CAR EM 1979