Corrida é cultura, ou questões fracionárias

Houve época - nos anos 50 - quando marcar a volta mais rápida em uma corrida dava ao autor do feito um ponto. Acho que a prática deveria voltar. Não somente um ponto para a volta mais rápida, como outro para a pole. No caso das voltas mais rápidas, algumas figuras como Brian Henton teriam obtido pelo menos um ponto na F1. Por outro lado, o Schumi teria acumulado um grande saco de pontos, com as suas múltiplas dúzias de poles e voltas mais rápidas. E esses pontos poderiam ter mudado os resultados de alguns campeonatos, principalmente nas guerras entre Prost e Senna.

O problema - se é que podemos chamar isso de problema, num mundo cheio de crimes, tornados e terremotos - é que esse ponto devia ser dividido, se mais do que um piloto igualasse a marca.

Os cronômetros dos anos 50 estavam longe de ser tão precisos quanto os de hoje em dia. Também não existiam células foto-elétricas ou transponders. Ainda assim, geralmente só um piloto levava o pontinho para casa.

Só que, por uma razão que não consegui apurar, a cronometragem do GP da Inglaterra de 1954 foi feita somente até segundos, ao passo que nas outras pistas já chegava aos décimos.

Deu no que deu.

No fim da prova, ganha por Froilan "Cabezon" Gonzalez, nada menos do que sete pilotos marcaram a volta mais rápida. Além de Froilan, Hawthorn, Marimon, Fangio, Moss, Behra e Ascari igualaram a marca de 1m50 segundos. Foi uma festa argentina, pois não somente ganhou um argentino, como o terceiro e quarto eram argentinos e os três marcaram a volta mais rápida.

Ou seja, cada um desses sete pilotos levou um humilde um sétimo de ponto para a casa.
No final do campeonato não fez muita diferença. Tanto o segundo como o terceiro colocado no campeonato obtiveram a fração de ponto, e apesar de ter que se desfazer de um ponto e meio obtidos na Bélgica, Gonzalez terminou vice-campeão, com 25 pontos e meio, marginalmente na frente de Hawthorn. Cabe lembrar que naquela época era possível compartilhar carros, e se este pontuasse, os pilotos ganhavam frações de pontos.

No caso de Hawthorn, e somente dele, era necessário saber somar frações corretamente, pois além do sétimo de ponto obtido na Inglaterra, Mike otivera um ponto e meio na Bélgica, pois fora ele a compartilhar o carro com Cabezon. Assim, cabe á ele a esquisita pontuação de 24 pontos e nove quatorze avos, sui-generis na história do esporte. F1 é cultura também, é preciso saber somar frações.

Tristemente, o argentino Onofre Marimon teve pouco tempo para comemorar seu pódium (e 1/7 de ponto) na Inglaterra, vindo a falecer nos treinos em Nurburgring, no round seguinte da F1, o primeiro piloto a morrer num round da F1 fora de Indianapolis.

Marimon no escritorio

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