A F1 dos anos 50

Os relatos do automobilismo brasileiro nos anos 50 nos dão a impressão de que tudo era muito improvisado, amador, feito por pessoas apaixonadas, mas sem recursos. Isso é verdade. Só tem uma coisa - isto também se aplicava à Fórmula 1 da época. Ouviram bem, era essa a vida na F-1 da época .

Estamos acostumados a ler sobre as aventuras da Ferrari, Mercedes-Benz, das equipes de fábrica com múltiplos carros. Só que estes, os Fangio e Moss da vida, eram as exceções. A regra eram os independentes, aqueles pilotos que disputavam uma corridinha aqui, outra ali, muitos dos quais nunca marcaram um único ponto. Estes compunham a maioria dos grids, quantitativamente.

O personagem dessa história é Bruce Halford, um inglês que participou da F-1 entre 1956 e 1960. Bruce havia adquirido um Maserati 250F, com o qual disputou diversas corridas a partir de 1956, assessorado por seu fiel mecânico Tony. Após disputar diversas corridas de Formula Libre na Inglaterra no início da Temporada de 1957, Tony levou o Maserati para fazer uma revisão na fábrica, usando o ônibus AEC adaptado para transporte de bólido. A humilde equipe pretendia pagar a fábrica com o prêmio de largada no GP de Caen, uma corrida extra-campeonato a ser realizada na França.

O pau-pra-toda-obra mecânico colocou o carro no AEC, e partiu em direção da França. Halford, vindo da Inglaterra, já estava em Caen, acompanhando do jornalista Dennis Jenkinson. Um pouco depois de entrar na França, o ônibus inglês deu pane. Tony desceu cuidadosamente a serra, para chegar na cidade francesa de Briancon, onde pretendia consertar o ônibus e seguir a viagem de mais de 800 km para Caen. Era quinta-feira.
Infelizmente, não foi possível achar quem consertasse o ônibus, por falta de peças. Assim, Tony chamou para Bruce em Caen, e o alertou sobre o problema. Logo saiu à busca de transporte alternativo, e só achou um caminhão Berliet imenso, cujo dono, um também gigantesco francês, concordou em aceitar o frete. Já era sexta-feira, e na melhor das hipóteses, Tony e o Maser chegariam atrasados. O dono do caminhão trouxe um aprendiz, e depois de muito trabalho, conseguiram colocar o Maserati em cima do caminhão, sem, entretanto, fixar o carro apropriadamente.

Tony frisou para o francês que não tinha dinheiro para pagá-lo, e de fato , para que rolasse a grana, tinham que chegar a Caen a tempo de participar da corrida e ganhar pelo menos o prêmio de largada. Para que! O imenso francês decidiu dirigir o também hiper dimensionado caminhão como um louco. O Maserati dançava para todos os lados em cima do caminhão, e Tony chegava à conclusão de que não chegaria vivo na outra cidade, e se chegasse, o Maser estaria destroçado. O inglês resolveu então convencer o fretista a passar a direção do caminhão ao ajudante. O que um tinha de rápido, o outro tinha de vagaroso. Tony então mudou de ideia, e o tresloucado francês voltou a pilotar o Berliet a toda velocidade.

Os três (quatro se contarmos a Maserati) chegaram em Caen no sábado, sem sequer ter parado para comer. Halford conseguiu disputar a prova, na realidade, chegou em terceiro lugar, seu melhor resultado em uma prova de F1. Com isso, não só tinham dinheiro para pagar a Maserati pela revisão, como também o caminhoneiro. Ainda sobrava uma graninha, o proverbial lucrinho. Com base no excelente resultado, Halford conseguiu se inscrever no GP da Alemanha, que terminou em décimo primeiro lugar, seu melhor resultado no Mundial de Pilotos.

Assim era a vida da maioria dos pilotos do grid, esforçados ingleses, italianos, franceses, alemães, belgas, suiços, e às vezes até mesmo brasileiros e argentinos. Não muito diferente da vida dos automobilistas brasileiros da época.

O ônibus de Halford, que quase estraga a temporada do inglês em 1957

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