Prodígios

Todo mundo gosta de um prodígio. Quer dizer, ou gosta, ou inveja. Todos pais acham, e se regozijam, que seus filhos são prodígios de uma forma ou outra. Nos estudos, na inteligência, na beleza, nas artes, nos esportes, na esperteza, até no sexo(!!!), durma-se com um barulho desses.

Ser prodígio pode, entretanto, ser um problema, ou acarretar patologias mais tarde.
Vejam os artistas-prodígio. Uma vez identificados, são continuamente adulados e lembrados da sua estatura. Alguns tomam isso como o ponto de partida de sua evolução, outros empacam e se julgam absolutamente prontos para a luta, no mesmíssimo nível em que se encontram na tenra idade. Em suma, quando se tornam adultos, ainda estão desenhando, atuando ou cantando como adolescentes.

Não fui uma criança muito especial, embora desenhasse muito bem e tivesse mania de compor músicas. Ou seja, não adquiri os hábitos típicos dos prodígios, entretanto, também não evolui muito nessas áreas por vontade própria.

Entretanto, me lancei no mundo dos negócios muito novo, com 22 anos. Chegava a ser engraçado. Participava de reuniões da Camera de Comércio Brasileira em NY destoando completamente dos colegas, todos sizudos homens e mulheres para lá de maduros, advogados, banqueiros, executivos, alguns com 70 anos ou mais. No princípio estranhavam, mas eventualmente a maioria me aceitou como profissional apesar do meu frescor juvenil, tornando-se inclusive meus clientes. Vez por outra, aparecia algum assessor de assessor da minha idade, mas eu não era assessor, era "o cara".

Isto me criou alguns problemas. Entre outras coisas, como forma de proteção, fiquei um pouco arrogante, e me fiz concessões que hoje me custam caro. E hoje, embora ainda me sinta um "prodígio", tenho cinquenta anos e já passei da idade. Poderia ter evoluído mais, com certeza.
Este post não é sobre o Vettel. Verdadeiro prodígio, o garoto está indo maravilhosamente bem, e só tende a melhorar. Outros prodígios não se deram muito bem. Alguersuari até agora não deu sinais de ser um substituto a altura de Alonso. Jan Magnussen não deu certo nos monopostos. E o nosso Tarso Marques chegou muito cedo à F1. Marco Campos morreu cedo, como Ricardo Rodriguez.

O post é sobre os três prodígios neozelandeses da F1 - Bruce McLaren, Chris Amon e Mike Thackwell.

Dos três, somente McLaren deu certo na F1, e com reservas. Foi durante muito tempo o mais jovem vencedor de um GP, com 22 anos, e vice-campeão logo na sua segunda temporada. Daí a carreira na F1 estagnou. Tornou-se um construtor de sucesso antes de chegar aos trinta anos, ganhou um GP do Mundial com seu próprio F1 e chegou em terceiro no campeonato de 1969.

Já Chris Amon chegou à F1 com pouco mais de 19 anos. Obviamente talentoso, Amon deu algumas cabeçadas com equipes fracas na F1 até chegar na Ferrari, em 1967. Lá mostrou que era um piloto de primeira, mas logo adquiriu a alcunha de piloto mais azarado de todos os tempos. Nos seus quatorze anos de F1 (1963 a 1976) Amon pilotou uma infinidade de carros, inclusive um projetado por ele mesmo. Indo de mal a pior, Amon chegou na fraca Ensign em 1975, e no ano seguinte, fez o carro andar forte. Apesar disso, o carro era estruturalmente fraco (quase mata Jacky Ickx) e Chris abandonou a equipe antes do final do ano, tentando largar uma última vez com um carro da Williams.

Bruce e Amon compartilharam o Ford que ganhou Le Mans em 1966, para Bruce a consagração de um já veterano, e para Amon, a confirmação de que tinha futuro. Amon chegou a disputar diversas corridas na equipe de Grupo 7 de McLaren, na Inglaterra e na Can Am, mas eventualmente, os kiwis seguiram caminhos diferentes.

Amon saiu ileso da F1, é hoje fazendeiro na Nova Zelândia, mas Bruce morreu testando um dos seus bólidos de Can Am em Goodwood, Inglaterra, com 32 anos.

Nos anos 70, outro kiwi prodígio chegou à Inglaterra, esse o mais enigmático dos três, Mike Thackwell. Já chegou arrasando na F3, eventualmente arrasou também na F2, ganhou corridas do Mundial de Marcas. Na F1, Mike teve pouquíssimas chances, na Arrows e na Tyrrell, em 1980, acidentando-se no GP do Canadá, Depois disso, teve uma oportunidade ns RAM e na Tyrrell, em 1984, abandonando a prova do Canadá mais uma vez.

Depois disso, e apesar do óbvio talento, velocidade e até cara de campeão, nenhuma boa equipe de F1 deu chance a Mike, que voltou a correr na F3000, até se encher e abandonar o automobilismo numa também precoce idade de 27 anos.

Escrito por Carlos de Paula

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