PRIMEIRA VITORIA BRASILEIRA NO MUNDIAL DE MARCAS


Em 1981 o Campeonato Mundial de Marcas parecia ter chegado ao que parecia seu fundo do poço. Na realidade, as coisas piorariam em 1992, mas em 81 a qualidade dos grids ficava cada vez pior, com poucos interessados no título e participação quase inexistente de fabricantes, exceto pela Lancia. Os belos dias de batalhas entre a Ferrari e Ford, Porsche e Ferrari, Alfa Romeo e Matra-Simca pareciam uma história longínqua.

Assim, o Campeonato Mundial de Marcas de 1981 teria somente seis etapas, embora houvesse um Campeonato Mundial de Pilotos de Endurance, com mais rounds, só para complicar ainda mais a cabeça do torcedor.

Restavam poucos indícios do passado, entre eles, os tradicionais 1000 km de Nurburgring, disputados na famosa pista de mais de 22 km e 170 curvas, no meio de uma floresta alemã. Pista com passado de glórias e tragédias, Nurburgring era ao mesmo tempo temida, apreciada e respeitada por pilotos do mundo inteiro.

Os 1000 km sempre atraiam uma longa lista de inscritos, visto que por ser tão longa, a pista podia abrigar um número incrível de carros. Muitos dos carros eram humildes e fracos VW, Opel, BMW e Ford de Turismo, que não teriam a mínima chance de um lugar ao sol, mas que permitiam aos seus pilotos a vanglória de ter competido contra ases do automobilismo mundial.

Os 1000 km teriam algumas novidades, inclusive um potente Ford Capri de Grupo Cinco da Zakspeed, que seria pilotado por Manfred Winkelhock e Klaus Niedzwiedz. Este marcou a pole, em 7m18s49, mas acabou não largando, pois o motor fundiu na manhã da corrida. A Equipe Lancia compareceu com carros para De Cesaris/Pescarolo e Patrese/Cheever, além de um exemplar inscrito por uma equipe particular alemã, a ser tocado por Hans Heyer/Piercarlo Ghinzani. Muitos Porsche foram inscritos, inclusive três antiqüíssimos Porsche 908, cujo projeto básico datava de 1968. Dois deles foram inscritos pela equipe de Reinhold Joest, um deles disfarçado de 936, para o próprio Jöst e Jochen Mass, e outro para Volkert Merl e Jürgen Barth. Um terceiro exemplar foi inscrito para Sigfried Brunn e Herbert Müller. Um bom número de Porsches 935 esteve presente, inclusive um carro inscrito pelo americano Preston Henn, para ele e Bob Wollek, outro para Edgar Dören/Jürgen Lassig, outro para John Cooper/Dudley Wood e outro para os americanos Bobby Rahal e Bob Akin. Havia também alguns BMW M1 inscritos. O BMW M1 fora o carro usado nas séries Procar de 1979 e 1980, cuja última edição foi ganha por Nelson Piquet. Assim o brasileiro finalmente estreava no campeonato, com um carro compartilhado pelo especialista em Nurburgring, Hans Stuck, e preparado por Peter Sauber. Marc Surer/Dieter Quester e Derek Bell/Helmut Henzler também pilotariam M1s.

Na realidade, o belo M1 não tivera muito sucesso nas pistas, quando tinha que enfrentar outros carros, seja no Mundial de Marcas, no Campeonato Alemão (DRM), em Le Mans ou na série IMSA nos Estados Unidos .Simplesmente o conjunto não era suficientemente rápido para bater os Porsche 935, Fords Capri e até mesmo as Lancias do Grupo 5, portanto, pouco se esperava deles nesta etapa do campeonato. Mas a BMW apoiou a iniciativa dos particulares.

Com a quebra do Capri, quem largou na frente acabou sendo Mass/Joest, seguido de Heyer/Ghinzani e Patrese/Cheever. Piquet/Stuck partiriam em 4°. Sessenta e sete carros largariam naquela tarde quente e seca de maio, e a corrida deveria durar aproximadamente seis horas.

Logo no princípio, um acidente. O americano Rahal, que largara em 15° lugar com seu 935, rodou ao evitar uma colisão com outro carro ao chegar em Kesselchen . O bólido bateu no guard rail e não teve condições de continuar, assim terminando a breve excursão de Rahal ao “Ring”. O piloto deixou o carro onde estava, embora estivesse em uma posição perigosa.

O 908/936 de Mass/Jöst liderou com tranqüilidade desde o começo da corrida, voltando a ocupar a liderança após a primeira parada para reabastecimento. Jöst era um velho conhecido dos brasileiros. Participante do Mundial de Marcas desde 1969, quando pilotou um Ford GT40, logo Jöst começou a pilotar Porsches, e sua primeira grande vitória ocorreu nos 500 km de Interlagos de 1972. Um piloto de outro 908, Herbert Müller, também disputara esta mesma corrida, com uma Ferrari 512, chegando em terceiro lugar e fazendo um sanduíche europeu de Luis Pereira Bueno.

Com certa surpresa, Stuck/Piquet chegaram ao 2° lugar superando as Lancias mais rápidas e seguindo com certa distância o Porsche de Mass/Jöst. Na mesma forma que as corridas de hoje, quando os carros paravam para abastecer as colocações mudavam na pista, temporariamente, e freqüentemente carros menos potentes se encontravam na liderança. O 908/936 era um tanto sedento, portanto, teria que parar antes do M1 de Piquet/Stuck no segundo “round” de pitstops.

Na 17a. volta ocorreu um terrível acidente. Herbert Müller havia largado dos boxes, algumas voltas atrasado, de fato só havia completado 13 voltas até aquela altura. O rápido piloto tentava recuperar terreno, pois tinha um dos melhores carros da prova. O Porsche, ao chegar em Kesselchen, encontrou um carro derrapando e um outro veículo com velocidade inferior. Não foi possível controlar o 908, e Müller, veterano de centenas de corridas, com mais de vinte anos de experiência, colidiu com o 935 estacionário de Rahal, que por ter parado antes de ter completado a primeira volta, estava cheio de combustível. Houve uma terrível explosão, seguida de forte incêndio que carbonizou completamente o carro de Muller, e também o corpo do piloto suíço. De fato, o incêndio fora tão forte, que começou a derreter o asfalto na cercania do acidente.

Enquanto isso transpirava, o Porsche de Mass/Jöst havia entrado nos boxes, para reabastecer, dando a liderança, supostamente momentânea, para Piquet. Entretanto, dada a terrível condição da pista em volta do acidente, a direção da corrida se viu obrigada a interromper a prova. O resultado final seria o da volta 17, resultando na primeira vitória de Nelson Piquet no Mundial de Marcas, assim como da BMW M1, de Hans Stuck e de Peter Sauber. A vitória também foi significativa pois foi a última vez em que um piloto que viria a ganhar o campeonato de Fórmula 1 em um determinado ano ganharia também uma prova do Mundial de Marcas no mesmo ano.

Mas apesar de tantos marcos, o automobilismo perdera Müller, figura popular nos autódromos do mundo, e Nurburgring fazia outra vítima.

Resultado final dos 1000 km de Nurbürgring, 24 de maio de 1981
1. Nelson Piquet/Hans Stuck - BMW M1 (Sauber) Grupo 5, 17 voltas em 2h16m50,86s
2. Jochen Mass/R. Jöst - Porsche 908/936, 17 v
3. Bob Wollek/Preston Henn - Porsche 935, 17 v
4. Hans Heyer/P. Ghinzani, Lancia Beta, 17 v
5. Edgar Dören/Juergen Lässig - Porsche 935K3, 17 v
6. Volkert Merl/Juergen Barth - Porsche 908/4, 16 v
7. Harald Grohs/Dieter Schornsterin/Walter Roerhl - Porsche 935, 16 v
8. Guy Edwards/Emilio de Vilotta, Lola Ford, 16v
9. John Cooper/Dudley Wood, Porsche 935, 16v
10. Henri Pescarolo/Andrea de Cesaris, Lancia Beta, 16 v

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