Essa coisa de dois pilotos número 1 funciona?

Vou ser curto e grosso. Não funciona.

Nós brasileiros sentimos isso de perto há quarenta anos atrás, em 1973. Emerson, campeão em 1972, iniciou 1973 com toda força, ganhando 3 dos primeiros 4 GPs. Só que ao passo em que era o número 1 absoluto em 1972, em 1973 teve a incômoda presença de Ronnie Peterson, também considerado piloto número 1. Logo o sueco se tornou o piloto mais rápido do campeonato, e quando começou a obter resultados foi justamente quando Emerson teve uma fase ruim no meio do campeonato. Coincidência? Não acredito em coincidências. A divisão de atenções simplesmente fez com que Emerson perdesse o campeonato de 1973, até porque o Tyrrel não era um carro muito superior ao Lotus. Quando a Lotus tentou reagir, fazendo jogo de equipe na Áustria, já era muito tarde. Terminou com o vice e o terceiro lugar no campeonato.

Já no ano seguinte, Emerson também teve um meio de campeonato complicado. Entretanto, por ser o óbvio número 1 na McLaren acabou ganhando o campeonato, até porque a Ferrari naquele ano não se decidia se apoiava Lauda ou Regazzoni.

Os exemplos são muitos e o mais recente, do campeonato de 2007, que praticamente ganho pela McLaren, acabou nas mãos de Kimi Raikkonen e da Ferrari, por que a McLaren não se decidia entre Alonso e Hamilton. Curiosamente, no ano seguinte Lewis ganhou o campeonato, seu único até agora, pois era o óbvio número 1. Depois da chegada de Button, em 2010, as coisas se complicaram de novo para o inglês.

Dois pilotos número 1 só funcionam quando o carro que pilotam é extremamente superior ao resto, caso da mesma McLaren em 1988 e 1989. Além disso, a equipe tinha os dois melhores pilotos do mundo na época. Já no biênio anterior, a Williams perdeu a chance de ganhar o título de 1986 justo por não se decidir entre Piquet e Mansell. O título acabou nas mãos de Prost, que tinha um carro inferior. Em 87 o Williams era muito melhor do que todos outros carros, e apesar da indecisão, acabou ganhando o campeonato, a la McLaren 88-89.

Vivemos num mundo politicamente correto, onde se fala de uma falsa tolerância, diversidade, e uma série de outros conceitos que soam bem no papel, porém, não são praticados pela grande maioria. Pode ser politicamente correto (e contratualmente mais fácil) prometer status idêntico de número 1 aos dois pilotos de uma equipe, porém, na prática, o resultado não é bom.

Os exemplos que dei acima são poucos, porém, na realidade, há muitos outros. Na F1 competitiva atual, ter dois pilotos número 1 é muito bom para perder campeonatos, isso sim.

A meu ver, se a Red Bull quiser realmente ganhar o campeonato deste ano, terá que se decidir por Vettel. Alonso e a Ferrari são uma ameaça muito grande neste ano. Já no ano passado, com um carro bastante inferior, Alonso fez horrores. Nesse ano, com um carro visivelmente melhor, o espanhol (que não ganha um título desde 2006, diga-se de passagem) certamente perturbará a Red Bull.

Sei que na cabeça do Mark Webber e de seus fãs ele é tão bom quanto Vettel. Repito, no seu dia, Webber pode ser um piloto maravilhoso, porém lhe falta consistência, essencial para um longo campeonato de 19 provas. É um Carlos Reutemann piorado. Cabe à equipe fazê-lo ver que ele tem seu lugar na equipe, e não é de piloto número 1.

Mark supostamente detesta os pneus Pirelli, outra razão para não investir todas as fichas no australiano. Afinal de contas, só há pneus Pirelli na F1.

A meu ver, Mark ainda está na Red Bull somente por que o "esquema" Red Bull não conseguiu, nos últimos 4, 5 anos, revelar nenhum piloto de estatura na F1. Se Alguersuari, Buemi, ou mesmo Vergne ou Ricciardo tivessem demonstrado gênio, Webber já estaria na rua há muito tempo. A insistência da Red Bull de não contratar pilotos de fora, aliada à falta de talento na sua esquadrta B garantiu até hoje o trabalho de Webber.

Também acho que a Toro Rosso só vai continuar em existência enquanto servir seu propósito, em tese ou na prática. Em tese, os controladores da equipe ainda acham que um dos pilotos do Junior Team será um dos grandes da F1. Se durante a temporada chegarem à conclusão de que estão perdendo tempo e dinheiro, diria que os dias da Toro Rosso estão contados, e a Red Bull vai para o mercado contratrar pilotos.

Não há como comparar Vettel e Webber, em termos de desempenho, talento e gênio. O investimento mais inteligente é deixar Webber falando sozinho. Eu faria isso e se ele começasse a reclamar muito, contrataria Kovalainen ou Kobayashi.

Esta aí um cenário interessante.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami

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