Alguns comentários sobre o GP da Austrália

Quanto à Fórmula 1, aconteça o que acontecer, sempre haverá os descontentes. Muitos dizem que a competividade atual é artificial, que o uso de artifícios para ultrapassagem é um horror, e que a F-1 de antigamente era automobilismo verdadeiro. Curtas memórias. De repente, só se lembram do GP da Itália de 1971, que teve muitos líderes e mudanças de liderança, e se esquecem que um grande número de corridas da época da F-1 de 1,5 litros até a adoção de pitstops nos anos 80 foi liderada do começo ao fim por um único piloto, e quando muito dois ou três. Corridas sem pitstops, com mais de três líderes nos anos 70 e 60 foram uma raridade, e quando ocorriam geralmente se deviam ao quebra-quebra dos carros, e não por disputas ou ultrapassagens na pista.

Certa feita, enviei um comentário à revista On Track, cujo comentarista na época era Forrest Bond. Forrest pôs a minha memória a funcionar. Eu reclamava justo da falta de compeitividade nas corridas de F1 nos anos 90, e sonhava com uma categoria diferente, com base numa F1 que nunca existiu. Com muita paciência, mostrou que historicamente, a F1 é uma categoria dominada por 2 ou 3 pilotos, 2 ou 3 equipes. E acabou! Na realidade, o que temos hoje em dia é algo bastante diferente e bom.

Geralmente as pessoas que reclamam da falta de competitividade na F1, são as mesmas que dizem que a NASCAR é completamente artificial, feita para TV!!! Querem um mundo em que a Marussia tenha possibilidade de fazer uma pole, e obter um pódium, no braço, e sem artifícios. Utopia de marca maior.

Sendo assim, o GP da Austrália foi bastante dramático para mim. Diversos pilotos tiveram oportunidade de brilhar durante fases diferentes da corrida. Felipe Massa fez uma excelente largada e uma boa corrida, Mark Webber mais uma vez demonstrou por que nunca vai ser campeão mundial, porém sempre vai conseguir um saco de pontos e algumas vitórias, enquanto estiver na Red Bull. Kimi foi a grande estrela, sem o carro mais rápido, conseguiu administrar uma estratégia de troca de pneus que lhe deu a vitória, e desde que voltou, não abandonou uma corrida. Alonso e Vettel estiveram bem. Adrian Sutil foi sublime. Sim, sei que só chegou a liderar tantas voltas por que usou compostos médios na largada, porém, convenhamos, deu trabalho, no braço, a pilotos do primeiro escalão. Se a McLaren realmente adotar os motores Honda, a Force India tem um futuro brilhante pela frente.

Dos estreantes, diria que Jules Bianchi foi o melhor, embora não tenha sido o primeiro no resultado. Chegou a estar em 12o. nas fases iniciais da corrida, e enquanto deu, procurou dar trabalho aos pilotos do segundo escalão. Foi de longe, o melhor do terceiro escalão, nos treinos e na corrida. Entretranto, ainda acho que a Force India acertou ao escolher Sutil.

Se continuar neste padrão, teremos uma boa temporada. Quem disser o contrário, leia as reportagens de GPs dos anos 60 e 70, e depois conversamos.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo.

  

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