DNA Automobilítisco e Possível Fim de uma Era

Nunca comprei muito essa ideia de que a habilidade automobilística é essencialmente genética. Certamente, existem algumas habilidades físicas que são necessárias no automobilismo e poderiam ser genéticas, como visão, reflexos, resistência física e inteligência, principalmente a compreensão de abstrações mecânicas e físicas. Certamente, a existência de diversas famílias automobilísticas acenariam uma tendência quase natural para seguir carreira no esporte.

A meu ver, a questão ambiental fala muito mais alto. Se você cresce num ambiente em que há uma cultura automobilística e mecânica, onde rola grana, conhecimento de outros pilotos, chefes de equipe, preparadores e mecânicos, onde desde pequeno ouve histórias sobre corridas, sobre como preparar um carro, como abordar uma patrocinador, obviamente, já tem metade do caminho andado, pois muitas portas se abrem. Isso, a meu ver, explica as diversas gerações de automobilistas, em diversos países.

Um grande exemplo de que a coisa não é genética é a família Andretti. Mario foi um piloto excepcional, Michael muito bom, e Marco só continua na Indycar por que o pai é dono da equipe...

Sendo assim, embora muita gente esperasse grande coisa de Ralf Schumacher, o alemão teve uma meta quase inatingível - tentar se igualar ao piloto de Fórmula 1 mais bem sucedido da história, que no fim das contas ganhou 93 GPs, 7 títulos e o maior número de poles e voltas mais rápidas.

Não que Ralf não fosse rápido. Afinal de contas, ganhou seis grandes prêmios e ainda é o terceiro alemão que mais ganhou GPs de F1, atrás do irmão e Vetteç. Quase acabou com a carreira de Alessandro Zanardi na Williams, em 1999, e enquanto esteve naquela equipe, deu a impressão de que poderia deixar sua marca no esporte. Bem verdade que depois que entrou na Toyota, Ralf foi se apagando na F1, até o dia de se mandar da categoria.

O alemão acabou no DTM, pilotando carros da Mercedes durante muitos anos. No DTM Ralf conseguiu ter uma carreira mais obscura ainda do que seus anos de Toyota na F1. Vez por outra fez corridas razoáveis, porém, não ganhou nenhuma depois de diversas temporadas, e frequentemente corria no pelotão traseiro, superado por um grande número de jovens pilotos desconhecidos, e disputando posições com as "donas". Ralf decidiu que era hora de se aposentar - ou decidiram para ele - e resolveu, no mais perfeito jargão das relações públicas, "aceitar o desafio" de gerenciar equipes.

Com a ida de Ralf, acaba uma era. Já no ano passado, David Coulthard - que também não fez grandes coisas nos seus anos de DTM - anunciou sua aposentadoria. Assim, a categoria deixa de ser uma opção para pilotos de F1 aposentados que ainda querem competir. Diga-se de passagem, diversos ex pilotos de F1, inclusive ex campeões mundiais pilotaram na categoria desde os anos 90: Jacques Laffite, Keke Rosberg, Jean Alesi, Bernd Schneider, Heinz Harald Frentzen, Mika Hakkinen.    

Não acho que isso será permanente, até porque há diversos ex pilotos de F1 marcando bobeira por aí, e sempre vai haver. Só acho que são eles mesmos que estão fugindo da categoria, pois não é nada fácil se sobressair no DTM!

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami     

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