A nova fase dos GT e o futuro do Endurance
O campeonato FIA GT Series começou hoje indicando uma nova boa fase para a categoria GT. Com um grid razoável, a corrida de Nogaro tinha bastante variedade, carros da McLaren, BMW, Ford, Ferrari, Lamborghini, Mercedes, Audi e Nissan. Sem contar que duas ou três outras marcas ainda se enquadrariam no regulamento, como Maserati e Aston Martin.
Para quem acompanhou como eu o Campeonato Europeu de GT dos anos 70, o fato mais inusitado do grid foi a completa ausência de carros Porsche. No Euro GT de quarenta anos atrás, ocorria exatamente o contrário. Mais de 90% dos carros que disputaram as corridas deste campeonato, realizado de 1972 a 1976 eram Porsches - 911, 914, Carrera, 934.
A ausência da grande marca, impensável na época, indica que dentro dos próximos anos provavelmente também haja uma mudança na categoria Endurance. Foi anunciada a volta da Porsche às grandes corridas de carros esporte, sem dúvida bem vinda pelos fãs. Entretanto, não podemos nos esquecer que a Audi também faz parte do grupo Volkswagen, que historicamente, não tem inclinação para gastar mais do que deve no esporte. Ter duas marcas do grupo disputando corridas seria gastar mais do que deve, principalmente sob a ótica dos pragmáticos "contadores de feijão" do colosso automobilístico.
Fora do automobilismo de competição, a realidade é que a Audi e a Porsche se encontram em posições opostas no mercado. A Audi, a única marca que restou da Auto-Union, que incluía o nosso querido DKW, conseguiu, pouco a pouco, transformar-se de uma marca "middle market" numa marca de carros "premium". Não só isso, conseguiu ultrapassar a BMW e Mercedes, tornando-se a principal marca de carros premium do mundo.
Ao mesmo tempo em que conseguia tal feito, a Audi passou de uma marca com um passado fraco no automobilismo de pista, em principal fabricante de carros esporte dos últimos 15 anos, ganhando inúmeras edições das 24 Horas de Le Mans e 12 Horas de Sebring, além de dezenas de outras provas de menor pedigrê.
Por outro lado, a Porsche, conhecida como principal fabricante de carros esporte do mundo, pelo menos em volume, fez exatamente o contrário. Passou os últimos 15 anos se "reinventando" no mercado, na realidade, perdendo a sua identidade. Criou um SUV e um carro de quatro portas, enquanto inúmeros fabricantes criaram super-carros que foram deixando os Porsche para trás, tem termos de desempenho e como sonho de consumo.
Hoje a Porsche precisa, de qualquer maneira, restaurar a sua imagem de principal fabricante de GTs do mundo, e de fato, tem programado um novo super-carro, que visa bater de frente carros como Bugatti, Lamborghini e Ferrari. Uma presença com sucesso nas principais corridas de carros esporte do mundo, não só é desejável como extremamente necessária nessas alturas dos acontecimentos.
Sendo assim, provavelmente a Porsche e Audi não vão conviver no Mundial de Carros Esporte, pelo menos no médio prazo. E a presença da Audi no Mundial de GT indica que provavelmente, a Audi seja a representante da VW nesta categoria, e a Porsche se torne A marca da VW no Mundial de Carros Esporte.
Quanto ao FIA GT Series, com certeza criaram uma série interessante, bem melhor do que a BPR dos anos 90, por exemplo, e dos Campeonatos Mundiais de GT que a substituíram nos anos seguintes. Entre outras coisas, há mais marcas, e um número interessante de pilotos de bom calibre, como os vencedores Sebastien Loeb e o português Alvaro Parente. Entre outros, há inclusive uma equipe brasileira, com os pilotos Cacá Bueno, Allam Khodair, Ricardo Zonta e Sergio Gimenez. Infelizmente, o BMW não parece ser um carro muito rápido, pelo menos nas circunstâncias atuais.
O desempenho de Loeb com McLaren foi notável, um excelente início de carreira dedicada ao automobilismo de pista. Não que Loeb não tenha participado de corridas antes. Porém, daqui para frente o francês, 9 vezes campeão do Mundial de Rally, se dedicará quase totalmente às corridas em pista.
Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami
Para quem acompanhou como eu o Campeonato Europeu de GT dos anos 70, o fato mais inusitado do grid foi a completa ausência de carros Porsche. No Euro GT de quarenta anos atrás, ocorria exatamente o contrário. Mais de 90% dos carros que disputaram as corridas deste campeonato, realizado de 1972 a 1976 eram Porsches - 911, 914, Carrera, 934.
A ausência da grande marca, impensável na época, indica que dentro dos próximos anos provavelmente também haja uma mudança na categoria Endurance. Foi anunciada a volta da Porsche às grandes corridas de carros esporte, sem dúvida bem vinda pelos fãs. Entretanto, não podemos nos esquecer que a Audi também faz parte do grupo Volkswagen, que historicamente, não tem inclinação para gastar mais do que deve no esporte. Ter duas marcas do grupo disputando corridas seria gastar mais do que deve, principalmente sob a ótica dos pragmáticos "contadores de feijão" do colosso automobilístico.
Fora do automobilismo de competição, a realidade é que a Audi e a Porsche se encontram em posições opostas no mercado. A Audi, a única marca que restou da Auto-Union, que incluía o nosso querido DKW, conseguiu, pouco a pouco, transformar-se de uma marca "middle market" numa marca de carros "premium". Não só isso, conseguiu ultrapassar a BMW e Mercedes, tornando-se a principal marca de carros premium do mundo.
Ao mesmo tempo em que conseguia tal feito, a Audi passou de uma marca com um passado fraco no automobilismo de pista, em principal fabricante de carros esporte dos últimos 15 anos, ganhando inúmeras edições das 24 Horas de Le Mans e 12 Horas de Sebring, além de dezenas de outras provas de menor pedigrê.
Por outro lado, a Porsche, conhecida como principal fabricante de carros esporte do mundo, pelo menos em volume, fez exatamente o contrário. Passou os últimos 15 anos se "reinventando" no mercado, na realidade, perdendo a sua identidade. Criou um SUV e um carro de quatro portas, enquanto inúmeros fabricantes criaram super-carros que foram deixando os Porsche para trás, tem termos de desempenho e como sonho de consumo.
Hoje a Porsche precisa, de qualquer maneira, restaurar a sua imagem de principal fabricante de GTs do mundo, e de fato, tem programado um novo super-carro, que visa bater de frente carros como Bugatti, Lamborghini e Ferrari. Uma presença com sucesso nas principais corridas de carros esporte do mundo, não só é desejável como extremamente necessária nessas alturas dos acontecimentos.
Sendo assim, provavelmente a Porsche e Audi não vão conviver no Mundial de Carros Esporte, pelo menos no médio prazo. E a presença da Audi no Mundial de GT indica que provavelmente, a Audi seja a representante da VW nesta categoria, e a Porsche se torne A marca da VW no Mundial de Carros Esporte.
Quanto ao FIA GT Series, com certeza criaram uma série interessante, bem melhor do que a BPR dos anos 90, por exemplo, e dos Campeonatos Mundiais de GT que a substituíram nos anos seguintes. Entre outras coisas, há mais marcas, e um número interessante de pilotos de bom calibre, como os vencedores Sebastien Loeb e o português Alvaro Parente. Entre outros, há inclusive uma equipe brasileira, com os pilotos Cacá Bueno, Allam Khodair, Ricardo Zonta e Sergio Gimenez. Infelizmente, o BMW não parece ser um carro muito rápido, pelo menos nas circunstâncias atuais.
O desempenho de Loeb com McLaren foi notável, um excelente início de carreira dedicada ao automobilismo de pista. Não que Loeb não tenha participado de corridas antes. Porém, daqui para frente o francês, 9 vezes campeão do Mundial de Rally, se dedicará quase totalmente às corridas em pista.
Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami
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