Até logo (ou nunca) Kobayashi-san

Quando comecei a frequentar o mundo dos negócios em Nova York, em 1982, havia verdadeira obsessão em volta dos japoneses. Não era amor ou apreciação no strictu sensu - o que todo mundo queria era a fausta grana dos japoneses, que em pouco menos de trinta anos haviam se tornado, de longe, a economia mais pujante do mundo. Até veteranos de guerra americanos esqueceram os ressentimentos em relação a Pearl Harbor e foram à busca de alguns ienes.

Havia cursos para executivos aprenderem a lidar com japoneses, sushi e sake viraram moda, cursos de idioma japonês. Até eu cheguei a pensar em aprender japonês, vejam só. Além dos japoneses, o pessoal também corria atrás dos sauditas, estes um osso bem mais duro de roer. Apesar das grandes diferenças culturais entre o mundo ocidental e oriental, os japoneses mais se aproximavam dos americanos dos que os esquisitos e austeros sauditas. Muitos achavam que o Japão seria dono do mundo em 10, 15 anos.

Na Fórmula 1 houve a mesma coisa. Muitos dos grandes patrocinadores dos anos 80, e início dos anos 90, eram empresas japonesas de todos os tipos - eletrônicos, moda, perfumes, auto peças, indústrias de todos os tipos imagináveis, ramo imobiliário, cigarros, fabricantes de miniaturas, etc. etc. Até empresas sem nenhuma atividade operacional...

Daí veio a bolha, a grande bolha imobiliária que estourou, e quase detona com o Japão. Se os anos 80 foram a década perdida do Brasil, os anos 90 foram a década perdida do Japão. Veio a globalização, o neo-liberalismo, e embora o Japão não tenha se tornado pobre, perdeu muito da sua importância, hoje assumida pela China e os Brics. Quem diria! Os olhos estão voltados mais para o nosso país da década perdida nos anos 80, do que o da década perdida dos anos 90.

Com o ímpeto econômico do Japão, e sua forte presença na F1, patrocinadores começaram a impor a presença de pilotos japoneses na F1. Muitos vieram e se foram, alguns prometendo um pouco, como Ukyo Katayama, e outros não prometendo absolutamente nada, como Taki Inoue.

Já no novo milênio, no canto do cisne da Toyota, que assumira pela primeira vez a condição de maior montadora de automóvreis do mundo com a crise de 2008, surgiu Kamui Kobayashi. Kobayashi logo de cara nos divertiu muito, com ultrapassagens maravilhosas em lugares impossíveis, e um grande espírito combativo. Os resultados não foram lá grande coisa, mas milhões de pessoas esperavam as cameras focalizarem no piloto japonês para se divertir um pouco com um piloto que tem um pouco de Gilles Villeneuve misturado com Ronnie Peterson e Vittorio Brambilla, algo muito raro hoje em dia.

Pois parece que a Fórmula 1 não está muito interessada no Kobayashi. Ou está mais interessada nos dólares de um dos Japões desta geração, o mexicano Carlos Slim, o homem mais rico do mundo.

Quando a Sauber anunciou a contratação de Hulkenberg, com a saída de Perez, e permanência do sponsor mexicano, ficou claro (desculpem o trocadilho) que a batata de Kobayashi estava assando. O nipônico disse que iria à busca de patrocínio na sua terra, mas, quem diria, hoje é mais fácil arrancar fortunas do México e Venezuela do que tirar alguns trocados do Japão. Como a economia mundial muda...

Não que Gutierrez não mereça um lugar na F1. Tem demonstrado ser um bom piloto nas categorias inferiores, quem sabe um grande piloto um dia. Porém, Kobayashi também merece um lugar, e não digo em uma HRT ou Caterham da vida.

Adeus, Kobayashi-san. Sentiremos saudades.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O taxista de São Paulo, e muito disse não disse

RESULTADOS DE CORRIDAS BRASILEIRAS REMOVIDOS DO BLOG

DO CÉU AO INFERNO EM DUAS SEMANAS - A STOCK-CAR EM 1979