Tive dificuldades para dar nome a este post, ou wishful thinking

A tal programação neurolinguística ensina que aquilo que falamos afeta diretamente os resultados da nossa vida. Tem muito gente que acredita nisso, certamente é um conceito sexy. Assim, muita gente anda repetindo mantras, aquilo que desejam acontecer, por exemplo, dizendo que tudo anda maravilhoso quando não está, na esperança de que as coisas realmente fiquem maravilhosas. Mistura-se a isso pensamento positivo, otimismo, metafísica platônica e até um mesmo espiritualoide "poder das palavras", e temos um smogasbord de "wishful thinking".

Que me perdoem aqueles que não falam inglês. Não é afetação minha não, realmente não existe no português uma expressão que traduza a essência desta expressão. Absorvam a definição, nas próximas linhas.

Daí existe o marketing, a manipulação, que existe em todas as áreas da humanidade. Se uma mentira for dita mais vezes do que a verdade, acaba virando verdade. O mundo virtual exacerba ainda mais este fato, pois os motores de busca priorizam a popularidade. Como as pessoas têm muita preguiça de pesquisar, e se aprofundar nos assuntos, muitas mentiras prevalecem sobre as verdades.

Não sou daqueles caras que vêm conspirações em tudo - embora haja pessoas que acham que essa seria uma definição perfeita da minha pessoa. Diria que muitas dessas mentiras que se tornam verdade adquirem vida própria por comentários inocentes, como lendas urbanas, ou não tão inocentes, como fofocas. Não é que um bando de poderosos senta numa mesa e decide enganar o populaxo, enquanto se esbodegam de rir da ingenuidade alheia.

Provavelmente a maioria já parou de ler este post, dizendo, "o Carlos está atacado hoje". Desculpem a introdução pseudo-intelectual.

Este blog trata de automobilismo, portanto, vou voltar à pista. Ou às pistas.

Há certos setores da imprensa brasileira que tratam meros boatos como certezas absolutas. No mundo de alto impacto da internet, da informação imediata, e da necessidade de chamar atenção, o efeito aumentou. E isto se aplica também ao automobilismo.

Sempre disse uma coisa que nem todos gostam de ouvir, mas que muitos sabem que é verdade. Conversar com equipes no paddock na silly season não significa absolutamente nada. Até que uma equipe tenha contratos assinados, todo mundo conversa com todo mundo, puro e simples. De fato, isto ajuda pilotos e donos de equipe a alavancar suas posições. Isto já acontece há décadas. Vez por outra, dá uma zebra. Chris Amon foi contratado pela March para a temporada de 1973, mas na hora H, as duas partes não acertaram os ponteiros, e quem acabou no STP March foi Jean Pierre Jarier. Bernie assinou Hans Stuck por uma bagatela em 1977, dizendo que Arturo Merzario estava na linha com ele, quando se reuniam para discutir uma possível contratação. Etc, etc.

Assim, um repórter menos avisado, ou com pouca experiência, ou ávido por um furo, às vezes noticia "fatos" que estão longe de ser fatos.

Em defesa da imprensa brasileira, isso acontece também em setores da imprensa automobilística do resto do mundo, principalmente o pessoal mais dado a sensacionalismos. A Marca espanhola é conhecida por "furos" furados, por exemplo, e a Autosprint, vez por outra, viaja na maionese, e especula demais, principalmente quando se trata de Ferrari ou pilotos italianos.

Pois bem. Muita gente deu como quase certa a entrada de Luiz Razia como titular da equipe Force-India. Com certeza, o baiano, vice-campeão da GP2, fez um teste na equipe. Porém, aparentemente, está longe de ser candidato para um lugar ao lado de Paul di Resta. Ou seja, parece que só setores da imprensa brasileira acham que a contratação é plausível, e, a la neurolinguística, se isto for dito diversas vezes acontece como passe de mágica!

Que me perdoem os aderentes ao tal método. A verdade é que se a programação neurolinguística desse certo, todos seus proponentes seriam milionários, e todos sabemos que não é esse o caso..

Ontem a Autosport, provavelmente o mais bem informado e sério órgão de mídia automobilística do mundo, teceu comentários justamente sobre o possível ocupante do segundo lugar na equipe, com a saída de Nico Hulkemberg. Não me surpreendeu que o nome do nosso jovem conterrâneo não estava lá.

Analisemos isto.

Historicamente, a Force India procura contratar pilotos experientes. Razia não tem experiência na F1. Ok, contrataram Paul di Resta, porém, este é um piloto da Mercedes (o que não é o caso de Razia), e com bastante experiência nas pistas, inclusive um ano como piloto de testes da própria Force-India.

A Force India tem surpreendido inclusive por não contratar pilotos indianos, e de fato, foi criticada pelos menos na mídia indiana.

Em suma. Apesar de todas as sugestões de que Razia será piloto titular da Force India em 2013, duvido bastante que isto aconteça. Provavelmente, veremos um piloto experiente ao lado de Di Resta. Buemi, Petrov, Kovalainen, Sutil, e Alguersuari. Estes sim estão no páreo.

Carlos de Paula é tradutor e historiador de automobilismo baseado em Miami 



   

Comentários

  1. Olá! Tudo bem? Meu nome é Paola Santos, sou estudante de jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e estou fazendo uma matéria para a disciplina de Jornalismo Esportivo sobre as dificuldades para o começo da carreira em automobilismo. Gostaria de saber se poderia lhe fazer algumas perguntas sobre o assunto? Obrigada!

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