Baile do municipal

Quem não lembra? Houve época no Brasil em que, para ser alguém no país, você tinha que ir ao Baile do Municipal. Mesmo que não gostasse de carnaval, aparecer no Municipal era um must para se manter vivo no universo socialóide da terra brasilis. Depois, se tivesse sorte, saia sua foto na Manchete, Cruzeiro ou Fatos e Fotos, ou nas colunetas sociais que se espalhavam pelo país.

Hoje em dia nem sei se esse baile ainda existe, acho que foi substituído pelos camarotes do Sambódromo. Não sei muito sobre o assunto porque não sigo o carnaval, só sei que não se fala muito no mesmo, e se o outrora importante baile existe, certamente perdeu a importância.

O grande chamativo do Baile do Municipal era estar ao lado de gente famosa, bonita, cheia da grana e influente, uma vez no ano. A teoria, suponho, é que se você aparecesse do lado dessa gente, sobrava algo para você, e mais cedo, mais tarde, seria aceito na tchurma. Se aparecesse nas revistas e colunas sociais então, seu futuro estava garantido...

Do jeito que funcionava a coisa, segundo meu entendimento (posso estar errado), os famosos de carteirinha, as beldades e pães, como se dizia na época, entravam de graça. Alguns ricaços, mesmo tendo condições de comprar todas as entradas do baile, também eram "convidados". E a rapeize que queria aparecer, os ascendentes, gastavam uma fortuna para entrar, e tentar aparecer em alguma foto. E às vezes, não conseguiam. Ah, o glamour!!!

Acho que o Baile do Municipal perdeu seu brilho porque hoje somos uma cultura midiática. Há cinquenta anos atrás, poucas eram as revistas, jornais tinham 20 páginas, e nada de internet. As TVs eram poucas, em suma, era difícil aparecer. E hoje em dia existe a revista Caras, um Baile do Municipal anual, no qual muita gente se projeta, ou acha que se projeta, gastando uma boa grana sem conseguir entrar na sociedade...

Infelizmente, parece que a F-1 se tornou um Baile do Municipal. Sem querer repetir o que escrevi em outro post, porém, repetindo, os GPs estão cheios de famosos aqui e acolá, celebridades internacionais, políticos, ricaços de carteirinha, aspirantes a modeletes e BBBs, todos convidados de patrocinadores e organizadores, que estão ali só para ser vistos, mas que não entendem, nem gostam de Fórmula 1. E uns poucos otários que pagam uma fortuna para querer estar do lado dessa gente.

O que tenho visto na maioria dos GPs são arquibancadas vazias, mesmo no GP da Índia realizado hoje. Há anos atrás, o público das corridas era bem maior. No Brasil mesmo, nos primeiros GPs tem gente que dizia haver mais de 100 mil pessoas em Interlagos, já ouvi dizer 150 mil! Não sou de acreditar muito nas cifras de público divulgadas no Brasil, porém, imagino que há quase quarenta anos atrás, ia mais gente ao autódromo do que atualmente.

Na minha simplória concepção, se os ingressos não fossem tão caros, seria possível vende-los em maior quantidade, sem ter a necessidade de encher algumas arquibancadas com gente vestida de camisetas de patrocinadores que nem gosta do esporte. E imagino que isso não se aplica só ao GP do Brasil, mas a quase todos, se não todos GPs.

Hoje vivemos circundados que coisas que parecem ter uma função X, porém tem uma função Y. Faculdades e lanchonetes cujo objetivo não é educação e alimentação, mas sim acúmulo de imóveis possibilitado pela receita das matrículas e hambúrguers, redes sociais na internet cujo objetivo não é promover interação sadia entre as pessoas, porém, acumular dados sobre os usuários para explorar uma plataforma de marketing, e programas de TV que não existem para entreter, mas sim, para marcar pontuação alta no Ibope que possibilite à emissora cobrar fortunas dos anunciantes, mesmo que a maioria da audiência use o tempo de comerciais para ir ao banheiro ou cozinha. Os exemploss são inúmeros,  vivemos cercados de subterfúgios.

Que os GPs hoje são um evento midiático, já sabemos de longa data. Localmente, porém, não se enganem, são o Baile do Municipal do século XXI.

Carlos de Paula é tradutor e historiador de automobilismo baseado em Miami

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