A lógica, ora a lógica

Outro dia disse no  blogdoautomobilismo.com, que por uma questão de lógica, a carreira de um piloto só pode seguir três rumos.

  • Teve resultados compatíveis com seu desempenho.
  •  Teve desempenho melhor do que seus resultados. 
  • Teve resultados melhores do que seu desempenho.

No primeiro caso, o desempenho pode variar entre excelente a péssimo.


Obviamente, só é possível fazer essa avaliação em retrospectiva, ou seja, depois do piloto se aposentar. Afinal de contas, durante a carreira tudo pode acontecer, e algumas carreiras são longas, longuíssimas. Vejam só a carreira do Derek Bell. Em 1980, o inglês fazia poucas corridas, e sequer arranjava um bom carro para disputar Le Mans, corria num humilde Porsche 924. Parecia estar na direção de um fim inglório. Daí veio o Grupo C, Derek ser tornou campeão mundial diversas vezes, ganhou uma penca de corridas no Mundial, na Europa e nos EUA, e diversas outras edições de Le Mans.

Como já aprendi a minha lição, não vou usar exemplos brasileiros, por que infelizmente não somos um povo muito dado a racionalismos e análises, frequentemente priorizamos o emocional, e quando não concordamos com alguém partimos para a ofensa pessoal.

Um exemplo óbvio de piloto que teve resultados compatíveis com seu (bom) desempenho é Niki Lauda. Teve um fraco começo de carreira, porém, depois de 1974 foi um super piloto. Naquela primeira temporada, seu desempenho foi bem melhor do que os resultados, mas a situação foi invertida nas temporadas seguintes até 1985.

O exemplo de piloto que teve desempenho melhor do que seus resultados é o neozelandês Chris Amon. Esteve na F1 entre 1963 e 1976, liderou diversas corridas, fez poles, voltas mais rápidas, e saiu de mãos vazias. Muitos culpam seu histórico nas pistas por uma capacidade ímpar de tomar  decisões erradas, outros dizem que Amon era azarado mesmo.

Agora um exemplo de piloto que teve resultados melhores do que seu desempenho. Alguns podem chiar, invariavelmente. Que seja. Dizem que os irlandeses são sortudos, e certamente, Eddie Irvine não só conseguiu resultados bem melhores do que as suas qualidades dentro e fora das pistas, como saiu do esporte multimilionário! Ter sido vice-campeão de F1, e piloto da Ferrari durante quatro temporadas certamente foi mais do que Irvine poderia esperar, embora ele se achasse "O Cara". Aliás, se acha até hoje.

Poderia escrever um livro sobre o assunto, analisando carreiras, e provavelmente ofendendo muita gente. Por essa razão, não vou embarcar num projeto do tipo.

De modo geral todos fazemos essa análise, quando dizemos "fulano poderia ter sido campeão mundial se não tivesse morrido" ou "esse cara tem muita sorte". As grandes zebras da F1, por exemplo, as vitórias de Giancarlo Baghetti e Peter Gethin (curioso, os sobrenomes são bastante parecidos, só notei isso agora) são fáceis de identificar, outras carreiras mais difíceis de categorizar.

No caso específico de pilotos brasileiros, a história provavelmente indicará, num futuro próximo, que um grande número de pilotos do nosso país não tem muito a reclamar. Se enquadram justamente no terceiro item, pilotos que tiveram resultados melhores do que seu desempenho. Ou seja, quando se aposentarem, poderão ter a satisfação de ter alcançado o nível máximo de acordo com suas limitações, seja na F-3, Fórmula Ford, Indy Lights ou GP2. Muitos sequer chegaram (ou chegarão) à F-1 ou Fórmula Indy. Depois de algum tempo observando o automobilismo, fica claro quem é quem antes mesmo da tal aposentadoria.

Sem mencionar nomes, claro. Melhor ficar de bico calado.  

Carlos de Paula é tradutor e historiador de automobilismo baseado em Miami

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