Hitler a ver navios

Não é segredo para ninguém que o Hitler gostava de usar o esporte como instrumento de propaganda política. Nas Olimpíadas de 1936, realizadas na própria Vaterland, o Hitler teve que engolir seco quando um atleta americano, ainda por cima negro, bateu os alemães.
O Tazio Nuvolari também deixou Adolf chupando o dedo quando, equipado com um fraco Alfa-Romeo, deixou as equipes Mercedes e Auto Union devendo explicações ao temeroso fuhrer, isso em 1935.
Em duas outras ocasiões a máquina de propaganda nazista encontrou problemas em locais inesperados.
É inquestionável que a Mercedes e Auto Union dominaram o automobilismo europeu de 1934 a 1939, mas os carros não eram imbatíveis. As excursões da Auto Union para a África do Sul e Brasil não deram os resultados esperados, pelo menos em termos de intimidar o público dos dois países com a supremacia alemã.
No Brasil, todos sabemos a história. O Barão Stuck veio ao Brasil com toda intenção de ganhar a corrida da Gávea, em 1937, a acabou levando uma sova de Carlo Pintacuda. Notem bem, apesar de vitórias na Mille Miglia, Carlo era um piloto do time B, principalmente em corridas de monopostos. Mas naquele dia, teve a satisfação de mostrar que tinha lá suas qualidades, e virou marchinha de carnaval.
Esta não foi a primeira vergonha pela qual a Auto-Union passou.
Em janeiro do mesmo ano, a Auto Union despachou dois carros por navio, para Rosemeyer e Von Delius, para participar de corridas na África do Sul.
Certamente, a primeira seria uma vitória fácil, exceto pelo sistema de handicap usado pelos promotores da prova em East London. Rosemeyer largou 53.5 minutos após o carro menos veloz partir, e 28 minutos e 13 segundos após o eventual vencedor. Rosemeyer correu que nem um doido, fez a volta mais rápida, 181,8 km por hora, teve um pneu estourado, e acabou chegando em quinto lugar. Pior ainda, o vencedor foi um inglês, Earl Howe, com uma voiturette inglesa, um ERA! Von Delius abandonou após 18 voltas.
Na Cidade do Cabo, Rosemeyer teve problemas novamente, e acabou chegando em segundo, mas Von Delius conseguiu uma rara vitória. Pelo menos a Auto Union não passou um carão completo. Os alemães se mandaram antes de última corrida da série.
Se como propaganda política o exercício não deu muito certo, comercialmente, a Auto Union se deu bem pelo menos na África do Sul. As vendas de DKWs aumentaram, e o carro se tornou popular no país. Creio que até no Brasil, apesar da derrota de Stuck, foi lançada a semente da popularidade do DKW, carro muito apreciado nas décadas de 50 e 60.


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