A última vitória da Jolly

A equipe Jolly foi a grande equipe brasileira do final dos anos 60. de fato, em 1969, ano de poucas corridas, foi quase hegemônica no Brasil, ganhando corridas no Rio, Curitiba, Rio Grande do Sul, Fortaleza e Salvador. Em 1970 ainda ganhou algumas corridas, e em 1971, veio sua última grande vitória, nas 12 Horas de Interlagos.

Ocorre que em 1970 a 1971, chegaram no Brasil diversos bólidos muito mais rápidos do que as Alfas GTA e GTAM usadas pela Jolly. Sua P33 havia sido destruída pela segunda vez em 1970, e só sobraram os bem preparados cupês - que pouco ou nada podiam fazer contra os Porsches 908-2, 910, 907, Lolas T210 e T70, Royales e Ford GT40 da vida. Até alguns protótipos brasileiros, como os Avallone, alguns Mantas, Fúrias e Heves, já eram bem mais rápidos do que as GTA.

A última vitória da equipe se deu em 1972. Sei que na época do Torneio FIAT 147, alguns carros correram com sucesso sob patrocínio da Jolly, então uma concessionária Fiat. Porém, estou me limitando à equipe Jolly tradicional, que corria com as Alfas.
Em 1972, Marivaldo Fernandes e a Jolly trouxeram uma Alfa T33-3 para peitar os carros da Hollywood. A T33-3 pouco correu no Brasil. Era mais potenta do que o 908-2, porém, nas mãos de Marivaldo não era tão rápida quanto Luizinho com o 908-2. Ficou em segundo na prova dos Campeões, e em 4o. nos 500 de Interlagos. Nunca chegou a ganhar nada e foi aposentada no final do ano, embora tenha aparecido com motor Maverick, nas mãos de Angi Munhoz, na Cascavel de Ouro de 1973.

A última vitória da Jolly - e dos cupês da Alfa - no Brasil ocorreu no Festival de Roncos de 1972, na prova supostamente para Divisão 3. Na realidade, a Alfa GTA não era um carro de Divisão 3. Esta categoria existia para carros de turismo preparados, fabricados no Brasil. Ainda assim, uma Alfa de 1,6 litros (não a GTAM de 2 litros que ganhara as Mil Milhas e as 12 Horas, dos irmãos Diniz), foi inscrita para Antonio Castro Prado, piloto de Ribeirão Preto.

Castro Prado largou em último, dando azar no sorteio que determinou o grid. Entre outros, a prova contava com o veterano Ciro Cayres, com um rápido Opala 4100, diversos fuscas rápidos, o FNM de José Pedro Chateaubriand, e um Dart pilotado por um sujeito com o assustador nome de "Calígula".



Ciro liderou as primeiras voltas, seguido de Chateaubriand, que fez sua melhor corrida com o FNM. Entretanto, pouco a pouco Castro Prado foi chegando, a Alfa mostrando que ainda era páreo duro. Era um carro mais estável e veloz nas curvas, embora menos potente do que o Opala.
Assim Castro Prado obteve sua primeira de muitas vitórias, a Jolly sua última. Curiosamente, o carro não correu com um dos números típicos da Jolly, o 23, 25 ou 27. Seu número era 93! Castro Prado ainda tentaria participar dos 500 km de Interlagos (não largou) e foi terceiro na corrida de Belo Horizonte com o mesmo carro.

Resultado da corrida divisão 3 do Festival de Roncos
1. Antonio Castro Prado, Alfa Romeo GTA 1600, 10 voltas em 35m28.2s
2. Ciro Cayres, Opala 4100
3. José Pedro Chateaubriand, FNM 2150
4. Josil José Garcia, VW 1600
5. Alfredo Guarana Menezes, VW 1600
6. Hiroshi Yoshimoto, VW 1600
7. Sergio Alhadeff, VW 1600
8. Ney Faustini, VW 1600
9. "Caligula", Dodge Dart
10. Claudio Gonzalez, VW 1600

Carlos de Paula é tradutor, historiador de automobilismo e escritor baseado em Miami

Comentários

  1. Calígula era pseudônimo do piloto Arnaldo Abdalla, figura muito conhecida e alegre do automobilismo. Infelizmente morreu em um acidente na Av. Marginal em São Paulo. O carro em que estava quebrou e já no acostamento foi atropelado por um caminhão.

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