Ninguém se entende mais

Ainda me lembro de uma época em que a retranca tomou conta do futebol brasileiro. O que tinha de 0 x 0 não estava no gibi. Cabe lembrar que a palavra gol vem do inglês GOAL, que quer dizer meta, objetivo. Ou seja, a meta do futebol, o objetivo, é o gol. Portanto, sem o gol, fica uma coisa meio sem sentido.

Nas corridas de monopostos de alto nível, que cada vez mais sentem a perda de audiência e de público local, uns apontam os dedos uns para os outros, visando culpar alguém pelas mazelas do esporte.

O público supostamente acha a F1 chata, porque ninguém ultrapassa ninguém, as corridas são procissões, etc. Quando inventam uma tecnologia para auxiliar a ultrapassagem, muitos gritam "é fajuta, falsa, artificial". E o Bernie grita de um lado, o Todt, do outro, a imprensa e o público do outro, os pilotos e donos de equipe também, enfim todo mundo aparentemente está insatisfeito.

Como as coisas são fascinantes... Na corrida de Indycar em Fontana deste fim de semana, foi quebrado o recorde do número de mudanças de liderança, 75, numa única corrida de 500 milhas. Realmente foi uma corrida emocionante, alguns diriam, um sonho de consumo da Indycar e quem sabe da F1.

Entretanto, uma das coisas mais notáveis na mesma corrida foi a falta de público no autódromo. Arquibancadas inteiras vazias, era de dar dó. Notem que Fontana tem fama de corridas emocionantes, ainda assim, o público não apareceu.

Na pista, o que se viu foi muita emoção para quem assistia, perigo para quem participava. Até os comentaristas da TV americana, que incluíam os ex-pilotos Paul Tracy e Jon Beekhuis, não paravam de torcer e gritar UAU! É muito legal ver quarto, até cinco carros entrando colados na curva, disputando milimetricamente até mesmo a liderança. É empolgante, porém, perigoso, perigossíssimo. Foi numa dessas que Dan Wheldon morreu na final de Las Vegas, em 2011, e a pista, mesmo com seu prêmio milionário, saiu do calendário.

No final da prova de Fontana os pilotos estavam visivelmente nervosos. Tony Kanaan e Will Power, dois dos mais experientes, falaram de uma forma clara que algo tem que ser feito. Tim Cindric, estrategista da Penske, disse que a Indycar já tinha garantido que esse tipo de corrida não seria mais realizada na série. Só A.J. Foyt não pareceu ter dado muita bola, acho que até gostou. Se resumiu a dizer repetidamente "hoje não era nosso dia", porém, optou por não criticar o "pack racing". Note que Takuma Sato, um dos seus pilotos, esteve envolvido num dos acidentes e foi um dos pilotos que mais voltas liderou.

Mais curioso ainda é que a primeira bandeira amarela ocorreu com 135 das 250 voltas. A tensão certamente era grande entre os pilotos e pessoal das equipes, e muitas vezes parecia que algum acidente espetacular aconteceria. No twitter, um piloto da NASCAR, Joe Logano, dizia que os pilotos da Indycar são "nuts" (doidos). Isso vindo de um piloto de NASCAR chega a ser engraçado.

Aqui fica claro que há um impasse muito grande entre o que o público supostamente quer (corridas disputadíssimas) e o que as categorias de monopostos podem proporcionar com segurança. Se todas corridas de Indycar fossem iguais às de Fontana, em vez das chatas e lentas corridas dentro de cidades, creio que mais cedo, mais tarde, a Indycar ganharia muito público. Mas provavelmente perderia diversos pilotos.  

Por outro lado, as categorias de carros de turismo de modo geral oferecem boas batalhas. As corridas do BTCC têm sido ótimas, outro dia assisti a uma interessante corrida da revitalizada Trans-Am, o V8 australiano é sempre bastante disputado, e até o DTM tem corridas boas.

Reduzir a velocidade dos carros tem sido uma das opções mais utilizadas, porém, reduz-se de um lado, e a tecnologia aumenta a de novo. Uma coisa é certa, as corridas que parecem agradar ao público, não agradam aos pilotos. E vice-versa.

É uma pena que provas quem nem a de Fontana sejam irreais no longo prazo. Graças a Deus nada aconteceu desta vez e a Indycar não tem nenhum Maldonado ou Brambilla.

Só me basta gravar a corrida para a posteridade...

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