Como melhorar a Formula 1

Desde pequeno que ouço duas coisas. Primeiro, que o Brasil é o país do futuro. Segundo, que a F-1 precisa melhorar o show, se não, vai para a cucuia.

Acho que vou continuar ouvindo essas coisas indefinidamente.

Sigo a F-1 há mais de quarenta anos. Lembro que sempre teve quem dissesse que o domínio de fulano ou sicrano ou equipe não é bom para o esporte, que pouco se ultrapassa na F-1, que se as coisas não melhorarem a categoria vai para o chinelo, etc.

Lembro-me que em 1975, muitos reclamaram que Niki Lauda e Ferrari simplesmente dominaram o campeonato. Sem dúvida, foram os melhores, porém dizer que houve domínio me pareceu um pouco exagerado, especialmente num campeonato de 14 corridas em que dez outros pilotos - e cinco outras marcas - ganharam corridas. Por outro lado, teve gente que demonstrou desconforto com o campeonato de 1982, ganho por Keke Rosberg, justamente por que o campeão só ganhou uma corrida, e pelo menos três outras equipes - Ferrari, Mclaren e Renault, teriam merecido o caneco mais do que a econômica Williams! O ser humano gosta é de reclamar. Enfim, opiniões há para tudo, e a imprensa existe para vender jornais e revistas - hoje em dia, cliques e achar pelo em ovo. Que me desculpem os amigos jornalistas.

Ocorre lembrar que desde o primeiro campeonato - ganho pela Alfa-Romeo em 1950, quase sempre houve o "domínio" de uma equipe ou piloto na F1. Essa coisa de três, quatro equipes ou mais disputando o campeonato em paridade é tão fictícia quanto a folclórica ideia de self-made man na atualidade.

Daí, tem-se gasto muito tempo, papel, bytes, inclusive inúmeras reuniões na Place de La Concorde, para discutir a "crise da F.1."

Aceitemos que a crise da F-1 existe por uma questão esportiva, sempre um dos principais argumentos oferecidos. Há quem diga que ter duas Mercedes liderando GPs de cabo a rabo será o fim do esporte. Não sei se acredito nisso. Se Michael Schumacher ter ganho cinco campeonatos seguidos, muitas vezes ganhando mais de 10 GPs por ano, não acabou com a F1, seguido alguns anos depois pela conquista de 4 títulos seguidos por Sebastian Vettel, não acho que seria o domínio da Mercedes que acabaria com a categoria.

Para mim seria fácil tentar "level the field" na F-1, aumentar as disputas na pista. Simples, acabar com grande parte da tecnologia. Não sou um troglodita, avesso à tecnologia. Porém, telemetria, KERS, DRS, e outras coisas, simplesmente eliminam muito do elemento "esportivo" do esporte. Devolva o câmbio manual, e verão muita coisa acontecer (sim, por causa de erros). Não é forçando pitstops e o uso de mais de um tipo de pneu, ou a volta de reabastecimento que melhorarão o "espetáculo".

Existe uma corrente entre os que controlam o esporte de que tirar a tecnologia da F1 seria a morte da categoria, que os fãs querem a tecnologia, identificam a categoria com tecnologia, etc. Francamente, pelo que vejo, a grande maioria das pessoas que segue a F1 está se lixando (e não entende) o que é KERS, DRS, controle de tração, etc. São coisas que somente encarecem o esporte. E na realidade, no quesito engenharia, acho quase impossível alguém superar a Mercedes-Benz.

Com a eliminação de grande parte da tecnologia, as coisas se equiparariam, mas não muito. Gostaria de lembrar que o domínio da Alfa-Romeo em 1950 ocorreu com muito pouca tecnologia.

A meu ver a diminuição de interesse tem a ver com outros fatores, alguns dos quais nem Bernie, nem ninguém poderá fazer nada. A concorrência pela atenção das pessoas fica cada bez mais intensa, e hoje, muita gente deixou as TVs de lado, e migrou para a internet. Como a F1 se tornou um produto preponderamente televisivo, dançou nessa equação. Principalmente entre o público jovem, Se as corridas passarem a ter dez líderes diferentes, com cinco equipes disputando o título em condições idênticas, a F1 continuará a perder público, mais interessado em Youtube, downloads de filmes cult, games online, pornografia e redes sociais do que um esporte que "seus pais curtiam". E na própria televisão há muita coisa concorrendo com o esporte, inclusive modalidades novas como curtíssimas lutas de vale-tudo, etc. Estamos na época do curtinho, tweets de 140 toques, torpedos cheios de abreviaturas, corridas de 1 hora e meia parecem um pouco excessivas para a nova geração.

Na minha humilde opinião, eliminar os GPs no Velho Mundo também tem sido um erro. Grande parte dos corredores da F1 ainda vem de países tradicionais, a mesma coisa os patrocinadores, e com certeza as equipes. Em vez de adicionar GPs em lugares como Azerbaijão e Bahrain, melhor teria sido para Bernie e Cia. reduzir as taxas para os GPs europeus, compatibilizando com a atual situação da Europa - um continente muito mais pobre do que era nos anos 90, porém ainda ávido para consumir eventos. Aventurar-se em outras praças não está fazendo muito bem para a F-1 no longo prazo. Sim, no curto prazo os otários da hora pagam taxas astronômicas, mas onde estão os exóticos Turquia, India, Coreia do Sul? Sem contar que o número de novos países com grana - e condições - de realizar GPs diminui a cada dia. O ciclo mais cedo, mais tarde, fechará.

O downsizing da F1 me parece algo iminente. Bernie, FIA etc. têm que aceitar esse fato. O mundo simplesmente mudou.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RESULTADOS DE CORRIDAS BRASILEIRAS REMOVIDOS DO BLOG

O taxista de São Paulo, e muito disse não disse

DO CÉU AO INFERNO EM DUAS SEMANAS - A STOCK-CAR EM 1979