Corrida de verdade era antigamente...

Não me canso de ouvir isso, para todo lado. Aliás, não é só corrida. Futebol, música...Eu mesmo digo que pararam de fazer música depois dos anos 80, e meu ipod é um verdadeiro museu. As coisas mudam, e na realidade, não há como se comparar uma época com a outra. Tudo tem o seu charme, seus prós e contras, e o automobilismo não é excessão.

No caso de Le Mans há muita gente saudosa da época dos antanhos. Têm uma visão quiçás um tanto poética da coisa.

Sempre me lembro da Avenida São João. Quando era pequeno, me parecia uma Avenida majestosa, cheia de cinemas, lojas de boa categoria, etc. Hoje me parece uma rua xinfrim, e não digo isso só por causa da decadência. Pelo tamanho, mesmo.

Le Mans 2015 foi completamente dominada por três marcas, Porsche, Audi e Toyota, que alinharam oito carros. Seus carros largaram nas oito primeiras posições, e chegaram nas oito primeiras posições. Alguns veem nisso um sinal de colapso, o fim do mundo, tédio com T maiúsculo. Preferem a mítica  época antiga, quando você nunca sbia quem iria ganhar a corrida. Será?

Ponha poesia nisso. Sempre houve favoritos. A diferença é que uma equipe de fábrica alinhava três, quatro carros, at[e mais carros, atingamente, e só um chegava. Mas quase sempre era um favorito. Isso não mudou, zebras em Le Mans foram relativamente poucas. E geralmente, quem liderava com 12 horas de corrida tinha grandes chances de ganhar a corrida, e frequentemente ganhava com diversas voltas de diferença.

Lembremos da corrida de 40 anos atrás, 1975. Era uma daquelas épocas em que as corridas de endurance estavam em crise, e de fato, Le Mans rompera com o Mundial de Marcas, e pela primeira vez não fazia parte do campeonato mundial, que na realidade, estava em franca decadência, apesar da presença da Alfa-Romeo e Alpine Renault.

Quanto a Le Mans, o que se viu foi um grid cheio de desconhecidos. Uns poucos protótipos de 3 litros, um número não muito grande de protótipos de 2 litros, um contingente imenso de Porsches 911 nas categorias GT (25), e um ou outro carro de turismo. Para criar uma ilusão de muitas categorias, havia uma categoria GT series e LeMans GTX, além da GT, Esporte 3 litros e Esporte 2 litros.

As grandes equipes de fábrica haviam desaparecido, e para lembrar um passado mais glorioso, John Wyer alinhou dois Mirage-Ford de 3 litros, nas cores da Gulf, para Ickx-Bell e Schuppan-Jaussaud. Os dois carros macaram os dois primeiros tempos na classificação, e chegaram em 1o. e terceiro. As únicas concorrentes razoáveis eram a Ligier, com três GTs disfarçados de protótipos com motor Ford-Cosworth, com Lafosse e Chasseuil, Beltoise e Jarier e Pescarolo e Migault, e o Porsche 908 de Jost e Casoni. O plantel estava tão fraco, que um BMW de turismo marcou o décimo tempo, e o primeiro protótipo de dois litros marcou o 8o. tempo (o Alpine de Lella Lombardi e Marie-Claude Chamasson)! Além dos 3 litros mencionados acima, havia uma Lola 3 litros, um De Cadenet, um Sigma Toyota que largou em último lugar e um outro Porsche 908.

No fim das contas, o resultado foi Wyer-Ligier-Wyer-Jost, seguido de sete Porsches 911. As Ferrari Daytona pouco puderam fazer contra os Porsche 911, dois dos Ligiers abandonaram, e  os carros que marcaram os quatro primeiros lugares no grid chegaram nas quatro primeiras posições! É bem verdade que na última hora o carro de Ickx-Bell teve problemas, e as quatro voltas de diferença viraram uma. Mas foi essa a única grande emoção nas primeiras posições. Os protótipos de dois litros tiveram uma performance ridícula (o primeiro do grupo, que equivaleria à LMP-2 moderna) chegou em 21o. lugar (um trio feminino pilotou o carro, inclusive Michele Mouton).

Ou seja, como comparar com um forte grid de oito carros de fábrica de primeira classe (havia os Nissan também, mas francamente, não contam), e nada menos de 30 protótipos (incluindo a categoria LMP2). Entre os GTs, fortes equipes de fábrica, ou com ajuda da fábrica, entre outras da Aston Martin e Chevrolet. Francamente, entre Le Mans 1975 e Le Mans 2015, ficaria com Le Mans 2015, com certeza.

É verdade que no ano seguinte, a Porsche e Alpine Renault alinharam fortes equipes de fábrica, até mesmo carros de Nascar participaram , além da simpática presença da BMW e dos novos GTP. O carro que marcou a pole em 1976, o Alpine de Jabouille, fez um tempo de 3m33, comparado com a pole de 3m49s de Ickx no ano anterior. As coisas melhoraram bastante, mas ainda assim, não se pode comparar o nivel de competitividade da corrida de 1976 com a corrida de 2015.

Isto posto, reconheço que todos têm suas opiniões, e essa é a minha.  O passao não foi tudo isso que dizem.

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