Cópia melhorada

Sou meio metido a criativo, e não gosto de copiar ou de ser copiado. Entretanto, se é para copiar, que faça melhor.

Isto é, basicamente, o que fez a Red Bull na F1.

Em meados dos anos 80, a Benetton patrocinou primeiro a Tyrrel, depois a Toleman e a Alfa-Romeo. Sim, o último Alfa-Romeo a correr na F1 não tinha a típica cor vermelha da escuderia milanesa, e sim o verde da fábrica de confecções. Eventualmente, a Benetton acabou comprando a Toleman, e os carros e a equipe, rebatizados Benetton.

O sucesso relativo veio quase imediatamente, com a vitória de Berger no GP do México de 1986. Porém, demorou um pouco para a equipe se tornar verdadeiramente de primeira, o que só aconteceu quando Nelson Piquet fez a sua última grande temporada, em 1990. Quatro anos depois, a Benetton ganhava seu primeiro, e depois, segundo título. Depois disso, sucessos foram infrequentes, até a equipe ser comprada pela Renault, já no novo milênio.

Note-se que nos últimos anos da equipe, o logo da Benetton em si era bastante discreto, e a equipe se comportava comercialmente como qualquer outra equipe no paddock. Supostamente a empresa descobriu que ganhava mais dinheiro com patrocínio de terceiros, do que estampando seu nome e logomarca nos seus carros.

A Benetton desta era é, obviamente, a Red Bull. Entretanto, a empresa austríaca demorou algum tempo para passar de patrocinadora para dona de equipe. Já nos anos 90 o logo da Red Bull era proeminente não só na F-1, como em diversas outras categorias, como Indycar e NASCAR. Eventualmente a Red Bull comprou a fracassada equipe Jaguar, que iniciara a vida como Stewart em 1997, e passou a perseguir o sonho de se tornar uma equipe de ponta.

Confesso que achei que não ida dar em nada, achei que a Red Bull seria tão xinfrim quanto a Jaguar. Só que  a Red Bull conseguiu algo que a Jaguar tentou, mas não conseguiu, contratar Adrian Newey.

Na realidade, este post não é sobre a Red Bull, mas sim, sobre a Toro Rosso.

A Red Bull fez uma outra coisa muito diferente, em relação à Benetton. Comprou a Minardi, e a rebatizou Toro Rosso, que é Red Bull em italiano.

A STR conseguiu o feito de ganhar um GP antes mesmo do que a Red Bull. E o autor da façanha foi Sebastian Vettel, em Monza, 2008. Naquela época, a visão da Red Bull parecia certa - ter uma equipe secundária para descobrir novos talentos para a equipe principal, e proporcionar-lhes quilometragem. No ano seguinte, Vettel passou para a Red Bull, que iniciou sua caminhada vitoriosa.

E desde que saiu da STR, a equipe perdeu seu foco, diria até que perdeu sua missão na F1. Durante três longas temporadas, Jaime Alguersuari e Sebastien Buemi correram pela equipe sem mostrar qualquer característica de Vettel. Seus dois substitutos, Vergne e Ricciardo, não fizeram muito melhor no ano passado.  

Se dissessem que a STR tem um papel estratégico importante, ajudando a Red Bull na pista, até faria sentido continuar. Porém, as duas equipes frequentam metades diferentes do grid, e salvo por uma ou outra  ultrapassagem facilitada pela STR, quando Vettel está pondo uma volta em cima dos pseudo-colegas, a STR não ajuda a Red Bull em nada. Longe de ser a única equipe com quatro carros na F1, são duas entidades completamente diferentes. Provavelmente a Red Bull vai contratar o substituto de Mark Webber no mercado, e não promovendo um dos pilotos da STR;


Assim, perdoem-me por prognosticar, prometi que não ia mais fazer isso, não vejo um futuro muito longo para a STR. Na realidade, uma temporada a mais, a não ser que sua sorte mude. Não sei se a Red Bull vai encontrar um comprador para a equipe, que hoje em dia só drena fundos do fabricante de energéticos.

Eventualmente, até mesmo os carros da Red Bull poderão se render às realidades comerciais de um mundo em crise financeira, deixando de ser quase exclusivamente plataformas publicitárias do dono da equipe. Ter ganho os últimos campeonatos ajudou bastante a equipe, mas se porventura se instalar um período de vacas magras, com poucas vitórias e pontos, a coisa pode mudar. Francamente, não vejo a Red Bull na F-1 daqui há dez anos, pelo menos na forma atual.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami

Comentários

  1. Realmente, Carlos. Não sabemos até quando a situação da STR será considerada sustentável pela Red Bull - tampouco se a própria RBR sobreviverá do jeito que é hoje. Todos os reinados da F1 tiveram um fim. Alguns demoraram mais, outros menos.

    Acho que dependerá essencialmente de se Adrian Newey irá continuar por lá durante mais longos anos; e/ou se irá surgir alguém tão criativo quanto ele ou mais.

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