Quem sabe a sorte sorria...

Nem todos querem admitir, principalmente os bem sucedidos, porém uma forte dose de sorte é necessária para avançar na vida. Muitas vezes, o sucesso de um requer o fracasso de outro. Eis um exemplo - se Jochen Rindt não tivesse se acidentado em Monza, 1970, seria bem improvável a vitória de Emerson no seu quarto GP. E se Rindt se animasse para continuar sua carreira, é bem possível que Emerson não teria ganho o campeonato de 1972. Meras conjecturas, porém, caso de se pensar.

Porém, ficou claro nos primeiros treinos desta temporada, que o motor Mercedes é o mais forte da pequena turma. O motor Ferrari não é mal, o Renault até agora, tem sido uma desgraça.

Portanto, as equipes que tiverem o motor Mercedes terão uma certa vantagem. São estas a própria Mercedes, a McLaren, a Force-India e agora, a Williams.

Ficou claro também que a McLaren tem um bom carro. Tanto Button como o novato Magnussen marcaram bons tempos, e o chassis é obviamente bom.

Entretanto, a Mercedes tem uma posição dúbia em relação à McLaren. Não se deve esquecer que o relacionamento com a equipe de Woking vem desde 1995. Na realidade, a McLaren esteve com a Mercedes mais tempo do que usou o motor Cosworth (de 1968 a 1983, depois, em 1993). Entretanto, em termos de resultados, o casamento não foi tão frutífero assim. Com a Mercedes, a McLaren ganhou somente três campeonatos, embora tenha tido pilotos de ponta em todos os campeonatos nos quais a usou os motores alemães.

Por outro lado, no curtíssimo espaço de tempo em que a McLaren usou motores da Honda (entre 1988 a 1992), a equipe ganhou nada menos do que quatro campeonatos, mais de uma vez, com dobradinha. No automobilismo, como em diversas atividades, existe uma tendência a reavivar bem sucedidas alianças antigas, algo que nem sempre dá certo. Sendo assim, a McLaren e Honda voltarão a se casar, a partir de 2015.

Pode dar certo, pode ser que não. A Honda já esteve três outras vezes na F1, e nunca durou muito tempo. Certamente, não tem a mesma estratégia de longo prazo da Mercedes. Quando as coisas não vão muito bem, a Honda se manda.

Quem sabe agora seja diferente. Em duas das vezes em que a marca japonesa esteve na F1, tentou disputar a categoria com sua própria equipe. Na realidade, obteve mais sucesso na posição de mera fornecedora, entre 1983 a 1992, da Williams, Lotus e McLaren.

Sem dúvida, a McLaren prefere ser a número 1 da sua fornecedora de motores, e desde que a equipe Mercedes reapareceu na F1,  em 2010, seu status mudou. Entretanto, até o ano passado a Mercedes ainda ganhava bastante GPs, de fato, em 2012 tinha o carro mais rápido na maioria das etapas do campeonato.

Recentemente, Toto Wolff, da Mercedes, deu declarações à imprensa especializada que indicam um certo distanciamento entre a Mercedes e a McLaren. Uma coisa fica clara. A última coisa que a Mercedes quer é dar muitos de lambuja dos seus segredos para a Honda. Sendo assim, embora exista um espírito de cooperação atualmente, este pode se dissipar no curso do ano, principalmente se a McLaren estiver melhor do que a Mercedes.

Aqui entra a Williams na história. Segundo disse quando Massa foi contratado, a coisa poderia ficar boa para o seu lado (e de Bottas) se a Mercedes passasse a tratar a Williams como sua parceira principal, em detrimento da McLaren e da Force India. Embora esteja com a Force India há muito tempo, acho difícil que a Mercedes se empolgue muito com a simpática equipe, que, afinal de contas, nunca ganhou um GP. Já a Williams tem um longo histórico de sucesso na categoria, embora tenha entrado em franca decadência desde que acabou seu casamento com a BMW. Entretanto, cabe lenbrar que em 2012 chegou a ganhar uma corrida com o desastrado Maldonado, ou seja, a Williams ainda sabe vencer, não entrou naquele processo de deterioração que assolou a Tyrrel na sua última década e pouco na F1.

Além disso, a Williams terá um patrocinador classe A, na forma da tradicional Martini, cujo envolvimento no automobilismo vem desde o início da década de 70, desde a época das Porsche 917.. Massa já foi vice-campeão mundial, e Bottas tem futuro. A equipe também fez um "upgrade" no lado técnico.

Sendo assim, se a Williams mostrar serviço no começo do campeonato, não duvido nada que a Mercedes deixe a McLaren chupando o dedo, enquanto apoia a nova parceira.

Quem sabe a sorte sorria para o Massa.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami

Comentários

  1. Há de se considerar os interesses do próprio Toto Wolff no Valteri Bottas e sua ligação com a Williams...

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