Só não enxerga quem não quer


Causou em alguns círculos muita surpresa a contratação do menor de idade Max Verstappen pela Toro Rosso para 2015. Para mim não causou muita surpresa. Não vou me repetir, quem quiser que leia meu post anterior sobre a mudança de paradigma na contratação de pilotos na F1, no seguinte endeereço
http://carlosdepaula.blogspot.com/2013/11/magnussen-e-mudanca-de-paradigma.html

Existe entretanto, um outro ângulo para lá de interessante, e só não vê quem não quer.

O site oficial da F1 nos informa que as suas corridas são vistas em 187 países diferentes! Muito mercado, tá louco. Entretanto, a F1 ainda é, queiram ou não, uma categoria europeia, mais precisamente, do Oeste Europeu. Os interesses estão lá, os construtores basicamente lá, as equipes, a direção, muitos dos patrocinadores e a maioria dos pilotos. As corridas, entretanto, estão saindo dali, ponto importante.

187 países...será que interessa tanto, em termos de mercado, o pessoal que está assistindo as corridas no Burundi, Costa do Marfim, Bolívia, Brunei, Quirguistão e Vanuatu? Para começo de conversa, nenhum desses países tem tradição no automobilismo. Além disso, são países com pouca população, econonicamente irrelevantes, e, portanto, só estão na lista para inchar os números. Nada importam.

Porém, a tradição do mundo dos Grande Epréuves é europeia. E é no Velho Continente que se encontra a maior concentração de mercados interessantes para a F1.

OK, os EUA ainda são a maior economia do mundo, seguidos da populosa China e do Japão. Nenhum dos três é um país europeu. Porém, nos EUA a F1 sempre foi nota de rodapé, e continua até hoje, não se enganem. China e Japão, dois mercados importantes, a China monstruosa e despertando para o consumo. Os 3 países tem GPs.

Entretanto, embora a Europa seja o principal mercado da F1, muitos GPs europeus se foram do calendário, quiçás para sempre. Agora se fala muito do desaparecimento do GP da Itália, e o da Inglaterra está sempre na corda bamba. Ou seja, o principal mercado da F1 passa a ser não presencial, e sim televisivo.

Sendo assim, o interesse das equipes, me parece, é contratar pilotos europeus, para o pessoal grudar nas telas. Contratá-los numa tenra idade, melhor ainda. Pois os patrocinadores potenciais lá estão, e um grid cheio de europeus, sendo ou não as corridas na Europa, é muito mais interessante para o circo do que um grid com argentinos, indonésios e canadenses. E brasileiros!

Certamente o Brasil é um mercado gigantesco para a F1, porém, o torcedor brasileiro é chato. Migra para a TV em massa somente quando seus pilotos estão ganhando, e isso não ocorre há um bom tempo. Fãs de outros países torcem quando seus pilotos chegam em 11o., o brasileiro xinga quando os seus chegam em segundo.

Não acho que tudo é manipulado, somente acho que existe um consenso de marketing entre as equipes e Bernie, e todos sabem o que é melhor para a categoria. Acordo de cavalheiros. Contratar um holandês é bem melhor do que um brasileiro (e também um português, mas daí, é uma outra história...), até porque se sabe que a STR não vai sair ganhando corridas a torto e à direito, e a contratação de um brasileiro em nada valeria em termos de aumentar a audiência no Brasil. Não há manipulação no sentido de forçar o piloto de uma certa nacionalidade a vencer. Como para o torcedor brasileiro só vale a vitória, o aumento da audiência da RGT requer um pequeno milagre.

Com certeza a imprensa da Holanda vai falar bastante do Verstappen, tratando-o como ídolo, como a finlandesa trata Bottas e a dinamarquesa, Magnussen, e a francesa, Grosjean. Jovens de segunda geração também são interessantes, e um de 17 anos mais ainda. Só falta uma mulher suíça para o caldo europeu ficar mais interessante ainda. A Itália não conta, pois italianos torcem para a Ferrari, e não para pilotos italianos. Uma F1 sem pilotos italianos é perfeitamente viável na Itália, contanto que a Ferrari esteja competitiva.

Sendo assim, os angolanos e uruguaios podem continuar sonhando com um piloto seu na grande categoria. Olha o cara vai ter que ser muito bom para chegar lá...
 

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