O dia dos não vencedores

Hoje em dia uma das reclamações dos fãs da Fórmula 1 é a previsibilidade de resultados nas provas. Num ano em que a Mercedes quase tudo domina, fica fácil prever que a pole-position ficará com um dos carros prateados, e a vitória provavelmente, também. Na realidade, em grande parte, existe grande possibilidade de o pole, os primeiros cinco colocados e o autor da volta mais rápida já ter ganho um GP na sua carreira, pois há muitos no grid (Hamilton, Rosberg, Vettel, Alonso, Massa, Raikkonen, Button, Maldonado, e agora, Ricciardo).

Nos anos 70 essa possibilidade também era grande. Via de regra, somente um ou dois pilotos ganhavam seu primeiro GP numa temporada, e os primeiros colocados, o pole e o autor da volta mais rápida geralmente eram pilotos que já tinham obtido pelo menos um sucesso no passado.

Outro dia, vendo um vídeo no youtube, me dei conta que houve um disputadíssimo GP em que a regra de foi pela janela. O ano foi 1971, e o palco, Monza, Itália.

Não foi por falta de ex-vencedores de GPs no grid, , pois havia bastante - Stewart, Ickx, Surtees, Regazzoni, Siffert, Bonnier, Hill e Fittipaldi. Porém, o dia não foi nada propício para os vencedores, e os não vencedores estrelaram.

Para começo de conversa, o pole position foi o azarado Chris Amon, que marcava sua primeira pole com o Matra-Simca. Na corrida as coisas não foram tão bem para o neo-zelandês, e embora Chris tenha liderado, perdeu o visor do capacete durante a corrida, e o contato com os líderes.

Líderes houve muitos, inclusive alguns pilotos que já tinham diversas vitórias no seu plantel, como Regazzoni. Entretanto, nas últimas voltas de um emocionante GP em que o líder mudava com frequência, muitas vezes mais de uma vez numa volta, o grupo líder no último animado slipstreaming de Monza era formado de Ronnie Peterson, Francois Cevert, Mike Hailwood, Peter Gethin e Howden Ganley. Nenhum deles havia ganho um GP até aquela altura das suas carreiras.

Após muitas ultrapassagens, a curtíssima vantagem final ficou com Peter Gethin, com seu BRM, que assim se tornava o mais novo vencedor da Fórmula 1. Curiosamente, Peter pouco fez antes ou depois desta vitória, e de fato, terminou sua carreira de F-1 com somente 11 pontos - os 9 desta vitória, e mais 2 de sextos lugares obtidos em 1970 e 1972. Gethin foi um piloto rápido, que obteve muito sucesso na F-5000, mas também ganhou na F-2,  Can-Am, Interserie e F-3. Também foi o único piloto a vencer uma corrida mixta de carros de F-1 e F-5000 com um carro da 5000, a Corrida dos Campeões de 1973.

O sexto e sétimo colocados também foram pilotos que nunca haviam ganho um GP, mais precisamente, Amon e Jackie Oliver, que pilotava o único McLaren da prova.

O autor da volta mais rápida também foi um piloto que não havia vencido nenhuma corrida, Henri Pescarolo com um March particular de Frank Williams!

Na realidade, o melhor ex-vencedor acabou sendo o nosso Emerson Fittipaldi, que corria com a mal-amada Lotus com motor turbina, e cor dourada, e inscrita em noma da World Wide Racing.

Até o final da temporada, Cevert ganharia seu primeiro e único GP, e Ronnie Peterson teria que esperar mais dois anos para ver a cor da vitória. Amon, Ganley, Pescarolo, Hailwood, Oliver nuncas ganhariam GPs.

Nunca mais houve uma corrida em que os não vencedores brilharam de tal maneira.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O taxista de São Paulo, e muito disse não disse

RESULTADOS DE CORRIDAS BRASILEIRAS REMOVIDOS DO BLOG

DO CÉU AO INFERNO EM DUAS SEMANAS - A STOCK-CAR EM 1979