A relativa inutilidade da GP2

Quando comecei a me interessar por automobilismo, era bastante clara a distinção entre as categorias internacionais de monopostos, a suposta escadinha de ascensão para a F1. A F3 tinha 1 litro, motores de mais ou menos 100 HP, a F2, 1,6 litros motores com uns 180 HP, e a F1, 3 litros, e motores com 465 HP. Passaram-se alguns anos, e a F3 passou para 1,6 litros, depois 2 litros, a F-2 para 2 litros e a F1 continuou na mesma. A diferença entre a F3 e F2 de dois litros estava na origem dos motores - na F3 usavam-se motores de carros de passeio preparados, na F2, motores de corrida. Porém, havia bastante separação entre essas classes.

A F2 sobreviveu até 1984, e foi substituída pela F3000. Aqui começam a se complicar as coisas. Os motores de 2 litros da F2 foram substituídos por motores de 3 litros, um pouco menos bravos do que os motores de 3 litros normalmente aspirados da F1. Naquela época, os motores turbo já estavam mandando na F1, mas ainda sobrevivia um ou outro Cosworth. A diferença entre a potência dos Turbo de segunda geração e os aspirados da F3000 era muito grande.

Vai ficar chato se eu continuar narrando as mudanças de regulamento, e o propósito deste post não é puramente histórico, e sim, contextual.

Muitos ficaram surpresos ou criticaram a contratação de Max Verstappen pela Toro Rosso. Entendo todos os pontos de vista, e tenho algumas opiniões sobre o assunto, porém, acho que o ponto de vista da Red Bull não está sendo entendido.

A Red Bull é uma equipe sui generis na F1, por que, efetivamente, é a única equipe com quatro carros. Ok, em tese, RBR e STR são duas equipes diferentes, porém, na verdade, trata-se de uma equipe só, com objetivo único. Os dois carros da Red Bull são ocupados pelos pilotos mais experientes, e os carros da STR servem para dar experiência aos pilotos de amanhã da Red Bull. É a única razão de a STR existir.

Convenhamos que o Jean Eric Vergne não fez grande coisa até hoje na F1. Nem tinha o Ricciardo, porém, não nos esqueçamos que nós só temos acesso ao desempenho superficial. Os engenheiros e técnicos têm milhões de dados, de corridas e treinos, que os permitem analisar com mais propriedade "quem é quem". Por isso viram nos dados o Ricciardo de hoje na época da Toro Rosso, algo que os palpiteiros de plantão como eu não tinham condições de ver. E pela mesma razão não vêm no Vergne de grande futuro, pelo menos não para substituir um Vettel.

Na realidade, os carros de GP2 têm potência quase idêntica aos F1 atuais. A diferença é pouquíssima. Ou seja, entre correr na F1 ou na GP2, que seja na F1! Dá na mesma. Obviamente, nem todo mundo tem o privilégio de participar de um esquema de uma equipe de 4 carros, pois todas as outras têm dois...

Já falei antes sobre a mudança de paradigma da escolha de pilotos de F1, porém, não tinha abrangido esta aspecto específico. Entre se envolver em acidentes com outros pilotos na GP2, é preferível que Max dê suas cabeçadas na F1. Para que a Red Bull iria gastar uma outra fortuna para dar quilometragem a seu piloto na GP2, quando já chegou à conclusão de que Vergne não é o piloto que desejam, e o Felix da Costa também não?

No momento, Mr. Dieter está disposto a gastar grande parte da sua fortuna mantendo duas equipes de F1. Não sei até quando durará esta sede. É verdade que a Red Bull foi campeã nos últimos quatro anos, e ganhou uma bela grana, e enquanto a Red Bull estiver entre as duas primeiras, o prejuízo não sai tão grande.

Por outro lado, existe a política na Red Bull, como em qualquer equipe. Vettel pode dizer que não se importa com a performance e resultados de Ricciardo, porém, obviamente estes afetaram seu lado psicológico. Já não se sente "o cara" na Red Bull. Alonso é considerado por muitos o melhor piloto da atualidade, porém, seu último título ocorreu há longos oito anos atrás. O asturiano não é eterno, e quem sabe, em dois anos, o Vettel esteja na Ferrari. Ou na McLaren-Honda. A Red Bull precisa já preparar um substituto, e seu modus operandi é não contratar no mercado.

Entretanto, é lógico que os modos dos pilotos que graduam direto de categorias ditas inferioes para a F1 geralmente são bruscos. Quer dizer, sim e não. Pastor Maldonado passou diversos anos na GP2 e é o maior arranjador de confusões da atualidade. Porém, Kevin Magnussen é um dos exemplos de quão afoito um jovem piloto pode ser.

Quem sabe, entretanto, Verstappen seja o substituto ideal para Vettel. Ou quem sabe, seja um futuro Vergne.

Só digo que a GP2 está ficando cada vez mais irrelevante, principalmente como fornecedora de pilotos para as equipes Top da F1.  

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