Nem choro, nem vela

Antes de mais nada, cabe dizer que não sou suficientemente arrogante para achar que entendo mais de F-1 do que qualquer pessoa que chegou ao cargo de diretor geral de uma equipe da categoria. Eu, como a maioria dos blogueiros (até mesmo os jornalistas especializados, me perdoem), vejo as coisas pelo lado de fora, no meu caso, bem de longe. Quem está no meio da tempestade se molha.

Assim, creio que a muito criticada Monisha Kaltenborn, manager da equipe Sauber, obviamente entende muito do assunto F1, certamente mais do que eu. Também entendo que a natureza humana, seja na F1, na feira-livre, ou mesmo no humilde mercado mundial de traduções, é puxar a sardinha para o seu lado. Somos todos lobistas de primeira, e egoístas por essência. Sem exceções.

Portanto muito (ou quase tudo) que um GM de uma equipe de F1 declara à imprensa tem o viés de manipular os fatos para o lado e situação da sua equipe. Afinal de contas, se você não proteger seus interesses, quem protegerá?    

Ocorre que como "formadores de opinião" da F1, em virtude do seu estamento no mundo da velocidade, os GM muitas vezes ditam certas "verdades" que estão longe de ser verdades. E muita gente que realmente não entende xongas do assunto, abraça tais "verdades" com um entusiasmo de dar gosto.

Sendo assim, existe uma tendência de dizer que "hoje em dia as equipes pequenas sofrem na F1". Foi mais ou menos isso que Monisha declarou à imprensa recentemente, e de certa forma, foi reiterado por Lopez da Lotus, ao dize que sua equipe não é "respeitada".

Antes de prosseguir, devo dizer que sempre nutri carinho pelas equipes pequenas. Quase tive uma crise de choro quando o Marc Surer marcou uma volta mais rápida com o Ensign no Brasil, quando o Jan Lammers marcou um quarto tempo em Long Beach com o ATS, e o Merzario emplacou o terceiro no grid com um Iso Marlboro na África do Sul, em 1974. Sem contar um Minardi na primeira fila! Isso não significa que vou falar qualquer besteira que vise "proteger" as equipes pequenas. Certamente desejo que a Sauber, Force-India e mesmo a Williams sobrevivam a estes tempos difíceis. Confesso que não vejo muito ponto na existência da Marussia e Caterham, porém, sejamos generosos, é Natal.

Apesar da minha quedinha pelos pequenos, sem dúvida Monisha falou uma besteira, ao sugerir que esta situação seria um desdobramento atual. Sempre foi assim na F1!!! Os garagistas donos de Bugattis dos anos 20 e 30 não ganhavam GPs. Quem ganhava eram os Bugs da "usine", e o mesmo ocorreu com os donos de 250Fs dos anos 50 - só viam a equipe de fábrica da Maserati ganhar corridas, enquanto viviam existências periclitantes, dentro e fora das pistas.

E, de modo geral, quem ganhava as corridas eram as equipes de fábrica mais endinheiradas. O din-din sempre foi a graxa mestre da F1, e os pequenos, sempre, meros coadjuvantes. Sim, alguns privateers como Carel Godin de Beaufort e Joakin Bonnier tinham uma graninha a mais que os seus colegas, porém, também foram coadjuvantes.

E dizer que isto ocorre só na F1 é uma inverdade. Não só ocorre em outras disciplinas do automobilismo, como também, de modo geral em todos os esportes!! Ok, um time do Marrocos chegou à final do Mundial de Clubes, porém, todos sabem por que. O futebol, o esporte mais praticado do mundo é um grande exemplo, aliás.

E os Jogos Olímpicos, por que os EUA, China e Rússia ainda ganham a maioria das medalhas? Seria uma pré-disposição genética a carregar medalhas de ouro no pescoço? Não, claro que não, estes países gastam rios de dinheiro preparando seus atletas, e podem bancar grandes delegações.

Até países mais humildes, como os africanos que geralmente ganham as maratonas da vida, reservam status de herois (com a devida relative remuneração, ou favores) a seus grandes atletas e se concentram nessa modalidade para fazer papel bonito nas competições.

Sempre foi assim, e sempre será. Que o diga o Frank Williams, que já foi pobre com uma equipe de causar risos, depois rico e bem sucedido, e hoje está na descendente novamente.

Monisha, informe-se!!!!              

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