O poder da retrospectiva

Digamos que está sendo uma temporada esquisita.

Para começo de conversa, no primeiro GP, dominaram as manchetes dois pilotos holandeses. Que me desculpem os holandeses, gosto muito do país, porém, pilotos holandeses quase sempre foram notas de rodapé na F1. Não na Austrália. Um estava em vias de se tornar o primeiro piloto de GP de 17 anos, e o outro o primeiro a forçar uma equipe a colocá-lo num carro, sim, na marra. Marra judicial, porém marra. No fim, o mais fraco dos dois, Giedo Van der Garde, acabou dando uma banana para a F1 e o mundo cavernoso de seus contratos, conseguindo, porém, um saco de Euros. Sabe-se lá se não teve que restituir seus patrocinadores...

Depois, foi esquisito sim ver dois ex campeões do mundo começando a corrida lá atrás. Ninguém esperava que a Honda produzisse um foguete logo de cara, até porque, na retrospectiva, a Honda sempre teve começos difíceis na F1. Em 1964, com Bucknum, os carros brancos da equipe que mal fabricava carros de rua na época eram quase uma piada, com direito, inclusive a latinha de Coca-cola improvisada como coletor de vazamentos. Depois teve a curta época da Spirit, já na era dos turbos nos anos 80. Quando a montadora voltou a equipar um F1, nesse caso a BAR, a coisa também não foi auspiciosa de saída. Notem que somente na sua segunda permanência na F1 a Honda teve os resultados esperados.

Somente que dessa vez a Honda está tentando fazer renascer uma das parcerias mais prolíficas da F1, com a McLaren, e agora com um piloto que muitos julgam o mais completo da F1, Alonso. Os tempos são diferentes - quando começou com a McLaren em 1988, a Honda já tinha ganho um campeonato, diversas corridas com seu turbo, e seu motor já era considerado de longe o melhor. Sem contar que a McL tinha um patrocinador que despejava milhões na equipe, a Marlboro. Ver os McLarens carecas hoje é um tanto estranho. A equipe insiste que será possível pagar as contas sem um title-sponsor, porém, ainda há muito espaço em branco no carro. Tenho cá minhas dúvidas.

E a jogada de mestre de Vettel? Saiu da Red Bull, que tinha o único carro que conseguiu bater as Mercedes no ano passado, e entrou numa Ferrari em crise. Muitos esperavam que seria a derrocada final do alemão. Pois agora a Red Bull passa mais tempo na retaguarda do que qualquer coisa, só vai para a frente no ciclo dos pitstops, e até a Toro Rosso parece melhor do que ela. A equipe já fala inclusive em fazer as trouxas e se mandar da categoria. Enquanto isso, Vettel entrou numa revitalizada Ferrari, sendo habitué dos pódiums,e tendo já ganho su primeiro GP com o Cavallino.

A corrida de hoje terminou com três Mercedes na frente. Quer dizer, um safety car e dois F1 da marca. Nada de estranho aqui. Porém, permitam-me divagar, afinal este é o meu espaço, e o que faço melhor é divagar.

Há certas coisas que somente o conforto da retrospectiva nos permite considerar. Fazer previsões é sempre perigoso, e nos meus dias de prognosticador já dei mais chutes fora do que a seleção canarinho na Copa de 2014.

Remeto-me ao GP de Monaco de 1973.  Sim aquele mesmo que começou com alguns carros que não estavam habituados com a parte mais próxima da frente do grid em posições razoáveis, como Howden Ganley no Iso-Marlboro e seu conterrâneo Chris Amon, no Tecno. Depois, foi de longe a melhor corrida de Wilson Fittipaldi na F1. Esteve em terceiro durante muito tempo, tem lugar que diz até que esteve em segundo, só me lembro dele em terceiro, mas no final das contas, acabou-se o sonho, e Wilsinho nunca ocupou um pódium na sua carreira. Teve a estreia de James Hunt na F1, que com um March particular, assustaria o establishment. Justo o Shunt, para o qual muitos não davam um tostão furado.

O curioso da corrida foram os seis primeiros. Stewart-Fittipaldi-Peterson-Cevert-Revson e Hulme. O que há de curioso nisso? Os seis pilotos terminaram o campeonato exatamente nessa ordem, algo que na ocasião ainda parecia improvável. Quanto ao sétimo naquela corrida, foi Andrea de Adamich, que alguns GPs depois quase fica sem a perna por causa de uma travessura de Jody Scheckter. Justo quando estreava o Brabham BT42, que não era um mau carro, e quase leva Wilsinho ao pódium no Principado.

Se eu fosse apostador, mas não sou, podem ficar tranquilos, apostaria que o resultado da corrida de hoje, os seis primeiros, terminarão o campeonato exatamente na ordem do resultado do GP da China de 2015, Hamilton-Rosberg-Vettel-Raikkonen-Massa-Bottas. Sim, estou dando um voto de confiança ao Felipe. Uma coisa ficou claro, essas três equipes, Mercedes, Ferrari e Williams estão muito na frente das outras, e uma na frente da outra.

Como sei que ninguém  se lembrará do meu prognóstico, sei que em novembro não serei cobrado se o resultado for diferente. Só a retrospectiva dirá se estou errado ou certo.

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