Uma tétrica coincidência

Outro dia alguém postou uma foto no Facebook sobre uma trágica corrida realizada em Rouen les Essarts, França, na qual morreram dois pilotos num espaço de oito minutos. Rouen era uma pista perigosa, tanto é que levou a vida de Gerry Birrel, o escocês que, muitos juravam com certeza estaria na Fórmula 1 em 1974.

Há diversos casos de tais corridas trágicas, como Imola 1994 e Indy 1973, porém, este post não trata disso. Trata de algo mais esquisito ainda.

O ano era 1921. Mais precisamente, maio de 1921.

Theodore Pilette já era piloto há alguns anos, e de fato, antes da Primeira Guerra Mundial havia representado a Mercedes em corridas na Europa e mesmo nas 500 Milhas de Indianapolis de 1913. Além de bom piloto, Theodore tinha bom tino para os negócios, e com 26 anos fora nomeado representante da Mercedes na Bélgica.

Theodore continuou correndo após a grande guerra, embora se ocupasse mais dos negócios. Em 1921, fora para Stuttgart buscar uma nova Mercedes de corrida, cujo batismo ocorreria numa corrida em Brooklands, na Inglaterra.

Os tempos eram outros, e os carros não eram transportados em caminhões, como hoje. Theodore e seu mecânico iam dirigir até a Inglaterra. Ao chegar em Luxemburgo, algo aconteceu. Não há testemunhas, porém, o certo é que o carro saiu da estrada, e tanto Theodore como seu mecânico foram jogados para fora e morreram. Theodore nunca chegara em Brooklands. O dia era 13 de maio de 1921, uma sexta-feira.

Naquele mesmo dia, um outro piloto estrearia um carro em Brooklands. O nome do piloto era Hartshorne Cooper (que eu saiba, não era parente de John), também conhecido como Capitão Cooper. O carro, como muitos usados na pista inglesa, era um híbrido. O motor era um motor de oito cilindros, de aviação, com 19.704 cc de capacidade cúbica, fabricado pela Clerget. O carro era chamado de Cooper-Clerget, porém, é quase certo que o chassis era o do Mercedes previamente usado pelo Capitão.

O desfecho da história pode ser advinhado. Cooper teve um acidente em Brooklands, e morreu no mesmo dia que Pilette, que participaria da mesma corrida, com um Mercedes.

Não é à toa que o filho e o neto de Pilette, André e Teddy, que também tiveram longas carreiras automobilísticas, tinham lá suas superstições.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami

Comentários

  1. Triste mas Interessante. B.Rangel . Abraço, Carlos de Paula

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