Ideias antigas, uma quase tragédia

Nas últimas provas da Indycar aqui em Homestead haviam concertos de rock e country no mesmo dia nas instalações do autódromo. Não eram bandas famosas, pelo contrário. A ideia na realidade é agregar valor ao evento, além do automobilismo, e chamar os jovens para as pistas. Este não é um fenômeno americano, de fato, na Europa já proliferam eventos que mesclam música com corridas, com resultados nem sempre alentadores.

A razão de querer misturar música com automobilismo se calca na falta de interesse cada vez maior dos jovens pelas corridas. Quando cresci, Interlagos ficava cheio de jovens. E assim ocorria com as outras pistas no mundo inteiro. Hoje em dia, o público nas corridas envelheceu, o que assusta bastante os promotores de corridas. Há diversas razões para este desinteresse, muitas das quais já foram discutidas neste blog, porém existe uma grande razão para o jovem não querer participar do evento analógico.

Os videogames, embora tenham melhorado em qualidade gráfica, ainda apresentam corridas de carro de uma forma nada realista. Longe de ser baseados nos simuladores usados por pilotos de Fórmula 1 e outras disciplinas, que visam duplicar quase perfeitamente as necessidades de aceleração, frenagem e tomadas de curva em diversas pistas, os videogames fogem um tanto da realidade, com velocidade e aceleração excessivos. E os carros de corrida reais, em comparação, parecem lerdos.

Quem sabe um dia os videogames realmente reproduzam a realidade. Não acho que isso acontecerá, pois a realidade virtual é sempre exagerada, faz parte da cultura. Sendo assim, outras estratégias deverão ser adotadas para atrair a juventude para os autódromos, e eventos musicais-automobilísticos provavelmente serão a norma num futuro próximo.

A ideia não é nova, entretanto. Numa das primeiras vezes em que o binômio automobilismo-música foi usado, a coisa quase se transforma numa tragédia.

O ano era 1976, e a pista, Mallory Park. Este autódromo, situado numa vila no interior da Inglaterra, não é um autódromo de primeira linha. Entretanto, sediou muitas corridas de Fórmula 5000, Aurora e mesmo do Europeu de Fórmula 2, no seu auge. Sem contar inúmeras corridas de Fórmula 3, muitas delas ganhas por pilotos brasileiros.

Os organizadores locais, desejosos de chamar um povo novo para o autódromo, criou um Fun Day, em 1976, que misturava música e corridas. Cabe lembrar que ainda se sentia a crise de 1974-75, que esvazioiu os autódromos e causou o cancelamento de inúmeras corridas e campeonatos no Velho Continente.

Nunca o autódromo esteve tão cheio. O público estimado era de 60.000 pessoas, algo impressionante para um evento de segunda linha. Porém, havia uma razão. A banda Bay City Rollers, que fazia muito sucesso na Inglaterra, e que muitos chamavam de os Novos Beatles, apareceria no evento, sem, entretanto, tocar.

Há no meio do autódromo, um lago, de uma dimensão razoável, e era exatamente ali que os Bay City Rollers chegariam, desembarcando em um helicóptero. Quando os rapazes chegaram, estabeleceu-se o maior tumulto no autódromo inteiro. Milhares de meninas de seus 13 a 16 anos procuraram se aproximar do lago, e de fato, algumas entraram na água, procurando proximiddade com seus ídolos. Muita gente se machucou, as corridas foram interrompidas, e por pouco o Fun Day não vira uma terrível tragédia. Os Bay City Rollers nunca chegaram  a sair do helicóptero, e assim a ideia foi dada como um fracasso.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami  

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