Rito de passagem

Se não disse aqui, já disse em algum outro lugar que quase todos meus ritos de passagem foram atípicos. Não se trata de um julgamento qualitativo. Não quero dizer que foram horríveis, nem tampouco maravilhosos, nem dramáticos ou completamente chatos. Diria que atípicos. Na sua atipicidade, não diria que foram muito interessantes, portanto, não vou entediar ninguém com longas e emboloradas histórias de décadas atrás, nem sequer algumas mais novas, afinal de contas, os ritos de passagem continuam a acontecer.

Cabe também dizer que minha definição de rito de passagem pode ser um pouco mais ampla do que a sua. Ou quem sabe, o contrário.

Nesta altura dos acontecimentos, parece que meu legado não será lá grande coisa. Como o Brás Cubas de Machado de Assis, não tive filhos. O bendito livro de minha autoria parece que não vai sair. Quem sabe, quando estiver pronto, não se façam mais livros no planeta. A única árvore que plantei, na frente do Colégio Maria José quando tinha uma unidade em Higienópolis, pelo jeito já virou pó ou comida de cupim. Minhas opções estão ficando para lá de limitadas. Fora da tríade filho-livro-árvore, também nada fiz de muito relevante na minha passagem terrena até hoje, e possivelmente, nunca faça.

Não que isso me aflija. Estou pronto para que alguns anos após minha passagem pela Terra, meu nome seja completamente esquecido - exceto por algumas dezenas de milhares de documentos com minha assinatura arquivados na imigração, tribunais, escolas, faculdades, etc. Que provavelmente serão eventualmente queimados, triturados, eliminados. Não tenho sido de todo inútil, quiçás somente esquecível.

Porém, outro dia vi um concerto do Elton John, que quase me mata logo na primeira música, pois tocou minha predileta, "Funeral for a Friend". O início da música, tocado em sintetizador, foi uma das razões que me levaram a ter interesse em teclados, pois o que eu gostava mesmo era de bateria e do baixo do Paul McCartney. O resto da música também é magnífico. E daí veio a curiosidade, para quem teria escrito esta obra-prima?

Uma pequena pesquisa, e voilá, uma surpresa. Quer dizer, não sei se é uma grande surpresa, afinal de contas, estamos falando de um cara que tocou um concerto no Central Park  de Nova York vestido de Pato Donald. Elton compôs a música para o seu próprio funeral.

Isto me inspirou. Vou compor uma música para meu funeral, e os primeiros acordes já existem há anos. Simplesmente nunca consegui encaixá-los numa música maior, apesar de diversas tentativas. Ou seja, a minha "Funeral for a Friend" já estava tentando sair de mim há muito tempo...

Fui tendo um brainstorming...Por que não fazer um funeral "happening"? Cheguei a pensar em ter um caixão em forma de fórmula um, porém, acho que sairá muito caro - não quero que a Célia gaste os proventos do seguro de vida num capricho de um infantiloide de marca maior.

Também pensei num funeral com a presença de todos meus patinhos de borracha. Na realidade, cheguei a pensar em distribuir, como lembrança, um patinho de borracha para cada presente.

Entre o caixão F1, patos de borracha e o debut público da minha música, acho que já dá para fazer algo interessante. Imagino que muita gente se interesse neste outro rito de passagem atípico, que seja para rir da minha cara uma última vez. Uma vez palhaço, palhaço até morrer.

O Rodolpho Chimentão já confirmou sua presença.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O taxista de São Paulo, e muito disse não disse

RESULTADOS DE CORRIDAS BRASILEIRAS REMOVIDOS DO BLOG

DO CÉU AO INFERNO EM DUAS SEMANAS - A STOCK-CAR EM 1979