Algo curioso

999 entre cada 1000 pilotos europeus com certeza sonharam um dia ser campeão de Fórmula 1, ou pelo menos piloto da categoria top do automobilismo. Muitos, depois de quebrar a cara dentro da categoria, e outros sem nunca conseguir chegar lá, acabam inventando fábulas, como se seu sonho de consumo fosse realmente pilotar carros de Fórmula Indy, ou carros de turismo. Conte outra...

A meu ver, Bob Wollek foi um senhor piloto, e deveria ter tido uma chance de correr na Fórmula 1. O fato é que nunca teve tal oportunidade, embora algumas centenas de pilotos sem um décimo do seu talento tenham conseguido pelo menos tentar a classificação num GP oficial.

Recentemente a revista Autosport listou os 100 pilotos que nunca pilotaram na F-1, mas que, na opinião dos seus especialistas, deveriam ter tido esta chance. Entre os brasilerios encontra-se inclusive Bird Clemente, e entre os primeiros, diversos pilotos de Fórmula Indy e carros esporte. Injustiça das injustiças, o colegiado de especialistas não incluiu Wollek no plantel, que além de incluir muitos ingleses para meu gosto, também incluía óbvias zebras, pilotos desconhecidos que nem saíram da F-3. A meu ver, vaidades das vaidades dos jurados, provar que realmente são do metiê.

Não quero cometer uma injustiça. Pode ser até que a lista mencione Wollek, e eu não tenha visto. Nesse caso, desculpas minhas à Autosport, que sei, se lixa para as minhas opiniões. Por fim, trata-se de uma mera lista, coisa das mais subjetivas, portanto, de uma validade questionável, que me desculpem os listados e jurados e a revista. Opiniões são nada mais que opiniões.

O fato é que no começo da sua carreira, Wollek correu com carros de turismo e esporte, porém, em 1969 entrava na Formula France. No ano seguinte, comprou um Brabham BT 28 novo por menos de 2000 libras e entrou na F-3, tendo um acidente horripilante em Rouen (pista que matou muitos pilotos nos anos 60 e 70 nessa mesma corrida morreram dois) que estragou sua temporada.  Não ganhou nada, fez poucas provas, porém, chegou em segundo numa corrida, numa temporada em que havia diversos franceses de boa qualidade na parada como Jaussaud,  Jarier, Migault e pilotos do campeonato inglês viviam correndo nas provas francesas.

Em vez  de continuar na F3, Wollek, que obteve patrocínio da Motul por conexões familiares, arranjou um lugarzinho na equipe de Ron Dennis, na F2, uma pseudo equipe de fábrica da Brabham. Lá teve um primeiro difícil, terminando no ano correndo na Temporada de F2 no Brasil e Cordoba. Porém, continuou na F2 em 1972 e 73, obtendo resultados melhores, ainda com patrocínio da Motul e com Ron Dennis.

Essa mesma Motul acabou patrocinando um trio de franceses na BRM em 1974, com a notável ausência de Wollek. Ron Dennis quase fez a besteira de entrar na F1 naquele ano, porém desistiu, e ficou mesmo nas Fórmulas 2 e 3 até chegar a oportunidade McLaren. O Rondel  de F1 virou Token e não fez muita coisa.

À primeira vista, era de se esperar que Wollek fosse considerado para um lugar na BRM-Motul, mas não foi esse o caso, os franceses da equipe eram Belotise, Pescarolo e Migault. Na realidade, Bob acabou brigando com o diretor da Motul Yves Bastiment no final de 1973, que o chamou de teimoso e ingrato. E com a crise petrolífera de 1973-74, havia pouca grana para bancar um outro francês na F1 (já havia diversos em 74, Beltoise, Pescarolo, Jarier, Depailler, Migault, e um ou outro que arranjava uma grana para correr aqui ou ali, como Dolhem, Laffite, Jabouille e Larrouse). No meio de um exército de franceses, Wollek dançou.

Existe, entretanto, uma entrevista dada a uma revista francesa em 1970, que indica que Wollek estava entre o 0,1% que não sonhava ser piloto de F1 pelo menos na sua época de F3. Curiosamente, Wollek dizia que não sonhava ser um Stewart no mundo dos GPs, e nem sequer um Siffert dos protótipos!! Sonhava ser um Lucien Bianchi, disse que ficaria contente se um dia estivesse entre os 15 melhores pilotos de protótipos do mundo, isto lhe bastava! Isto vindo de um piloto no começo de carreira, numa categoria considerada trampolim para a F-1 é para lá de surpreendente, pois nessa altura dos acontecimentos todos se achavam o próximo Rindt, como todos atualmente se acham o novo Schumacher.

Ou seja, seu período nos monopostos poderia amentar sua experiência e visibilidade, não com as BRMs da vida, mas sim com equipes de protótipo de primeira linha. E de fato, em 73 e 74 Wollek fez parte da Equipe Matra-Simca nas 24 Horas de Le Mans, chegando a liderar a corrida de 1973. Ou seja, seu objetivo inicial já tinha sido parcialmente atingido.

O que não significa que uma vez piloto de F2, Wollek não tenha nutrido pelo menos a esperança de chegar lá. Depois de 3 temporadas com a Rondel, Wollek havia afinal de contas ganho duas provas do Campeonato Europeu, porém, sempre chegando atrás de pilotos graduados que não marcavam pontos - uma vitória com gosto de segundo lugar. Disse a um amigo que sua temporada de 1973 foi desastrosa e que havia 90% de probabilidade de nunca correr na F1, apesar de terminar o campeonato em sexto lugar. Houve uma pequena mudança entre o pragmático Bob de 1970, que almejava os protótipos, e o do final de 73, que já sonhava com F1. O sonho durou pouco.

Quando Patrick Depailler se machucou na temporada de 1979, quando pilotava na Ligier, a revista italiana Autosprint chegou a publicar que um dos nomes cogitados para substitui-lo teria sido o de Wollek (Ickx acabou sendo contratado). Não sei quanta verdade havia nisso, a Autosprint na época tinha uma proclividade para criar estórias, inclusive colocavam Emerson Fittipaldi na Ferrari umas três vezes por ano...

Só sei que Wollek nunca correu na F1, porém, mais do que atingiu seu objetivo de 1970. Queria estar no Top 15 dos protótipos, porém, com certeza, enquanto correu foi um dos principais pilotos de protótipos do mundo, em alguns anos com certeza no Top 3.

Uma das notáveis exceções à regra.

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