Grids minguando

Causou muita consternação a recente corrida de Fórmula 3 em Brasília, que contou com somente seis carros no grid.

Se por um lado é trágico que a F-3 brasileira (ou sul-americana) esteja obviamente morrendo, por outro lado, a categoria se tornou disfuncional (algum dia destes escrevo sobre o assunto), daí o insucesso quantitiativo, e grids pequenos não são uma ocorrência tão rara no automobilismo brasileiro - ou mundial.

Corridas com seis a dez carros eram razoavelmente frequentes nos inícios do automobilismo em nosso país. Lembro-me de diversas ocorrências, algumas relatadas com requintes de GP nas páginas de nossas revistas especializadas da época, tão carentes de pauta, que literalmente, chegaram a fazer artigos sobre corridas de rolimã (não estou mentido, quem leu sabe que falo a verdade). Uma corrida em Fortaleza, na era pré-autódromo, contou com meros cinco carros, 3 dos quais terminaram a prova. Outra em Natal, em 1965, também teve pouquíssimos carros. De modo geral, o torneio Norte-Nordeste de Fórmula VW 1300 de 1979, 1980, contava com menos de cinco carros no grid. Mesmo a primeira corrida válida para campeonato brasileiro realizada no Nordeste, a etapa de D-3 realizada em Fortaleza em 1974, contou com um minguado grid na prova dos carros com mais de 1600 cc, se não me falha a memória, seis carros. O público não se importou, o que importa é que viram ao vivo os Mavecos da Hollywood e Greco.

Não foi só no nordeste que isso ocorria. De fato, as últimas corridas da Divisão 4 no Brasil foram disputadas com pouquíssimos carros. A primeira prova do Brasileiro de Fórmula Ford de 1974, realizada em Interlagos, teve menos de 10 carros, e no ano inteiro, os grids não passaram de 13. Este também foi o número médio de carros nas provas do último campeonato brasileiro de Fórmula VW 1600 em 1980, que chegou a ser chamado de "Fórmula 1 brasileira", e cuja última etapa de 1975 contou com nada menos do que 41 carros no grid!

A etapa de Cascavel do primeiro campeonato brasileiro de Stockcar, em 1979, teve um número pequeno de participantes, neste caso por causa de um motim entre diversos dos participantes. Para fazer um grid que tornasse a corrida válida, foi inscrito inclusive um Opala standard com ar condicionado.

As últimas corridas de Mecânica Continental no Brasil em 1966 tiveram poucos bólidos da pista, menos de seis, e o mesmo pode ser dito das únicas corridas de Fórmula Brasil realizadas em 1970. A prova Tufic Scaiff, realizada em Interlagos em 1970, teve somente oito carros, alguns de péssima qualidade.

Nosso primeiro GP de F1 em 1972 teve somente 12 carros na pista, apesar de reportagens anteriores à corrida insistirem que os grids estariam cheios. De top mesmo, só Emerson com a Lotus.

A categoria superior da Divisão 3, carros com mais de 3 litros, quase sempre teve aproximadamente seis representantes no grid. De fato, no último ano em que os big-bangers correram, em 1976, houve ocasiões em que o número era inferior a meia-dúzia, e até um Dodge 1800 correu na categoria B! O fato só ficava ofuscado (perdoem o trocadilho), pelo grande número de Fuscas na pista.

Diversas provas de campeonatos estaduais de SP, PR e RS, de diversas categorias como Fórmula Ford e Divisão 4 foram realizadas com grids minúsculos.

Isso não é privilégio do nossso país tupiniquim. Fora do Brasil, o maior fiasco de todos foi o grid de seis carros no GP dos EUA de 2005, causado pela retirada de todos os carros com pneus Michelin, que provavelmente casuou a saída da empresa francesa da F1 e o final da prova em Indy. Porém, o GP da Argentina de 1958 teve somente dez carros, e o da França, de 1969, meros treze. Não vou falar de corridas nos anos 30 para baixo, pois são muitas com grids nanicos.

Corridas de outros Campeonatos Mundiais tiveram grids murchos. Duas provas do Campeonato Mundial de Carros Esporte de 1977, em Estoril e Salzburgring, tiveram somente oito carros no grid, isto porque a Alfa-Romeo fez o grande favor de inscrever três carros nas duas corridas. O campeonato mundial  de Carros Esporte de 1992 foi de modo geral um fiasco. A primeira prova teve um fraquíssimo grid, com menos de dez carros, e no resto do ano, a coisa não melhorou. Naquele ano, nem Le Mans, que frequentemente tinha mais de 50 carros na largada, escapou. Somente 28 carros largaram na grande corrida.

O início do campeonato britânico de Fórmula 3 de 1974 foi patético. Houve corridas em que os grids incluíram carros de F-F, para não passar vergonha. Até mesmo o DRM, campeonato alemão de Grupo 5, o principal campeonato alemão dos anos 70 e 80, e mais importante campeonato de Grupo 5 fora do mundial de marcas, tinha grids pequenos, de aproximadamente sete carros, nas corridas dos carros da classe B, que corriam separados da classe com carros com motores até 2 litros.

Uma corrida do Europeu de F2 de 1973 teve um grid anão, a de Kinnekule, com 9 carros. E no final da Formula 5000, poucos carros acabavam largando nas corridas. Centenas, senão milhares de provas de clube na Inglaterra e Estados Unidos, foram realizadas com grids pífios.

Portanto, houve um certo exagero na reação de algumas pessoas. Não é um bom indício, porém, se levarmos em consideração que o tradicional campeonato britânico de F-3 tem tido grids de 12 carros com bastante frequência nos últimos anos, chegamos à conclusão de que o problema vai um pouco além das nossas fronteiras.
 


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