A Silly Season do Desespero

Este ano é a silly season do desespero, pelo menos para os brasileiros.

Para o Raikkonen e Ricciardo tudo terminou bem, para o resto, a coisa pode ficar ruça. Principalmente para os brasileiros.

Primeiro, quero desfazer um mito. A imprensa brasileira não é a única que só focaliza nos seus ídolos, ou candidatos a ídolos, mesmo quando estes estão longe de ter um excelente desempenho, e na realidade, estão fazendo feio. A imprensa italiana é a mesma coisa, e também a francesa, inglesa, alemã, etc. Portanto, assim como a corrupção não é um fenômeno meramente brasileiro, como muitos creem, este excesso de ufanismo automobilístico também não é monopólio brasileiro.

Para o Brasil, estamos numa situação sui generis desde que Emerson Fittipaldi se tornou piloto da Lotus no GP da Inglaterra de 1970 - a possibilidade de não haver sequer um piloto brasileiro no grid em 2014.

Muito já se escreveu sobre os fatores que levaram a tal situação, etc. Eu mesmo já escrevi diversas vezes sobre este assunto, aliás, já alertava sobre a possibilidade de uma F1 sem brasileiros há muitos anos atrás.

Agora, pode ser que esse dia chegou.

Entretanto, o que se vê todo dia é uma enxurrada de hipóteses e boataria, que provavelmente nada teem a ver com a realidade.

Vou repetir mais uma vez. Na silly season, tudo mundo conversa com todo mundo, principalmente quando vaga um lugar interessante na F1. mesmo que seja para desviar a atenção da realidade. No caso deste ano, a vaga da Red Bull colocou o mercado em polvorosa, e a ida de Raikkonen para a Ferrari gerou uma vaga na Lotus, uma equipe quase de primeira.

Para os brasileiros, a má notícia foi a já esperada demissão de Felipe Massa na Ferrari. Antes de entrar no assunto, devo dizer que a Autosport inglesa tratou o fato com bastante lisura, dizendo inclusive que Massa poderia sair da Scuderia com a cabeça erguida. Massa teve três tempos diferentes na Ferrari - seus três primeiros anos, com muito sucesso, excedendo a todas expectativas, o ano de 2009, no qual o carro estava bastante inferior na nova ordem da F1 (as novas Brawn e Red Bull dominaram) e no qual teve seu terrível acidente, e a terceira fase, na qual o piloto penou. A meu ver - e sei que muitos discordam - ocorreu com Massa o mesmo que ocorreu com Graham Hill em 1969. Até aquele ano, Hill era piloto de ponta, tendo inclusive ganho seu último GP em Monaco em 69. Após o acidente em Watkins Glen, Hill nunca mais foi o mesmo, apesar de passar dois anos como primeiro piloto da Brabham. Mancou o resto da vida, e na F1 passou de campeão em 1968 a backmarker em poucos anos. Graham ainda era suficientemente rápido para ganhar Le Mans, o Grande Prêmio da Loteria de Monza de F2, ambos em 1972 e o Daily Express Trophy, prova de F1 não válida para o campeonato, em 1971.  Porém, na F1, perdeu a competitividade.

Bons resultados em corridas se obtém número um, não quebrando, número dois, com bom ritmo e consistência nas corridas e não aliviando nas curvas. O piloto que breca cinco metros mais cedo do que os outros, vai ficar diversos segundos atrás na chegada e nunca vai ganhar GPs, onde os pilotos de ponta desempenham 100%. Massa nunca mais voltou a ter 100% de desempenho depois do seu acidente, no máximo, chegou a 99%, insuficiente quando há feras como Hamilton, Alonso, Raikkonen, Vettel e Button na pista. O suposto boicote da Ferrari é risível. A Ferrari dependia dos pontos de Massa para obter milhões de dólares no mundial de construtores, e o brasileiro simplesmente não tem feito sua parte.

Hoje nossa ufanista imprensa comemora um sexto lugar de Massa como se fosse grande coisa. Cabe lembrar que na maior parte da história da categoria, o sexto posto dava direito a um único pontinho, e ninguém poderia almejar a muita coisa obtendo um pontinho diversas vezes por ano. Por exemplo, Denis Hulme, que acumulou diversos 6os. lugares em 1974.

Porém, a Autosport homenageou Massa pelos seus três primeiros anos de Ferrari, e com muita razão. Nestes três primeiros anos, Massa acumulou nada menos do que 11 vitórias, um bom número de poles e melhores voltas, e de fato, somente Niki Lauda e Michael Schumacher tiveram desempenho superior nos seus três primeiros anos de Scuderia. O desempenho de Massa, pelo menos em total de vitórias, foi superior ao do muito propalado Alonso, por exemplo. Considerando-se que em dois dos seus três primeiros anos Massa era o óbvio segundo piloto, temos então uma performance para lá de excepcional. Infelizmente, quis o destino que Massa perdesse o campeonato de 2008 na última curva, e que no ano seguinte sua carreira tomasse um rumo negativo.

Na realidade, nunca na história da Ferrari a equipe teve tanta paciência com um piloto com desempenho inferior. Por muito menos Ivan Capelli foi mandado embora após o primeiro ano na Scuderia, e que eu me lembre, somente Michele Alboreto chegou perto da marca de Massa, após fracas temporadas em 1986 a 1988. A Ferrari simplesmente manda embora pilotos fracos, sem qualquer dó.

Daí à imprensa brasileira chegar a sugerir que a McLaren estaria interessada no nosso conterrâneo, acho um pouco difícil de engolir. Isto por que o empresário de Massa disse enfaticamente que seu pupilo só entraria numa equipe para ser número 1, e é um pouco difícil imaginar que a McLaren iria dar o primeiro posto para Massa, tendo Jenson Button na equipe.

É bem verdade que experiência contará bastante num ano de transição para um regulamento novo, mas suspeito que não tanto. Porém, muitos no Brasil parecem acreditar que somente pilotos brasileiros são bons acertadores de carros. De fato, esta estória persiste desde os tempos de Emerson...Há outros pilotos no mercado, de repente com mais fome do que Felipe, apesar de ter menos experiência.

Assim, acho que na hora H, a Lotus contrataria Hulkemberg, o maior candidato a crescer na F1 atual, e com experiência já razoável. Para Massa sobraria a Sauber e, quem sabe, a Williams. Para quem diz querer lutar por vitórias, nem uma nem outra opção são grande coisa. Depois de um 2012 razoável, ambas equipes tiveram temporadas horríveis em 2013, principalmente a Williams, que ganhou um GP em 2012. Há também a questão de patrocinadores russos para a Sauber, que obviamente desejam trazer um piloto russo para a equipe.

Sendo assim, infelizmente não vejo muitas opções viáveis para Massa. Para entrar na Williams e na Sauber, terá que trazer muito patrocínio, e quem sabe o mesmo ocorra até na Lotus. Há também uma possibilidade na Force-India, que parece também querer grana.

Os rumores chegam á beira do ridículo, pois um blog hoje sugeriu que Rubens Barrichello estava sendo cogitado como possível piloto da Sauber!!! De novo, concentram-se nos grandes dotes de acertador do brasileiro. Infelizmente, grande parte do acerto de carros hoje em dia é feito por engenheiros, o heroico piloto acertador do passado não é grande vantagem como dizem alguns que parecem ainda viver nos românticos anos 70.

Supostamente, Rubinho traria grandes patrocinadores. Isto obviamente poderia abrir um lugar na Sauber, que desde a saída da BMW da F1 vive dias conturbados na sua contabilidade. Resta saber se o interesse é verdadeiro, ou se é somente mais um rompante de nacionalismo misturado com desespero com D maiúsculo. Rubinho diz que só precisa exercitar o pescoço. Porém, resta na memória uma temporada somente razoável na Indycar em 2012, e nada de muito conclusivo na Stockcar brasileira. Que me desculpem meus queridos conterrâneos, acho um pouco difícil que, com um número razoável de pilotos bons no mercado, como Kamui Kobayashi e Heikki Kovalainem, com algo a provar, que os team managers estariam dispostos a trazer Rubinho de volta, cujo ciclo já passou.

Seria eu antipatriótico, apátrida, anti-brasileiro? Não, sou realista.

Os rumores também chegaram a mencionar uma volta triunfante de Nelson Angelo Piquet à F-1, ou uma bombástica contratação de Felipe Nasr, ou que Luiz Razia voltasse como um fênix.

Vamos por partes. Quanto a Piquet, esqueçam. Nunca mais volta à F1.

Felip Nasr é a grande esperança do Brasil. Iniciou bem o campeonato de GP2 deste ano, porém, num campeonato sem nenhum Hamilton ou Rosberg, não conseguiu uma única vitória. Não creio que já entrou na lista negra dos team managers, porém, tem que provar mais consistência e ganhar corridas na próxima temporada.

Razia conseguiu o vice-campeonato da GP2 em 2012, e por pouco não entra na Marussia. Como disse no começo do ano, teria jogado dinheiro fora. A Marussia, como sua predecessora Virgin, está longe de ser uma catapulta para o sucesso, pelo menos para pilotos sem "esquema". Jules Bianchi está no esquema Ferrari, portanto, tem metade de um futuro garantido. Razia estaria brigando pelos últimos lugares, e depois desta temporada, provavelmente entraria para o grande número de notas de rodapé da categoria maior do automobilismo. Com suas vitórias e vice-campeonato na GP2, acho que o baiano até fez muito.

Isto me leva ao próximo ponto. Dizem alguns blogueiros e jornalistas especializados que Bernie Ecclestone estaria se mobilizando, melhor, se empenhando para que haja um brazuca no grid no ano que vem. Supostamente, Bernie não quer perder o GP do Brasil. Desculpem por mais uma dose de realismo, com 22 corridas no calendário, a F1 pode dispensar uma ou outra corrida, mesmo um dos GPs mais antigos do calendário, o brasileiro. Afinal de contas, a França é o berço do automobilismo, país onde fica a sede da F1, com quatro pilotos no grid deste ano, uma grande montadora fornecedora de motores e país do presidente da FIA e está fora do calendário, há já um tempo. Entre outra risíveis razões, menciona-se o fato de Bernie ter esposa brasileira, e ter certo xodó por ter criado o GP brasileiro (?) (onde fica o Scavone nesta história???). Primeiro Bernie é um cara para lá de pragmático, não dado a sentimentalismos baratos ou caros. Se o cara não fez nada para salvar a Brabham, que o deslanchou na F1, e estava se lixando para a permanência do GP Britânico há alguns anos atrás, acho que seu suposto interesse no ângulo brasileiro é uma ficção. O que ele disse é que a emissora que transmite as corridas, RGT, a maior interessada, deveria se mobilizar para manter um brasileiro na F1. Ou seja, passou a bola para outro.

Em síntese, a melhor possibilidade ainda é a possível permanência de Massa na F1, numa equipe secundária, nada de Barrichello, Razia, Piquet ou Nasr.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo

Comentários

  1. Carlos, dois ou cinco metros depois o fato é que hoje, e acho que nunca, uma equipe teve 20 segundos para desperdiçar em uma corrida e é o que acontece com o brasileiro da Ferrari, caso não tenhamos nenhum brasileiro este ano acredito que vai demorar muito até termos outro, ou nunca mais!

    Um abraço meu amigo.

    ResponderExcluir
  2. Concordo meus amigos. O Brasil não é mais a bola da vez. Não somos mais o país do futebol e muito menos da F1, robotizada de hoje. Agora só vale O " Money" direto ou indireto, para que o show continue. O romântico tempo já passou e levou com ele nossos sonhos. Para o Massa é hora de voltar pra casa... é possível que a ficha demore um pouco a cair e ele desperdice dinheiro bom com alguma equipe tenebrosa, e ofereça seu nome para ser menosprezado pela mídia. Quem viver, verá.

    ResponderExcluir
  3. Sobre o GP é rentável, se não for o mais rentável para a f1 hoje. não se pode negar isso. Diferentemente da frança que sofre recessão, o brasil ainda consegue manter-se. O Gp frances é fálido, o brasileiro ainda não. De resto concordo.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O taxista de São Paulo, e muito disse não disse

RESULTADOS DE CORRIDAS BRASILEIRAS REMOVIDOS DO BLOG

DO CÉU AO INFERNO EM DUAS SEMANAS - A STOCK-CAR EM 1979