Por que a Indycar não vai para a frente

Confesso que prefiro a Indycar em detrimento da NASCAR, porém, apesar da minha preferência, devo dizer que a Indycar ainda está em crise. Existem diversas razões, algumas relacionadas a liderança, outras relacionadas a questões administrativas e intestinas, mas a meu ver, o maior problema é de uma natureza mercadológica.

Quando cheguei nos EUA, em 1976, a Fórmula Indy era gerida pela USAC. As corridas não eram tantas, porém, existiam três provas de 500 Milhas, incluindo a Indy 500. A USAC herdara o ex-campeonato nacional da AAA nos anos 50, e o campeonato de Indycar ainda era considerado um campeonato nacional americano de automobilismo. E havia muitos ídolos, populares veteranos que competiam na categoria há diversos anos - A.J. Foyt, Mario Andretti, Al Unser, Bobby Unser, Wally Dallenbach, Gary Bettenhausen, Johnny Rutherford, Gordon Johncock, Billy Vukovich, Roger McCluskey. Pouquíssimos estrangeiros.

Hoje em dia, a Indycar tem poucos veteranos. Helio Castroneves, Tony Kanaan, Sebastien Bourdais, Dario Franchitti e Scott Dixon. Todos estrangeiros.

Começa aqui a grande desvantagem da Indycar no mercado americano. A NASCAR, ao contrário da Indycar, conta com diversos veteranos com uma sólida torcida. Alguns, como Terry Labonte e Mark Martin, datam da década de 80, ao passo que Bill Elliott, que ainda não decidiu se já se aposentou, estreou na longínqua década de 70. Todos americanos.

Ou seja, para o americano, a NASCAR se tornou o verdadeiro campeonato americano de automobilismo, apesar da presença de um ou outro piloto estrangeiro, como Montoya e Ambrose. É verdade que o campeão da Indycar do ano passado foi um americano, porém, o grid ainda contém mais estrangeiros do que pilotos do país.

A Indycar hoje está para a série Can Am dos anos 60 até 1970. Esta foi dominada por pilotos estrangeiros nas suas primeiras edições, até Peter Revson ganhar a edição de 1971. Era uma série de elite, seguida por torcedores mais sofisticados. Porém na época, os americanos mesmo gostavam era da USAC, e muitos já tendiam para o lado da NASCAR.

Posso gastar dezenas de milhares de palavras para discutir o porque dessa transição. Porém,  importa frisar que o mercado esportivo americano tem sido, e basicamente continua, xenófobo e insular. Praticam-se aqui alguns esportes sem muitos adeptos no resto do mundo. O beisebol, popular em diversos países, tem uma final de campeonato chamada World Series (Série Mundial), embora times de outros países não compitam. O futebol americano é um esporte basicamente praticado somente nos EUA, pelo menos em nível altamente profissional. Uns dirão, mas há jogadores estrangeiros tanto no beisebol como no basquete. É verdade. Porém os ídolos são americanos.

Outra coisa, nesses outros esportes, o torcedor torce por times, times americanos. No automobilismo basicamente não se torce por equipes, com exceção da Ferrari. Duvido que haja fãs da Ganassi, da Andretti Motorsport ou mesmo da Hendricks.

Sendo assim, a Indycar se tornou um esporte com um nicho muito reduzido, pelo menos em comparação com a NASCAR. Muitos pilotos que competem na Indycar neste ano não estarão de volta no ano que vem, assim como muitos que correram no ano passado já não estão no grid neste ano. E tem sido assim há muito tempo.

O fato de a Indycar ter se tornado uma monomarca (de chassis) não ajuda muito. Nos anos 70, havia uma grande variedade de construtores de carros de Fórmula Indy. O calendário inclui e exclui pistas anualmente. Há muita inconstância.

O apelo da Indycar é reduzido, atualmente, por causa destas razões e algumas outras que não serão discutidas aqui. Podem trocar de CEO, de administração, porém, os problemas são mais sérios, e de difícil solução.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami

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