Editora Abril ou Editora Fechou?



Como eterno amante da palavra escrita, a Editora Abril fez parte importante da minha vida até minha saída do Brasil. Além das revistas, minha família colecionou diversas enciclopédias em fascículos, como o Conhecer, Grandes Personagens da Nossa História e da História Universal, entre outros.

Era ávido leitor da inocente Revista Recreio, que chegávamos, eu e meu irmão, a esperar na banca.

E depois veio a Quatro Rodas. Quando comecei a seguir o automobilismo, a QR era uma das duas únicas opções viáveis para seguir o esporte, e enquanto estive no Brasil, ainda cobria o automobilismo de competição decentemente, embora não brilhantemente. Depois, virou esse troço. A cobertura das competições atualmente chega a ser anedotal, e o turismo também se foi das suas páginas rapidinho. Como ler sobre os carros que são comercializados no Brasil não me interessa muito na atualidade, confesso que nem lembro a última vez que comprei uma QR.

Tinha também a Veja, a Realidade. A primeira era um colosso, realmente uma resenha dos acontecimentos da semana e muitas reportagens legais. Até os anúncios eram show de bola. Durante muito tempo, já nos EUA, foi a minha maior conexão com o que estava acontecendo no Brasil, pois a revista também cobria bem tendências. Depois veio a internet, e a revista foi minguando, minguando...Hoje parece um folheto, de tão magrinha. Dá dó. E ficou também um pouco chata, embora a Vejinha ainda cubra bem tendências. A Realidade, na realidade não durou muito.

Não posso me esquecer também da Revista Pop, que colecionei durante muito tempo. Nela aprendi bastante sobre o rock, acho que até me preparou para vir aos EUA, pois a revista certamente tinha uma “pegada” americana. Foi lá que tomei conhecimento de uma infinidade de bandas, até mesmo circulavam com discos de vinil mole. Tinha também algumas fotos pseudo-picantes das cocotas da época, que aguçavam a curiosidade de adolescentes como eu.

Também fui contumaz consumidor da Revista Placar, que além do futebol, cobria outros esportes, inclusive meu querido automobilismo. De fato, o automobilismo era o único esporte além do futebol a ter uma seção constante na revista. Outros tempos. Com o meu time do coração Santos F.C. ficando cada vez mais chulé, com Totonho e Toinzinho entre seus principais astros, lá por volta de 1976 já tinha parado de comprar a revista.

Das revistas acima, sobraram a Placar, a QR e a Veja, mas a minha história de amor com a Editora Abril tinha mais a ver com o Pato Donald. Incidentalmente, foi essa revista a primeira a ser editada pelos Civita no Brasil, em 1950, e, francamente, os gibis da Disney eram os únicos produtos da Abril que ainda me interessavam. Sempre que alguém voltava do Brasil, ou quando passava pelo país, comprava dezenas dos gibis não só do Pato, como da galera toda. Acabou-se a alegria, pois a Abril parou de editar os gibis, da noite para o dia.

Num país de lava-jatos, balas perdidas e caminhões na estrada, além das Anittas e Pablo Vittars da hora, obviamente a interrupção da edição das revistas Disney no Brasil tem uma  baixa prioridade midiática. Não que a imprensa tenha deixado de comentar o assunto, mas o fez de uma forma nada bombástica.

Imagino que as revistinhas já não vendessem tanto, e que o retorno fosse bastante baixo. Entretanto, isso não explica o grande número de títulos Disney comercializados nos últimos tempos. Na minha época só tinha o Pato Donald (alternando com Zé Carioca), Tio Patinhas, Mickey a Almanaque Disney. Hoje, além destes, havia revistas do Pateta, da Minnie, mil especiais diferentes, gibis de 800 páginas, além de livros encadernados, de coleção, nada baratos para o padrão brasileiro (até 50 reais). Ou seja, não fez muito sentido a Editora Abril parar de publicar os quadrinhos.

Imagino que as crianças modernas, mais interessadas em vídeo-games, internet e celulares, não nutram o mesmo carinho que eu tenho, até hoje, pelas revistinhas Disney. Estas eram geralmente acondicionadas nos recônditos mais escondidos das bancas, o que provavelmente indica uma demanda não muito extravagante. Podem ser outras razões, questões internas da Abril, ou entre a Abril e a Disney. Como o mercado brasileiro é muito importante para o parque temático de Orlando, e as revistinhas, queiram ou não, ajudavam neste marketing, acredito que já exista uma outra editora encaminhada para voltar a publicar os quadrinhos. Pelo menos, essa é minha esperança, o Pato Donald é duro na queda...

Com relação à Editora Abril, perdoem-me o trocadilho, virou Editora Fechou. Acabou. Nada mais do que ela produz realmente me interessa.  É como se tivesse fechado para mim, para sempre.

E antes que me critiquem, sei que "abriu" se escreve com  U, não com L. Tratem como liberdade poética.

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